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24/09/2001 - 04h00

Francis Fukuyama insiste em teoria do fim da história

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GIULIANO GUANDALINI
da Folha de S.Paulo

Então não passava de conversa toda aquela polêmica sobre o fim da história? Negativo, pelo menos para o autor do livro que detonou a controvérsia, "O Fim da História e o Último Homem", há quase dez anos.

O cientista político norte-americano Francis Fukuyama, 48, continua inabalável em sua tese de que o liberalismo político e econômico saiu vitorioso da batalha contra o socialismo e o comunismo. "Não apareceu nenhuma ideologia nova", afirmou, em entrevista à Folha, de Washington.

Questionado se estaríamos presenciando um novo começo da história, Fukuyama hesitou e riu. Em seguida, reafirmou suas idéias. "O que aconteceu foi uma reação aos EUA, à globalização e à alternativa que eles representam."

Para ele, a violência da reação terrorista mostra o poder do ideário liberal, que ameaçaria o interesse de certas pessoas e países. Quem seriam os ameaçados? Ditaduras comunistas, como Coréia do Norte, e nações islâmicas governadas com mão-de-ferro, como Afeganistão e Iraque.

Na época da Guerra do Golfo, perguntaram-lhe se o conflito seria uma prova de que a história estaria longe do fim. O cientista político respondeu que a operação não passaria de uma nota de pé de página na história dos EUA.

O desmoronamento das torres gêmeas com certeza terá um espaço bem mais generoso nos livros de história do país. Mas, para Fukuyama, o liberalismo segue inabalável como o grande vitorioso dos conflitos ideológicos do século passado e os que ainda resistem a ele um dia cederão. Leia os principais trechos da entrevista.

Folha - Estamos presenciando um novo começo da história?

Francis Fukuyama -
Foi um terrível evento, do qual eu não gostaria de diminuir a importância. Mas, por outro lado, o que aconteceu foi uma reação aos EUA, à globalização e à alternativa que eles representam [democracia liberal". E, de uma certa maneira, mostra o quão poderosa é essa alternativa. Pessoas se sentem ameaçadas por ela. Mas não tenho dúvidas de que essa alternativa deve vencer.

Folha - Sempre que ocorrem eventos como os que aconteceram nos EUA, alguém se levanta para dizer que a história não acabou. Como o sr. reage a isso?

Fukuyama -
O que é bastante interessante nessa reação é que todo o mundo civilizado está aterrorizado, mas sem saber com o quê. É diferente do desafio que o comunismo representava. Um dia os maiores intelectuais do mundo ocidental imaginavam que todas as sociedades se converteriam em comunistas, ou em socialistas. Hoje ninguém pensa que isso possa acontecer. Existe um grande desafio político pela frente, mas não mais ideológico.

Folha - Alguns autores dizem que a falta de adversários para os EUA pode ser um fator de desestabilização mundial. O sr. concorda?

Fukuyama -
Ainda há vários adversários. No Terceiro Mundo existe uma série de movimentos nacionalistas que irromperam com o final da União Soviética. Mas o desafio é diferente hoje, porque, com o uso de novas tecnologias, os EUA podem ser atacados em seu próprio território.

Folha - O sr. acha que os eventos de Nova York e Washington vão trazer alguma mudança no campo diplomático, principalmente em relação a países do Oriente Médio?

Fukuyama -
No curto prazo, os EUA devem levar adiante algum tipo de ação militar para tentar se livrar de Osama bin Laden, e a relação diplomática com Paquistão, Arábia Saudita, Egito e outros países será dominada por isso. A preocupação é que apareçam novos focos de tensão, que surjam problemas que não existem hoje.

Folha - O sr. acredita que países como o Afeganistão, o Paquistão, e outros daquela região podem se tornar nações liberais?

Fukuyama -
Talvez não no curto prazo...

Folha - Qual poderia ser o estopim para transformá-los em nações liberais e democráticas?

Fukuyama -
Não sei se existe estopim específico. Nas próximas semanas e meses, eles estarão muito mais preocupados com a situação política. Mas, se pensarmos no Irã, é muito provável que a próxima geração deva fazer uma abertura política. É importante não ter como certo que não há movimentos liberais no mundo muçulmano, porque eles existem.

Folha - Seu próximo livro tratará de biotecnologia. Crê que haverá mudanças na economia por causa da revolução biotecnológica?

Fukuyama -
Ela não será como a revolução da informática, a resistência para aceitá-la será maior. Mas é óbvio que a biotecnologia é a próxima revolução tecnológica.

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

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