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02/11/2001 - 05h56

Governo pós-Taleban fica mais difícil

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do enviado especial a Islamabad

As negociações para a criação de um governo no Afeganistão no caso de o grupo extremista islâmico Taleban, que controla a maior parte do território do país, ser derrubado estão emperradas. O primeiro efeito disso é a decisão militar dos Estados Unidos de atacar pesadamente as linhas de frente da milícia extremista para ajudar os rebeldes da Aliança do Norte a tentar tomar o poder rapidamente.

O Taleban estaria à procura do líder afegão Hamid Karzai, aliado do ex-rei Zahir Shah, segundo a agência islâmica de notícias "AIP".

Quatro helicópteros norte-americanos teriam tentado resgatar Karzai quando o Taleban atacou um grupo de simpatizantes de Zahir Shah na cidade de Deharwad, na Província de Uruzgan, perto de Candahar, de acordo com a agência afegã "AIP".

Se Karzai for morto, isso deve dificultar ainda mais a formação de um novo governo no Afeganistão.

""Eu não posso dar um cronograma de quando nossos esforços darão resultado", afirmou ontem, em Islamabad (capital do Afeganistão), Lakhar Brahimi, o argelino designado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como enviado para a questão política afegã.

Ele deu uma indicação de que a pressão diplomática paquistanesa por um governo que inclua membros do Taleban, grupo fomentado por Islamabad desde sua criação em 1994 até o ataque dos Estados Unidos, pode estar dando certo.

"Nós podemos ajudar a reconstruir o país [fisicamente]. Mas reconstruir uma nação, não. É responsabilidade de todo o povo afegão", afirmou ele, que também se encontrou com líderes afegãos pashtus.

O enviado não falou com representantes da milícia. "Falar com eles enviaria sinais errados para todos os lados envolvidos", disse Brahimi.
Já o embaixador do Taleban no Afeganistão, Abdul Salam Zaeff, que havia pedido uma audiência com Brahimi, o criticou.

A montagem de um eventual governo pós-Taleban vem sofrendo diversos reveses. Na semana passada, Abdul Haq, herói da guerra afegã contra a União Soviética, foi morto por integrantes do Taleban após ser pego tentando se comunicar no Afeganistão com líderes tribais que poderiam desertar a milícia fundamentalista.

Haq era uma esperança de consenso porque era uma liderança forte fora da Aliança do Norte, que é formada por tribos e grupos rivais que lutam contra o Taleban e que quase foram dizimado antes dos ataques dos Estados Unidos contra o Afeganistão.

Como agrupa outras etnias, a Aliança do Norte não obtém apoio entre os grupos pashtus -majoritários no Afeganistão e parte do Paquistão.

De todo modo, como tudo nessa região, essa é uma explicação parcial, uma vez que não se pode esquecer do papel do Paquistão. O país-berço do Taleban esperava ter um regime amigo a leste e noroeste para a eventualidade de uma guerra com a rival Índia, país com o qual possui diversos problemas.

Como a Aliança do Norte é identificada com o governo anterior do Afeganistão, que se opunha ao Paquistão, ela é tratada como inimiga por Islamabad -e vice-versa.

Com a opção militar de jogar ""tapetes de bombas" em posições do Taleban, os Estados Unidos deixaram claro que querem um avanço da Aliança do Norte antes da chegada do inverno, em duas semanas. Era exatamente o que os comandantes pediam e os ocidentais relutavam em fazer, por saber do problema político em os apoiar.

Se for bem-sucedida, o que é incerto devido às fraquezas militares manifestas da Aliança do Norte, a jogada pode trazer um impasse político ainda maior na região.

O Paquistão não aceitaria ter adversários em duas frentes, depois de ter dado apoio vital aos EUA -o uso de seu espaço aéreo e território.

Pela sua ajuda, o governo de Pervez Musharraf enfrenta uma forte
oposição interna agora, com riscos se a revolta contaminar os setores de baixa patente das Forças Armadas.

A equação se completa com a pressão das autoridades do Paquistão por membros do governo do Taleban numa composição futura no Afeganistão. Esse é o nó a ser desatado por Washington agora.
(IGOR GIELOW)


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