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15/09/2001 - 02h59

Brasil não irá receber refugiados afegãos

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DANIELA MENDES
da Folha de S.Paulo, no Rio

Em decorrência dos atentados terroristas de terça-feira nos Estados Unidos, o governo brasileiro decidiu adiar por tempo indeterminado a imigração de um grupo de cerca de 50 afegãos que está em campos de refugiados na Índia e no Irã.

O assentamento deles estava previsto para o final do mês de outubro, em Santa Maria Madalena, no Estado do Rio, e em Porto Alegre.

De acordo com a secretária Nacional de Justiça, Elizabeth Sussekind, que também é presidente do Conare (Conselho Nacional de Refugiados), o programa de assentamento de refugiados do Ministério da Justiça foi reestruturado porque os atentados colocaram o Afeganistão na mira do governo norte-americano.

"Eles [os afegãos] vão ficar para uma segunda etapa, porque está havendo toda essa confusão", disse Sussekind.

Agropecuária
O governo do Rio de Janeiro intermediou junto ao Ministério da Justiça a seleção de Santa Maria Madalena para abrigar cerca de 25 dos cem refugiados que o programa do governo federal pretende assentar até o fim do ano.

A cidade serrana está localizada no centro-oeste do Estado, a 223 km da capital, e tem 10,8 mil habitantes. Foi escolhida por ter como principal atividade econômica a agropecuária, atendendo ao perfil determinado pelo Conare e, também, por ter manifestado interesse em receber o grupo.

Por temer um contra-ataque americano em terras vizinhas, uma equipe de três brasileiros que estava em Nova Déli, na Índia, fazendo o cadastramento das famílias afegãs que viriam ao Brasil, interrompeu o cronograma oficial da viagem, que incluía ainda o Irã, e deve retornar ao país amanhã.

"Até para evitar uma expectativa, a equipe já avisou aos afegãos que eles estão sendo cadastrados, mas não virão ao Brasil nos próximos meses", afirmou a secretária.

País de refugiados
O Afeganistão é considerado, hoje, o país com maior número de refugiados no mundo. De uma população de 18 milhões, cerca de 2,6 milhões de afegãos estão espalhados por campos de refugiados, principalmente no Paquistão e no Irã, países vizinhos.

Esse número chegou a 6,2 milhões após a invasão soviética ao país, em 1979, segundo dados do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados). Com o fim da dominação soviética, em 1989, mais de 3 milhões de afegãos teriam retornado ao país.

Nesse período de ocupação comunista, os Estados Unidos chegaram a patrocinar a liderança do movimento extremista Taleban contra o regime soviético. Hoje, o Taleban controla mais de 90% do território afegão e é considerado uma grande ameaça às minorias étnicas e religiosas que são forçadas a sair do país em razão da política restritiva e violenta patrocinada pelo Taleban.

O líder supremo do grupo extremista, Mohammad Omar, decretou, em janeiro, que qualquer muçulmano que abandonasse sua religião seria condenado à morte.

Com a investida terrorista contra os Estados Unidos, o país é, hoje, o principal alvo de um ataque americano. Lá estaria escondido o milionário saudita e líder terrorista Osama bin Laden, acusado por Washington de ter sido o autor intelectual dos atentados em Nova York e Washington. Ele seria, ainda, um dos patrocinadores do Taleban.

Há pelo menos dois anos, o Conare, em parceria com o Acnur, está organizando esse programa de assentamento que beneficiaria principalmente afegãos e africanos.

Nesse processo de reestruturação que o programa sofreu, os africanos, refugiados em campos de Botsuana, fugindo das guerras civis na África central, agora, serão os primeiros a vir para o Brasil. De acordo com Sussekind, eles devem ser assentados em Natal e na Bahia.

No Brasil vivem hoje cerca de 2.300 refugiados, sendo que 80% desse total são africanos que residem, principalmente, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O programa de assentamento do Ministério da Justiça marca uma mudança na política brasileira. Pela primeira vez, o país oferece abrigo aos estrangeiros refugiados. Até então, a grande porta de entrada de refugiados era o mar, principalmente o porto de Santos.

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

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