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12/12/2000 - 19h22

Insatisfação negra pode ser "ameaça" para republicanos

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da France Presse
em Washington

A comunidade afro-americana, que votou em peso no democrata Al Gore (cerca de 90%) nas eleições, está se sentindo vítima do fracasso eleitoral na Flórida e pode dificultar a vida do republicano George W. Bush, caso ele vença a corrida presidencial. Bush já revelou, entretanto, estar disposto a convidar pessoas de raça negra para integrar seu eventual futuro governo.

"Existe um sentimento geral dos afro-americanos de que esta eleição foi lhes foi confiscada", disse David Bositis, um especialista em questões raciais, que fala até em "uma bomba atômica para os republicanos no futuro".

Desde 7 de novembro, líderes negros denunciam a "discriminação eleitoral" da qual os negros da Flórida teriam supostamente sido vítimas.

O mais conhecido, o reverendo Jesse Jackson, se associou hoje ao líder da central sindical AFL-CIO, John Sweeney, para denunciar "os obstáculos interpostos aos negros e outras minorias para votar" e exigir que os republicanos aceitem uma recontagem das cédulas que não foram consideradas na contagem dos votos.

Convocada pela Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP), o grupo mais importante desta minoria nos EUA, foi feita ontem uma nova manifestação em Miami.

A NAACP pediu à secretária de Justiça, Janet Reno, "que investigue as acusações de fraude eleitoral na Flórida" e anunciou ações judiciais contra as "violações do direito constitucional de voto".

A associação denuncia ainda o fechamento de certas seções eleitorais antes do horário previsto, "medidas de intimidação" e a existência de máquinas eleitorais arcaicas" nas mesas de votação, cujo padrão era majoritariamente negro.

Jackson ainda acusa o governo republicano da Flórida de ter eliminado cerca de oito mil eleitores, negros em sua maioria, acusados por ter cometido crimes e, que por isso, não podiam ter direito ao voto.

Em todo o país, um em cada sete adultos negros não pode votar por estar na cadeia, principalmente por casos ligados às drogas, avaliam os analistas.

Al Gore conseguiu mobilizar o eleitorado negro em todo o país_ tradicionalmente democrata desde a presidência de Franklin D. Roosevelt (1932-1945)_, com mais sucesso até que Bill Clinton.

Na Flórida, sua participação passou de 10% do eleitorado de quatro anos atrás para 15% neste ano, segundo o professor Alvin Thornton, da Universidade Howard, de Washington. Sem o voto negro, garante, Bush já seria presidente.

Outro elemento também influenciou as eleições da Flórida, segundo ele, já que o governador republicano Jeb Bush (irmão de George W.) provocou a insatisfação das minorias renunciando em 1999 à "discriminação positiva" para favorecer o acesso das mesmas à universidade.

Bush tentou seduzir este setor do eleitorado com um discurso social durante a campanha, anunciando que o conservador e bastante popular Colin Powell, ex-chefe do Estado Maior das Forças Armadas durante a Guerra do Golfo (1991), seria seu futuro secretário de Estado e que Condoleezza Rice iria dirigir o Conselho de Segurança Nacional.

Para Thornton, "os republicanos sabem que a raiva negra é perigosa". Ele avalia que uma eventual administração republicana "deveria se propôr a vencer esta sensação de exclusão".

Tudo dependerá, de acordo com Thorhton, dos casos de discriminação racial por parte da Justiça e da ação dos organismos sociais a favor da comunidade negra, que é mais pobre que a média da população nos EUA.

Na semana passada, ao ser interrogado sobre eventuais irregularidades cometidas em relação aos negros, Bush disse que "a elevada participação dos afro-americanos na eleição é uma boa coisa".

  • Leia mais no especial Eleições nos EUA
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