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13/09/2001 - 04h16

Ataque-surpresa revela erro dos serviços de inteligência

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RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Dois fatores contribuíram para que os EUA fossem apanhados de surpresa pelos atentados terroristas. O primeiro é a diminuição constante dos gastos com espionagem "humana" em benefício daquela "eletrônica". A ausência de agentes no terreno é ainda maior no caso do Oriente Médio, em que as diferenças culturais são muito maiores em relação às observadas entre os americanos.

E o outro fator é a globalização do fenômeno do terrorista suicida, que antes se concentrava em poucos países, mas que agora começa a ter alcance mundial.

O trabalho do espião ou informante é chamado pelas agências americanas de "inteligência humana", ou "humint", na sigla em inglês. Mas essa faceta "James Bond" da espionagem foi sendo nos EUA colocada em segundo plano em favor das chamadas "imint" (inteligência por imageamento, isto é, imagens de satélites) e "sigint" (inteligência por sinais, isto é, interceptação de sinais de rádio ou de ondas de radar).

Como o alvo principal dos EUA durante a Guerra Fria era a União Soviética, o interesse maior era saber, por exemplo, dados do arsenal nuclear. E, para bisbilhotar lançamentos de mísseis, satélites-espiões eram mais eficientes.

Um bom exemplo dessa deterioração da espionagem "humana" foi descrito por um ex-agente da CIA, Reuel Marc Gerecht, em artigo na edição de julho/agosto da "The Atlantic Monthly".

"O programa de contraterrorismo da América no Oriente Médio e adjacências é um mito", escreveu Gerecht, que trabalhou por quase nove anos na agência.

Ele comenta a dificuldade de os agentes da CIA obterem informação num mundo tão culturalmente diverso como o Afeganistão.

"Mesmo um agente muçulmano da CIA com habilidades linguísticas pouco a mais poderia fazer do que um americano loiro de olhos azuis", diz ele.

A revista especializada em assuntos militares "Jane's Defence Weekly" estima que o orçamento americano para inteligência em 2002 chegue a 30 bilhões de dólares -mas a maior parte do dinheiro vai para burocracia e equipamentos eletrônicos.

Nos anos 80 o fenômenos do terrorista que se suicidava só tinha sido relatado no Líbano, no Sri Lanka e no Kuait. Nos anos 90 os casos de terroristas que se matavam na hora do atentado ocorreram também em Israel, Índia, Panamá, Argélia, Paquistão, Argentina, Croácia, Turquia, Tanzânia e Quênia.

No ano passado, foi realizada em Israel uma conferência de especialistas em segurança sobre o tema -a Primeira Conferência Internacional em Contramedidas ao Terrorismo Suicida.

Um dos participantes, Rohan Gunaratna, escreveu um artigo profético na revista "Jane's Intelligence Review" em outubro passado. "Com o aumento da migração de países em conflito, a formação de extensas infra-estruturas internacionais terroristas e o aumento do alcance de grupos terroristas no período pós-Guerra Fria, o terrorismo suicida provavelmente vai afetar a Europa Ocidental e a América do Norte no futuro próximo", disse Gunaratna.

Ele relata seis meios pelos quais os suicidas agem: bombas escondidas no próprio corpo; em veículos; em motos; em lanchas; em mergulhadores; em meios aéreos. Nessa última categoria só constavam ultraleves, planadores e pequenos helicópteros. O jato sequestrado passa a ser uma nova modalidade.
 

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