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09/11/2000 - 12h43

A imprensa mundial se diverte com a confusão nas eleições dos EUA

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da France Presse
Paris (França)

A imprensa mundial não pôde deixar de ironizar e também mostrar preocupação esta quinta-feira ante os rumos tomados pelo processo eleitoral dos Estados Unidos em função da série de equívocos cometidos pelas cadeias americanas de televisão na divulgação dos resultados.

Os principais jornais russos dedicaram suas primeiras páginas à eleição presidencial norte-americana, afirmando, em um tom irônico, que a mesma mais parece "um drama digno de Hollywood" do que um acontecimento político.

"Os principais candidatos têm programas praticamente idênticos e as eleições nos Estados Unidos deixam pouco a pouco de ser um acontecimento político para passar ao terreno do show business", disse esta quinta-feira o jornal econômico Kommersant.

As eleições nos Estados Unidos se transformaram em "um drama extraordinário, quase hollywoodiano", afirmou por sua vez o jornal Vremia MN, que deu o seguinte título na primeira página: "Estados Desunidos da América". "A prosperidade econômica sem precedente permitiu aos norte-americanos não dar importância a 'detalhes' como as convicções políticas e econômicas dos candidatos ou até mesmo se eles ainda pertencem ao mundo dos vidos", ironizou

Vremia Novostei, em referência a Mel Carnaban, governador democrata do Estado de Missouri, falecido há três semanas mas assim mesmo eleito como senador.A China, que havia felicitado ontem George W. Bush por sua eleição para a presidência dos EUA, depois das notícias divulgadas por várias emissoras de televisão americanas, recuou hoje em sua posição, informando que agora vai esperar pelo resultado oficial para se pronunciar.

O Diário do Povo deu uma informação neutra, sem demonstrar preferência por nenhum dos candidatos. Em particular, os funcionários chineses não ocultam que preferem Al Gore devido ao fato de Bush causar preocupação quanto a temas como a defesa e Taiwan.

A imprensa britânica se mostrou divertida e um tanto preocupada com a guinada das eleições norte-americanas. "Foi uma paródia de democracia", disse o Times, preocupando-se com os 'caprichos' do sistema eleitoral norte-americano, que pode fazer com que um candidato com uma maioria de votos (o democrata Al Gore) possa derrotar o republicano George W Bush, que ganhou em mais Estados.

"Os Estados Unidos podem estar à beira de sua mais grave crise política desde Watergate", assinala o Times.Por sua vez, o Daily Mirror estimou que "a maneira como os resultados foram divulgados e depois retirados é digna de uma república de bananas".

Por sua parte, o caricaturista do Daily Telegraph mostra um apresentador norte-americano de TV dizendo: "Os últimos resultados que recebemos indicam que 49,5% de tudo o que foi dito é porcaria".

A imprensa francesa, por sua vez, foi unânime em questionar o "incrível suspense" que paira sobre a eleição presidencial americana, com observa o jornal Le Parisien (popular).

"Tramóia americana", é a manchete do Liberation, para o qual "depois de 24 horas férteis em altos e baixos, a confusão continua reinando a respeito da identidade do presidente de Estados Unidos número 43".

"Bush-Gore, Estados Unidos fazem durar o suspense", destaca Le Figaro (conservador), que fala de uma "espera interminável". La Croix (católico) publicou um grande sinal de interrogação em meio à foto dos candidatos à Casa Branca.

La Tribune (finanças) destaca que os Estados Unidos são vítimas de "quatro anos de paralisia", enquanto que o também jornal econômico Les Echos evocam "Estados Unidos no empate".

Inúmeros editoriais não deixam de destacar 'a limitação' do sistema eleitoral americano, como é o caso de L'Humanité (comunista).

"Sem esta relíquia (o sistema em questão) da época do Velho Oeste, de Buffalo Bill e do trem a vapor, o presidente dos Estados Unidos já seria conhecido: Al Gore".

A imprensa belga também questionou a 'fragilidade' do futuro presidente dos Estados Unidos resultante de eleições tão disputadas e destacou a necessidade de uma reforma do sistema eleitoral nesse país.

"A confusão em torno da contagem dos votos da eleição presidencial, agravada por suspeitas de erros e negligências na Flórida, acentua a impressão de fragilidade do poder que se constituirá em Washington", afirma La Libre Belgique.

O jornal acrescenta que a eleição presidencial norte-americana questiona também "o funcionamento da democracia nos Estados Unidos, o papel dos meios de comunicação e o impacto que tal sistema pode ter na solidez do poder emanado das urnas".

A imprense espanhola evocou "o sagrado poder de um punhado de votos" que impediu a escolha do presidente americano. "É democrático que o Governo da nação mais poderosa do planeta, com 300 milhões de habitantes, possa depender do punhado de votos de uma minúscula parte da população da Flórida? É democrático que o próximo presidente dos Estados Unidos possa ser proclamado provavelmente com 177.000 votos a menos que seu adversário?", questionou o jornal liberal El Mundo.

"Ambas perguntas têm a mesma resposta: é democrático, por mais chocante que pareça", conclui o jornal no editorial. "Ganhar uma eleição em uma democracia por um único voto é igual que vencê-la por dez milhões", recordou El Mundo.

Qualquer que seja o resultado final das eleições, comenta, por sua vez, El País, o democrata Al "Gore poderá esgrimir o honroso, mas insuficiente título de ter sido o candidato que obteve mais votos na história dos Estados Unidos".

A imprensa italiana mostrou-se desorientada hoje com a 'incrível' eleição presidencial norte-americana e dividida entre ironia e preocupação ao descrever a situação política em que se encontra a primeira potência mundial. "Por um punhado de votos" foi o título de primeira página do jornal La Repubblica (centro-esquerda), surpreso com o "espetáculo inédito de um país que votou e não consegue saber quem elegeu".

"Não deveriam os Estados Unidos questionar-se sobre a possibilidade de George W Bush chegar à Casa Branca com um número de votos inferior ao de Gore?", perguntou Corriere della Sera, evocando 'um perfume de injustiça' no sistema eleitoral dos Estados Unidos.

Na África, a imprensa da República Democrática do Congo (RDC) debochou dizendo que as eleições americanas podem "dar argumentos aos maus dirigentes e ditadores africanos".

"Se isso acontece nos Estados Unidos, como se pretende que tudo seja limpo e transparente na pobre África", comenta La Reference Plus (diário independente). A imprensa turca ironizou a retirada das felicitações prematuras enviadas a George W. Bush. 'Erro mundial', é o título do jornal Sabah. Para o jornal Radikal, a eleição nos EUA 'é uma comédia'.

Os gregos também foram unânimes em criticar o processo eleitoral americano, considerado envelhecido. A manchete Ta Nea titula "Thriller do velho oeste: por um punhado de votos, o novo chefe do planeta". "Graças aos milagres da tecnologia, às somas incríveis gastas em pesquisas e previsões, aconteceu o ridículo e não temos vencedor".

O Elefthéros Typos afirmou, por sua parte: "Um planeta sem chefe. Os Estados Unidos à beira de uma crise de nervos". Um influente jornal iraquiano classificou de 'peça cômica' a eleição presidencial nos Estados Unidos, estimando que o resultado da votação está nas mãos de 'forças sionistas'.

 

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