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08/06/2001 - 08h23

Toledo ironiza FHC ao defender adesão peruana à Alca

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THOMAS TRAUMANN, em Lima
da Folha de S.Paulo

Alejandro Toledo Manrique, 55, eleito presidente do Peru, no domingo passado, com 53,06% dos votos válidos, anunciou que pretende adotar uma integração do seu país simultaneamente com o Mercosul (bloco liderado pelo Brasil) e a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o acordo defendido pelos EUA.

Em entrevista a jornalistas estrangeiros, Toledo ironizou uma possível reação brasileira, que defende um acordo por etapas dos países sul-americanos com a Alca. "Sei que isso não vai agradar ao presidente Fernando Henrique Cardoso", disse Toledo, que assumirá a Presidência em 28 de julho.

Apesar de dizer que já "esqueceu" o fato de o Brasil ter se posicionado contra a adoção de sanções ao Peru depois de denúncias de fraude na segunda reeleição à Presidência de Alberto Fujimori, no ano passado, Toledo, derrotado na ocasião, voltou a criticar o país. "Que nunca mais a América Latina permita que algum país irmão passe pela experiência que passamos", disse.

Toledo deu claros indicativos de que sua política externa será alinhada aos Estados Unidos e criticou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez -desafeto dos EUA. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Pergunta - Qual é a sua estratégia sobre a integração do Peru com o Mercosul e a Alca?
Alejandro Toledo - Sou defensor de uma integração regional aberta, que potencialize a Comunidade Andina de Nações (formada por Peru, Colômbia, Bolívia, Equador e Venezuela). Queremos mais negócios com o Mercosul, mas, dentro desse conceito de integração regional aberta, isso não exclui a nossa conexão direta com a Alca. Vamos trabalhar com países vizinhos, como Argentina, Chile, Brasil e México.

Pergunta - Para quando o sr. defende a integração da Alca?
Toledo - Espero estar na Alca antes do fim do meu governo (2006).

Pergunta - Que relação terão os países andinos com o Mercosul?
Toledo - Temos de fazer isso simultaneamente. A Comunidade Andina tem sentido em existir, e, simultaneamente, temos de fortalecer sua presença com o Mercosul e trabalhar com a Alca. Sei que isso não vai agradar ao presidente Fernando Henrique Cardoso.

Pergunta - Por que o sr. diz isso?
Toledo - Eu é que pergunto (a FHC).

Pergunta - Uma de suas reclamações antigas quanto ao Brasil se refere à conferência da OEA (Organização dos Estados Americanos) na qual o Brasil impediu sanções contra Fujimori pelas acusações de fraude nas eleições presidenciais. Essas feridas já cicatrizaram?
Toledo - Estão cicatrizadas. Na conversa que tive com o presidente Cardoso, eu disse o que tinha de dizer e acho que foi muito bom para limpar a mesa. Eu esqueci a posição do Brasil (na conferência da OEA), mas que nunca mais a América Latina permita que algum país irmão passe pela experiência que passamos. Se há algum elemento que justifique a globalização é o tema da democracia e dos direitos humanos.
Só espero que agora possamos reforçar nossos laços culturais, investimentos e comércio. Mas agora eu tenho os braços abertos e espero que ele (FHC) nos acompanhe na posse e na cerimônia em Machu Picchu. Mas antes vou lhe dar uma coramina (risos).

Pergunta - O que é coramina?
Toledo - É um remédio para a altitude (Machu Picchu fica a cerca de 2.300 metros de altitude).

Pergunta - Como será sua relação com o presidente Chávez?
Toledo - Teremos uma relação de país andino. Mas é preciso ficar de olhos abertos para que, em nenhuma parte da América Latina, surjam Fujimoris com outro rosto. Se isso ocorrer, os vizinhos não devem se calar quando estiver em jogo a democracia.

Pergunta - Chávez seria um novo Fujimori?
Toledo - Prefiro não dizer.

Pergunta - Como será a sua conversa com o premiê do Japão, país que abriga Fujimori desde sua renúncia, em novembro passado?
Toledo - Uma troca: nossa dívida pelo Fujimori (risos). Não, será uma conversa pedindo investimentos privados e que o Japão colabore para que Fujimori responda à Justiça peruana.

Pergunta - Qual é o simbolismo da vitória de um "cholo"?
Toledo - Mas eu sou sueco (risos). É uma enorme responsabilidade que, depois de 500 anos, apareça na história do Peru um presidente eleito democraticamente, de origem indígena. Espero poder contribuir para terminar com esse preconceito silencioso no Peru (contra os índios).

Pergunta - No comício da sua vitória, seus eleitores gritavam "Pachacútec" (imperador inca, 1438-1471). Que significa a comparação?
Toledo - Sou admirador de Pachacútec, mas seria arrogante da minha parte me comparar a ele. Não tenho um décimo de suas virtudes. Há uma tradição segundo a qual, a cada 500 anos, surge um novo Pachacútec, mas minha eleição é só uma coincidência (risos).

 

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