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25/09/2001 - 04h44

Negócios de saudita vão do Golfo à Europa

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BABETTE STERN
do "Le Monde"

A rede financeira de Osama bin Laden se estende dos países do golfo Pérsico à Europa. Segundo relatório redigido por especialistas, foi possível identificar vínculos de capital entre o líder terrorista e o conglomerado de sua família, o Saudi BinLadin Group (SBG), e também com pessoas próximas à família real saudita, possivelmente até membros dela.

O FBI (polícia federal dos EUA) conseguiu reconstituir uma enorme rede financeira, uma nebulosa formada por dezenas de empresas, organizações beneficentes e bancos estabelecidos em países do golfo, mas com ramificações na Europa -sobretudo no Reino Unido-, todos ligados direta ou indiretamente a Bin Laden.

Entre os dirigentes e os conselhos de direção dessas organizações encontram-se representantes de todo o establishment do golfo Pérsico e também da outra grande família saudita, a família Bin Mahfuz -originária, como a família Bin Laden, de Hadramaut, no Iêmen-, formada por riquíssimos banqueiros que receberam títulos da família real, enquanto os Bin Laden eram os "construtores".

Segundo um relatório confidencial redigido por um grupo de especialistas internacionais a pedido de uma organização fiscal ocidental e cuja existência foi revelada no "Journal du Dimanche" de 23 de setembro, a irmã de Khalid bin Mahfuz, filho do fundador do grupo e um dos principais protagonistas do escândalo do BCCI (Bank of Credit and Commercial International), teria se casado com Osama bin Laden.

Na semana passada o Escritório de Controle de Bens de Estrangeiros (Office of Foreign Assets Control, ou Ofac, subordinado ao Departamento do Tesouro dos EUA) pediu, discreta mas oficialmente, ao conjunto dos bancos internacionais que pesquisassem em seus arquivos e nos de suas filiais todas as transações que podem ter sido realizadas com empresas instaladas nos países suspeitos de servir como base para as atividades de Bin Laden. Não é por acaso que todos eles figuram no relatório dos especialistas internacionais.

Al Shamal Islamic Bank: banco sudanês aberto em conjunto com a Frente
Islâmica Nacional sudanesa. Pouco depois de instalar-se em Cartum, em 1991, Bin Laden participou da criação de diversas estruturas financeiras e comerciais.

Um de seus principais investimentos foi numa instituição bancária, o Al Shamal Islamic Bank, em cujo capital ele participou com US$ 50 milhões, ou seja, um sexto da parte (US$ 300 milhões) que lhe cabia do conglomerado familiar Saudi BinLadin Group (SBG). Um dos maiores acionistas do banco é o segundo maior banco do Sudão, o Tadamon Islamic Bank.

Tadamon Islamic Bank: está presente em todo o território do Sudão, através de 21 agências. Seus principais acionistas em 1998 eram as empresas National Company for Development and Trade, de Cartum (15%), a Kuwait Finance House, o Dubai Islamic Bank, o Bahrein Islamic Bank e vários acionistas individuais, entre os quais chama a atenção o nome do ministro dos Assuntos Sociais dos Emirados Árabes Unidos. Todas essas organizações estão sendo vigiadas de perto pelo Ofac.

Família real
O banco Tadamon tem diversas subsidiárias no Sudão, especialmente nos setores agrícola, industrial e imobiliário. Segundo o relatório, o quadro de acionistas do banco Tadamon não mudou sensivelmente desde 1991. A única mudança foi a substituição do Faisal Islamic Bank no conselho administrativo do Tadamon por sua filial National Company for Development and Trade. O Faisal Islamic Bank, criado em 1977, é dirigido pelo príncipe Muhammad Saud al Faisal, filho do rei Al Saud e primo do rei Fahd da Arábia Saudita.

O Faisal Islamic Bank é uma subsidiária da empresa Islamic Investment Company of the Gulf (do Bahrein), cuja holding é a Dar Al Maal al Islami (DMI), instalada em Cointrin, na Suíça. A DMI foi fundada em 29 de julho de 1981. Até outubro de 1983, seu presidente era Ibrahim Kamel. Em 17 de outubro desse ano ele foi substituído pelo príncipe Muhammad. A DMI é vista como a estrutura central do financiamento saudita do islamismo internacional.

Dubai Islamic Bank : de acordo com diversas fontes, a CIA (serviço de inteligência dos EUA) teria verificado que parte do financiamento de Osama bin Laden provém desse banco, dirigido por Mohammed Khalfan Bin Kharbash, atual ministro das Finanças dos Emirados Árabes Unidos.

O banco é acionista do Bahrain Islamic Bank, do Islamic Bank Bangladesh Ltd. e do Tadamon Islamic Bank. Entre os acionistas do Dubai Islamic Bank estão os governos de Dubai (10%) e do Kuait (10%).

Os interesses de Osama bin Laden não se limitam a estruturas bancárias. Quando estava erguendo seu império financeiro, seu carro-chefe estava no Sudão. Em Cartum, a holding Wadi Al Aqiq tem participações acionárias em várias empresas do Iêmen, do Bahrein e do Sudão.

É o caso da Gum Arabic Company, que controla a quase totalidade da produção, comercialização e exportação de borracha do Sudão. Segundo o relatório, pouco depois de instalar-se no Sudão Osama bin Laden adquiriu uma participação na empresa, estimada pela CIA como sendo majoritária.

Depois da saída de Bin Laden do país, em 1996, a administração da Gum Arabic Company foi reestruturada. Em 1995, 30% da empresa era controlada pelo governo e 70% por investidores privados.

Consta que Osama bin Laden também possui participações em diversas associações humanitárias e beneficentes islâmicas. Uma delas é a International Islamic Relief Organization (Ilro Organização Islâmica Internacional de Assistência Humanitária), criada em 1985.

A Ilro tem diversas filiais na Europa, especialmente na França, Suíça, Alemanha, Holanda e Suécia. De acordo com a CIA, Osama bin Laden teria feito uso de sua rede para realizar suas operações. Para os especialistas, "existem vínculos de capital entre o grupo da família Bin Laden e pessoas próximas à família real saudita, ou mesmo membros dela".
Dirigentes do grupo saudita refutam essa acusação. Oficialmente o SBG não mantém nenhum vínculo com Osama bin Laden desde que o reino lhe retirou sua cidadania saudita, em abril de 1994.

  • Tradução de Clara Allain

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