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26/11/2000
-
08h21
SÉRGIO DÁVILA
enviado especial a West Palm Beach
da Folha de S.Paulo
O apresentador David Letterman resumiu tudo no seu programa: "Com essa batalha jurídica na Flórida pela Presidência, centenas de advogados do país inteiro estão voando para lá. Será que não está na hora de um outro furacão?". Nunca a "advocracia americana" esteve tão patente.
Afinal, os EUA são a terra em que os romances escritos pelos advogados Scott Turow e John Grisham estão há vários anos na lista dos mais vendidos, "filme de tribunal" é tão frequente que virou um gênero no cinema e o norte-americano médio não consegue dizer quais são os 50 Estados, mas sabe o nome de todos os que defenderam O.J. Simpson.
Eles dominam o cenário da batalha pela Presidência, da arena principal, em que dois times de estrelas da lei lutam por George W. Bush e Al Gore por pagamentos que chegam a US$ 10 milhões, até o dia-a-dia das salas da recontagem de votos, em que os observadores de ambos os lados são invariavelmente advogados.
"O sistema legal americano é o que nos distingue de todos os outros países, nada mais natural do que as ações legais proliferarem nesse caso", diz o ex-governador de Nova York Mario Cuomo. "Há lei para tudo nos EUA, daí o poder dos advogados", concorda Joseph Little, da faculdade de direito da Universidade da Flórida.
As estrelas do imbróglio legal atual são David Boies, do lado do vice de Bill Clinton, que comanda um equipe de 70 profissionais, e Theodore Olson, do lado republicano, com um time do mesmo tamanho.
Boies é o advogado de Hollywood e do esporte e representou recentemente o governo Clinton no processo contra a Microsoft. Olson fez parte do Departamento de Justiça da administração de Ronald Reagan (1981-1989).
Mas é no âmbito local que saem as maiores faíscas entre os lados. O confronto se dá diariamente no Centro de Emergência de Palm Beach, entre o republicano Tucker Eskew e o democrata Dennis Newman, que acompanham a recontagem manual dos votos no condado considerado estratégico.
Eskew, porta-voz da campanha de Bush para os assuntos da Flórida, é o gordinho de língua ácida que volta e meia aparece nas TVs reclamando de tudo. Newman foi presidente da ordem dos advogados do condado de Miami-Dade e é sócio do escritório de advocacia Sale & Kuhene. Ambos falam com os "chefes" diariamente.
Os dois chegam ao limite do intolerável várias vezes por dia, a ponto de o juiz Charles Burton, chefe do comitê eleitoral de Palm Beach, ter mandado um deles mais de uma vez sair da sala para tomar um ar e esfriar a cabeça.
Toda vez que vem fumar um cigarro na entrada e conversar com os repórteres, Burton diz: "Hoje a dupla está acesa!". Num dos diálogos ásperos recentes, Newman fez uma objeção a um voto para ele claramente de Al Gore que foi negado pela comissão.
"A comissão não tem o direito de desqualificar esta cédula", disse. Ao que Eskew replicou: "Quem você está representando mesmo? O Partido pela Libertação do "Chad'?". ("Chad" é o polêmico pedaço de papel que sai da cédula quando ela é perfurada.)
Em outra ocasião, foi a vez do republicano gritar: "Toque nesta cédula, Dennis, e você é um homem morto!".
Mesmo estrelas do caso O.J. Simpson voltam a dar as caras. A analista legal Greta von Susteren, que ganhou fama durante o julgamento do ex-jogador de futebol americano e passou a apresentar o programa "Burden of Proof" (ônus da prova), na CNN, virou celebridade.
Todos os dias, ela dá autógrafos e divide seu tempo entre as cortes dos condados de Palm Beach e Broward e o Supremo, na capital, Tallahassee.
E Alan Dershowitz, o símbolo dos advogados superstars e professor da Universidade Harvard, ofereceu-se para representar de graça o grupo de eleitores de Palm Beach que pede uma nova eleição no condado ou a anulação da atual. Por enquanto, perdeu.
E respondendo à pergunta de David Letterman: segundo o Centro Nacional de Furacões, a atual temporada na Flórida só acaba em 30 de novembro.
