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11/10/2001
-
04h08
da Folha de S.Paulo, em Nova York
O escritor e teórico do jornalismo Richard Reeves é uma das poucas vozes discordantes na mídia hoje em dia. Renomado professor das universidades da Califórnia e Columbia e autor do livro "What the People Know: Freedom and the Press" (O Que as Pessoas Sabem: a Liberdade e a Imprensa, Harvard, 1998), acha que a imprensa vem se portando mal na cobertura do conflito.
Não acredita que a auto-censura vá atrapalhar as emissoras de TV, pois defende que o jornalismo televisivo já acabou. Por expressar suas opiniões, recebe cerca de 500 e-mails com insultos por dia. O autor de um deles dizia que pagaria passagem e casa nova se ele se mudasse do país.
(SD)
Folha - O que o sr. acha da auto-censura nas emissoras de TV?
Richard Reeves - Acho que o jornalismo na TV quase não existe mais. Tem muita técnica, atores lendo as chamadas, e só. Como tudo depende da imagem, os câmeras substituíram os repórteres.
Mas eles não viraram jornalistas, e quase não há bons profissionais na TV americana esses dias. Eu jamais confiaria numa informação saída da TV sem checar. A maioria deles não tem a menor idéia sobre o que está fazendo.
Folha - O sr. escreveu um artigo no "The New York Times" intitulado "Patriotism Calls Out the Censor". O sr. não acha que o jornalismo não é o melhor lugar para o patriotismo?
Reeves - Concordo com isso plenamente. Em primeiro lugar, é importante dizer que a imprensa norte-americana é responsável em grande parte pelo que vem acontecendo desde o dia 11 de setembro, pois nos últimos 10 anos os jornais dos EUA removeram 80% de seus correspondentes internacionais do Oriente Médio.
A justificativa é que era muito caro manter um jornalista em outro país tempo o suficiente para que ele de fato virasse uma autoridade sobre uma outra cultura. Ou seja, ninguém sabia e na verdade ninguém ligava se o Paquistão estivesse construindo armas nucleares durante a última década.
Nós não ligamos para isso, afinal somos os EUA, a superpotência, ninguém pode encostar em nós. Acho que até Bill Clinton foi um dos culpados por disseminar este pensamento, que provocou esse desleixo geral. O fato é que ninguém sabe nada sobre o que nos ameaça nesse momento.
Folha - O sr. acha que neste momento o presidente George W. Bush e sua equipe estão mentindo para os jornalistas?
Reeves - Não acredito que Bush saiba das coisas o suficiente a ponto de precisar mentir a respeito delas. Ele é muito ignorante e está muito perdido no meio dessa história toda. Acho que Camp David virou um grande centro de estudos hoje em dia (risos).
Toda a equipe precisa aprender a pronunciar os nomes primeiro, depois descobrir que as coisas não são como pensam.
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Jornalismo na TV acabou, diz especialista
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O escritor e teórico do jornalismo Richard Reeves é uma das poucas vozes discordantes na mídia hoje em dia. Renomado professor das universidades da Califórnia e Columbia e autor do livro "What the People Know: Freedom and the Press" (O Que as Pessoas Sabem: a Liberdade e a Imprensa, Harvard, 1998), acha que a imprensa vem se portando mal na cobertura do conflito.
Não acredita que a auto-censura vá atrapalhar as emissoras de TV, pois defende que o jornalismo televisivo já acabou. Por expressar suas opiniões, recebe cerca de 500 e-mails com insultos por dia. O autor de um deles dizia que pagaria passagem e casa nova se ele se mudasse do país.
(SD)
Folha - O que o sr. acha da auto-censura nas emissoras de TV?
Richard Reeves - Acho que o jornalismo na TV quase não existe mais. Tem muita técnica, atores lendo as chamadas, e só. Como tudo depende da imagem, os câmeras substituíram os repórteres.
Mas eles não viraram jornalistas, e quase não há bons profissionais na TV americana esses dias. Eu jamais confiaria numa informação saída da TV sem checar. A maioria deles não tem a menor idéia sobre o que está fazendo.
Folha - O sr. escreveu um artigo no "The New York Times" intitulado "Patriotism Calls Out the Censor". O sr. não acha que o jornalismo não é o melhor lugar para o patriotismo?
Reeves - Concordo com isso plenamente. Em primeiro lugar, é importante dizer que a imprensa norte-americana é responsável em grande parte pelo que vem acontecendo desde o dia 11 de setembro, pois nos últimos 10 anos os jornais dos EUA removeram 80% de seus correspondentes internacionais do Oriente Médio.
A justificativa é que era muito caro manter um jornalista em outro país tempo o suficiente para que ele de fato virasse uma autoridade sobre uma outra cultura. Ou seja, ninguém sabia e na verdade ninguém ligava se o Paquistão estivesse construindo armas nucleares durante a última década.
Nós não ligamos para isso, afinal somos os EUA, a superpotência, ninguém pode encostar em nós. Acho que até Bill Clinton foi um dos culpados por disseminar este pensamento, que provocou esse desleixo geral. O fato é que ninguém sabe nada sobre o que nos ameaça nesse momento.
Folha - O sr. acha que neste momento o presidente George W. Bush e sua equipe estão mentindo para os jornalistas?
Reeves - Não acredito que Bush saiba das coisas o suficiente a ponto de precisar mentir a respeito delas. Ele é muito ignorante e está muito perdido no meio dessa história toda. Acho que Camp David virou um grande centro de estudos hoje em dia (risos).
Toda a equipe precisa aprender a pronunciar os nomes primeiro, depois descobrir que as coisas não são como pensam.
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