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06/11/2000 - 08h13

"Gore vê o Brasil como parceiro em interesses mútuos"

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MARCIO AITH
da Folha de S.Paulo

Amigo de infância de Bill Clinton e ex-chefe de gabinete do presidente, o advogado Thomas "Mack" McLarty ingressou na campanha do vice-presidente Al Gore como assessor especial para a América Latina.

Durante o governo Clinton, McLarty foi peça-chave nas negociações para a aprovação do Nafta (a área de livre comércio entre Canadá, EUA e México) e na formulação da posição norte-americana para o Encontro das Américas, em Santiago do Chile.

Em 1997, Clinton o nomeou como o primeiro enviado especial da Casa Branca para as Américas, encarregando-o da execução de políticas para o continente. McLarty é consultor privado e sócio do ex-secretário de Estado Henry Kissinger na empresa Kissinger McLarty Associates, em Washington.


Folha - Por que Al Gore na Casa Branca beneficiaria mais a América Latina e o Brasil do que George W. Bush? De que forma o governo de Bill Clinton, do qual Gore faz parte como vice-presidente, melhorou a vida dos povos latino-americanos?
Mack McLarty - Al Gore provou seu compromisso e seu apoio à América Latina. Ele conhece a região e a crescente agenda bilateral entre o Brasil e os EUA. Entende o papel cada vez mais influente do Brasil no continente e vê o país como um parceiro em interesses mútuos como democracia, estabilidade, prosperidade e comércio livre. Gore trabalhou para a aprovação do Nafta e para a assistência financeira ao México durante a crise do peso.

Também mostrou liderança em assuntos continentais e ambientais no Encontro das Américas de Santa Cruz, na Bolívia. Acima de tudo, Gore esteve ao lado do presidente Clinton quando o Brasil desvalorizou o real e os EUA aprovaram, em tempo recorde, um pacote de ajuda ao Brasil.

Folha - Durante a campanha, Bush fez um discurso específico sobre a América Latina e enfatizou a importância da região em diferentes ocasiões, enquanto Gore não fez nenhuma referência específica.
McLarty - Isso não é verdade. Todos sabemos que, durante eleições apertadas como esta, muita retórica será usada por ambos os candidatos. É importante diferenciar retórica de fato, e o fato é que os compromissos de Gore com a região são muito maiores. Como governador de um Estado (Texas) de fronteira, Bush conhece os assuntos relacionados com o México, mas teve pouca exposição às Américas Central e do Sul.

Folha - Gore defende abertamente o uso de padrões trabalhistas e ambientais em acordos internacionais de comércio. Segundo países em desenvolvimento, trata-se de uma estratégia protecionista para defender empresas norte-americanas. Por que deveríamos acreditar que Gore favoreceria o Brasil em termos comerciais?
McLarty - Entendo a crítica, mas discordo de que padrões trabalhistas e ambientais possam ser usados como desculpas protecionistas. Há certas práticas inaceitáveis num mundo moderno e responsável, como o uso do trabalho infantil e de salários baixos para atrair investimentos.

O objetivo do livre comércio é elevar o padrão de vida dos povos, não submeter indivíduos à deterioração de seu ambiente de trabalho e de suas vidas. Assim como direito do consumidor e política ambiental, esses assuntos tendem a aparecer em quaisquer negociações. O desafio será enfrentá-los de uma forma efetiva, com a qual todos os partidos concordem.

Folha - A administração Clinton-Gore frequentemente acusa o Brasil de não se interessar pela Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e classifica o Mercosul como um obstáculo à consolidação da Alca. Qual é a avaliação de Gore?
McLarty - O governo Clinton tomou todas as medidas para fortalecer a iniciativa do Mercosul. Al Gore entende claramente o papel do Mercosul como um bloco construtivo para o comércio livre das Américas.

Folha - Acredita-se que, com Gore na Presidência dos Estados Unidos, a Alca caminharia a passos lentos por causa de seu vínculo com os sindicatos e as entidades ambientais. É verdade?
McLarty - Não. A velocidade de implementação da Alca depende da habilidade de o novo presidente obter o "fast track" do Congresso (mecanismo que dá poderes ao presidente norte-americano de fechar acordos de comércio sem que o Congresso possa emendá-lo, aprovando-o ou rejeitando-o em bloco). O "fast track" será também definido pela nova composição do Legislativo.

O próximo presidente terá de unir democratas, republicanos e grupos afetados pelo comércio externo, como os sindicatos e as entidades ambientais. Gore é o candidato mais indicado para construir um consenso. Sua experiência com assuntos ambientais e trabalhistas prova sua capacidade de lidar com eles em futuras negociações de comércio.

Folha - Diante das ligações de Gore com sindicatos, qual é seu interesse real de levar a Alca adiante?
McLarty - Gore está comprometido com a Alca. Ele ajudou a criar e a realizar o Encontro de Miami, em 1994, que pela primeira vez reuniu 34 países democráticos no continente. O encontro estabeleceu o modelo de futuro para as relações continentais, um modelo baseado na cooperação em vez da coação. Domesticamente, ele é o candidato mais indicado para formar um consenso. Sua ênfase em assuntos ambientais e condições de trabalho decentes prova sua capacidade de negociar acordos.

A atual administração conquistou mais em termos de comércio internacional do que qualquer pessoa poderia imaginar em 1992. Esta administração bateu um recorde em termos de acordos de comércio e acordos bilaterais. Aprovou as relações comerciais permanentes com a China, o Nafta e a Iniciativa para o Caribe.

Folha - Qual dos dois candidatos, caso eleito, adotaria uma postura mais intervencionista na América Latina?
McLarty - Gore propõe um engajamento construtivo dos EUA no mundo, que respeite a soberania e a responsabilidade de países na região. Ele entende que um país democrático e livre fornece os elementos básicos para melhores padrões de vida. Acredito que Gore e o governo brasileiro estão juntos quando se trata de auxiliar um país vizinho a manter seu caminho democrático e institucional.

Folha - Gore seria favorável à transformação da Amazônia numa área de preservação internacional?
McLarty - Gore respeita a soberania brasileira sobre o Amazonas e nunca diria o contrário. Além disso, está comprometido com a proteção ambiental e entende que há sempre um dilema ético: devemos pensar no futuro ou apenas resolver os problemas do presente? Ele está pronto para ajudar o Brasil e seus vizinhos a proteger florestas tropicais, sob seus próprios termos.


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