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Votação abre era de incerteza para Chávez
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FABIANO MAISONNAVE
da Folha de S.Paulo, em Caracas
Prestes a completar nove anos no poder, o presidente da Venezuela, o esquerdista Hugo Chávez, enfrenta hoje um inédito desafio nas urnas para aprovar sua controvertida reforma constitucional, que encerra um ano inesperadamente turbulento para o governo.
A maioria das pesquisas divulgadas na semana passada mostra que, ao contrário das últimas nove eleições --entre referendos e disputas presidenciais e regionais--, Chávez e seus aliados não chegam ao final da campanha com uma vantagem clara. Praticamente todos os levantamentos dão uma vitória do "não" ou um empate técnico. A exceção é a Consultores 30-11, próxima do governo, que dá uma vantagem de 11 pontos percentuais ao "sim".
As pesquisas mostram também que, mesmo entre chavistas, há forte oposição à reforma, principalmente contra a implantação da reeleição indefinida só para presidente e mudanças na propriedade privada.
O diretor do respeitado instituto Datanálisis, Luis Vicente León, tem dito que essa desvantagem é a grande novidade da campanha eleitoral deste ano. Mas ele adverte que o governo tem mais poder de mobilização do que a fragmentada oposição, que só fez um chamado claro ao voto na reta final.
Tempos difíceis
O referendo é o último evento político importante de um ano especialmente difícil para Chávez, que um ano atrás comemorava uma vitória fácil nas eleições presidenciais, com mais de 60% dos votos válidos.
Logo após a vitória, Chávez deixou claro que sua proposta de "socialismo do século 21" não seria apenas retórica e anunciou uma agenda radical, que incluiu a criação do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), a nacionalização da principal empresa de telecomunicações, a Cantv, o fim da concessão da emissora oposicionista RCTV e uma ampla reforma constitucional.
A maior resistência inicial à agenda chavista foi uma inesperada rebelião na base: o partido Podemos se recusou a diluir-se no PSUV e, aos poucos, opôs-se também à reforma constitucional. E isso logo após conseguir, em dezembro, 759.826 votos à reeleição de Chávez (6,5% do total), sendo a segunda força do oficialismo.
A surpresa seguinte para Chávez foi a onda de protestos de estudantes universitários contra a não-renovação da concessão da RCTV, medida que, segundo pesquisas de opinião na época, era rechaçada pela maioria da opinião pública.
Assim como ocorreu com o Podemos, os estudantes fazem uma dura oposição à reforma constitucional, protagonizando protestos que muitas vezes terminaram em choques com policiais e chavistas.
A terceira surpresa desagradável para Chávez foi o rompimento do general da reserva Raúl Isaías Baduel, um colaborador antigo que até julho estava no comando do Ministério da Defesa. Recentemente, Baduel chamou a reforma de "golpe de Estado", transformando-se em um dos porta-vozes contrários às modificações.
Além desses desgastes políticos, Chávez também tem sido cada vez mais responsabilizado pelo problema de abastecimento no país, que já dura cerca de um ano e atinge produtos básicos, como leite e ovos.
Chávez tem negado as dificuldades e mantém a estratégia de vincular a oposição ao "império americano" e de concentrar a campanha em torno de sua figura -com cerca de 60% de aprovação, ele é bem mais popular do que a reforma.
"Os que votam pelo "sim" estão votando por Chávez, os que votam pelo "não" estão votando contra Chávez", disse ao encerrar a campanha.
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