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01/12/2000 - 17h25

Pinochet pode ter dirigido Operação Condor

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da France Presse
em Assunção

O governo de Augusto Pinochet dirigia a Operação Condor, um tratado secreto entre as ditaduras militares do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Chile por meio do qual se perseguiu e assassinou políticos da oposição, afirmou hoje o deputado brasileiro Paulo Otávio.

"A participação do Chile foi a mais ativa nesse período. Pinochet montou uma estrutura muito forte de repressão. A Operação Condor era comandada totalmente pelos chilenos", acentuou Paulo Otávio que investiga a morte do ex-presidente brasileiro Juscelino Kubitschek em 1976 num acidente de carro.

Paulo Otávio é o presidente da comissão brasileira que faz uma pesquisa no Mercosul para comprovar se JK foi vítima dessa integração sul-americana para o terrorismo de Estado nas décadas de 70 e 80.

O deputado terminou hoje uma visita de três dias ao Paraguai, à frente de uma delegação de parlamentares para recolher dados da Operação Condor contidos no chamados Arquivos do Terror, cinco toneladas de documentos da polícia política do ditador Alfredo Stroessner (1954/89).

Ele assinalou que a delegação está levando 50 folhas desses arquivos que documentam a participação do ministério do Exército do Brasil e da embaixada brasileira na Operação Condor mas indicou que esses documentos "não são comprometedores".

Otávio disse que a comissão já tinha uma certeza de 90% para afirmar que Kubitschek morreu realmente em um acidente e não vítima da Operação Condor.

"Mas tampouco temos dúvidas de que o ex-presidente era controlado, vigiado e temido pelos ditadores da época. Tinham medo de sua liderança e era uma referência preocupante para governos como o de Pinochet que mantinha uma política de eliminar os grandes democratas de então como o ex-chanceler chileno Allende, Orlando Letelier, e o ex-presidente Kubitschek", destacou.

O deputado explicou que a comissão brasileira se baseou numa carta de 1975 do chefe da inteligência chilena coronel Manuel Contreras ao seu colega brasileiro João Batista de Figueiredo (mais tarde presidente), para rastrear se esse intercâmbio teve a ver com a morte do ex-presidente.

Na carta, Contreras salientava a Figueiredo sua preocupação com a ascendência cada vez maior de Kubitschek e Letelier em seus respectivos países e alertava ao mesmo tempo sobre a eleição de Jimmy Carter nos EUA.

A carta em questão foi publicada pelo jornalista Jack Anderson no The Washington Post. "Agora vamos procurar Anderson para saber se é autêntica", disse o deputado.

O deputado afirmou que Contreras não quis falar com a comissão e que negou veementemente ter tido alguma coisa a ver com a morte de JK. "O surpreendente é que 29 dias depois do acidente de Kubitschek ocorreu o atentado contra Letelier em Washington", frisou.

Disse também que a suspeita continua no caso do ex-presidente brasileiro João Goulart "que pode ter sido morto por efeito do gás sarin, que faz com que a pessoa pareça ter sido vítima de um ataque cardíaco".

Kubitschek morreu em agosto de 1976, Letelier 29 dias depois, o ex-governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda, um mês mais tarde e Goulart em dezembro, todos num período menor do que seis meses, uma das razões do enigma que se apoderou dos brasileiros.
 

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