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23/09/2007 - 10h00

Libaneses questionam papel de palestinos no país

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TARIQ SALEH
Colaboração para a Folha, de Beirute

Com o fim, no último dia 2, do conflito de 106 dias no campo de refugiados de Nahr el Bared, políticos libaneses questionam o papel dos palestinos na instabilidade política do país.

Para alguns, eles deveriam deixar o Líbano; outros defendem sua permanência, mas sob controle do governo. Mas nenhum dos lados apresentou, concretamente, uma solução para o problema dos refugiados.

O conflito no norte do Líbano, entre radicais do Fatah al Islam e tropas do Exército libanês, matou mais de 400 pessoas em seus mais de três meses. Quando apelos pela reconstrução do campo começaram, tão logo o conflito terminou, a animosidade em relação aos palestinos floresceu.

Hoje as opiniões estão divididas. Muitos libaneses temem as milícias armadas palestinas que operam dentro desses campos --um acordo de 1969 proíbe as forças de segurança libanesas de entrar nos campos de refugiados.

O parlamentar druso Faycal Sayegh, que disse à Folha defender a causa palestina, critica o fato de as facções palestinas lançarem mão de um acordo obsoleto para circular livremente com armas. "Milícias palestinas armadas ameaçam a nossa já combalida estabilidade", afirma.

Segundo Sayegh não há um plano ou discussão dentro do governo libanês para solucionar o status dos palestinos no país, pois isso é da alçada da ONU. "Mas, mesmo assim, eles devem entender que não podem fazer o que quiserem."

Excluídos

Para o ex-ministro da Energia Mohamad Fneish, o problema dos palestinos é sua condição social, já que sua marginalidade na sociedade libanesa facilita a atuação de grupos que não refletem sua causa, mas a de outros.

"Os palestinos são nossos irmãos, e é nosso dever ajudá-los em sua luta pela terra natal", disse ele, que é membro do grupo radical islâmico Hizbollah. "A comunidade internacional deve resolver isso, ela é a responsável pela solução política desse problema que foi criado em 1948 [com a criação do Estado de Israel]."

Embora entre os jovens também haja os que defendem e os que se opõem à presença palestina, é na geração mais velha que está a prova de que as feridas da guerra civil (1975-90) não cicatrizaram.

O ex-cônsul do Líbano no Brasil nos anos 70 Halim Abou Shahra afirmou que, naquela época, era um simpatizante da causa palestina, mas a Síria desvirtuou seus objetivos.

"Ainda sou a favor da luta deles. Mas eles causaram a nossa guerra civil, eles destruíram nosso país, influenciados pela Síria. Ele devem deixar o Líbano, para o nosso bem e para o deles também", disse.

Durante a guerra civil libanesa, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) se aliou aos muçulmanos e drusos contra os cristãos. O preço foi alto para os libaneses, que viram seu país ser arrasado, e para os palestinos, que passaram a ser mais hostilizados.

A ativista finlandesa Kirsti Palonen trabalha com refugiados palestinos desde essa época. "O problema é que sempre acusam os palestinos por tudo de ruim que acontece no Líbano", disse ela.

Nada, para a ativista, justifica a extrema pobreza em que eles vivem nem a lei libanesa que proíbe refugiados palestinos de exercerem mais de 80 diferentes tipos de profissão.

Segundo o líder da OLP no Líbano, Abbas Zaki, a preocupação dos libaneses de que, se os palestinos tivessem melhores condições de vida, eles acabariam por ficar no Líbano definitivamente não tem fundamento. Para ele, o que aconteceu em Nahr el Bared "não reflete o que nós pensamos". "Os palestinos foram os que mais perderam com o conflito."

Protestos

De acordo com a ONU, há hoje 400 mil palestinos no Líbano; destes, 210 mil moram nos 12 campos de refugiados do país. São os que vieram depois de 1948, quando fugiram ou foram forçados a deixar suas casas após a criação de Israel.

Moradores libaneses próximos ao campo de Nahr el Bared já protestaram contra sua reconstrução, exigindo que ele fosse definitivamente fechado.

Segundo o governo, serão necessários US$ 382 milhões para reconstruir o campo, que abrigava cerca de 35 mil refugiados. Alguns países, entre os quais Arábia Saudita e EUA, ofereceram ajuda financeira.

 

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