Leia mais no especial Eleições nos EUA
"Advocacia norte-americana" está em alta
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enviado especial a West Palm Beach
da Folha de S.Paulo
O apresentador David Letterman resumiu tudo no seu programa: "Com essa batalha jurídica na Flórida pela Presidência, centenas de advogados do país inteiro estão voando para lá. Será que não está na hora de um outro furacão?". Nunca a "advocracia americana" esteve tão patente.
Afinal, os EUA são a terra em que os romances escritos pelos advogados Scott Turow e John Grisham estão há vários anos na lista dos mais vendidos, "filme de tribunal" é tão frequente que virou um gênero no cinema e o norte-americano médio não consegue dizer quais são os 50 Estados, mas sabe o nome de todos os que defenderam O.J. Simpson.
Eles dominam o cenário da batalha pela Presidência, da arena principal, em que dois times de estrelas da lei lutam por George W. Bush e Al Gore por pagamentos que chegam a US$ 10 milhões, até o dia-a-dia das salas da recontagem de votos, em que os observadores de ambos os lados são invariavelmente advogados.
"O sistema legal americano é o que nos distingue de todos os outros países, nada mais natural do que as ações legais proliferarem nesse caso", diz o ex-governador de Nova York Mario Cuomo. "Há lei para tudo nos EUA, daí o poder dos advogados", concorda Joseph Little, da faculdade de direito da Universidade da Flórida.
As estrelas do imbróglio legal atual são David Boies, do lado do vice de Bill Clinton, que comanda um equipe de 70 profissionais, e Theodore Olson, do lado republicano, com um time do mesmo tamanho.
Boies é o advogado de Hollywood e do esporte e representou recentemente o governo Clinton no processo contra a Microsoft. Olson fez parte do Departamento de Justiça da administração de Ronald Reagan (1981-1989).
Mas é no âmbito local que saem as maiores faíscas entre os lados. O confronto se dá diariamente no Centro de Emergência de Palm Beach, entre o republicano Tucker Eskew e o democrata Dennis Newman, que acompanham a recontagem manual dos votos no condado considerado estratégico.
Eskew, porta-voz da campanha de Bush para os assuntos da Flórida, é o gordinho de língua ácida que volta e meia aparece nas TVs reclamando de tudo. Newman foi presidente da ordem dos advogados do condado de Miami-Dade e é sócio do escritório de advocacia Sale & Kuhene. Ambos falam com os "chefes" diariamente.
Os dois chegam ao limite do intolerável várias vezes por dia, a ponto de o juiz Charles Burton, chefe do comitê eleitoral de Palm Beach, ter mandado um deles mais de uma vez sair da sala para tomar um ar e esfriar a cabeça.
Toda vez que vem fumar um cigarro na entrada e conversar com os repórteres, Burton diz: "Hoje a dupla está acesa!". Num dos diálogos ásperos recentes, Newman fez uma objeção a um voto para ele claramente de Al Gore que foi negado pela comissão.
"A comissão não tem o direito de desqualificar esta cédula", disse. Ao que Eskew replicou: "Quem você está representando mesmo? O Partido pela Libertação do "Chad'?". ("Chad" é o polêmico pedaço de papel que sai da cédula quando ela é perfurada.)
Em outra ocasião, foi a vez do republicano gritar: "Toque nesta cédula, Dennis, e você é um homem morto!".
Mesmo estrelas do caso O.J. Simpson voltam a dar as caras. A analista legal Greta von Susteren, que ganhou fama durante o julgamento do ex-jogador de futebol americano e passou a apresentar o programa "Burden of Proof" (ônus da prova), na CNN, virou celebridade.
Todos os dias, ela dá autógrafos e divide seu tempo entre as cortes dos condados de Palm Beach e Broward e o Supremo, na capital, Tallahassee.
E Alan Dershowitz, o símbolo dos advogados superstars e professor da Universidade Harvard, ofereceu-se para representar de graça o grupo de eleitores de Palm Beach que pede uma nova eleição no condado ou a anulação da atual. Por enquanto, perdeu.
E respondendo à pergunta de David Letterman: segundo o Centro Nacional de Furacões, a atual temporada na Flórida só acaba em 30 de novembro.
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