Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
19/02/2008 - 19h01

Oposição vence no Paquistão, mas Musharraf continua no poder

Publicidade

EMMANUEL GIROUD
da France Presse, em Islamabad

Os partidos que apóiam o ditador do Paquistão, Pervez Musharraf, foram derrotados nas eleições legislativas de segunda-feira, o que poderá levar a uma mudança política na única potência militar nuclear muçulmana em favor de uma coalizão de oposição.

Mas Musharraf já deixou claro que não pretende deixar o poder uma vez que esta não foi uma eleição presidencial e ele foi eleito para governar por cinco anos.

Os dois principais movimentos da oposição, o da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, assassinada em 27 de dezembro em um atentado suicida, e o de seu rival dos anos 90, Nawaz Sharif, registram uma ampla vantagem nos resultados provisórios destas eleições legislativas e provinciais.

"Aceitamos o veredicto da nação", declarou à agência de notícias France Presse Tariq Azeem, porta-voz da Liga Muçulmana do Paquistão - Qaid-e-Azam (PML-Q), partido no poder desde 2002 e principal aliado de Musharraf, que tomou o poder em um golpe de Estado em 1999.

Matematicamente, este movimento e seus aliados não poderão mais atingir a maioria absoluta dos assentos na Assembléia Nacional, segundo os resultados ainda parciais desta terça-feira anunciados pela televisão do Estado.

Outra surpresa destas eleições --os partidos islâmicos sofreram um revés maior em relação aos seus resultados nas legislativas de 2002.

A Muttahida Majlis-e-Amal (MMA), uma aliança de partidos fundamentalistas, conseguia nesta terça-feira apenas três assentos, longe dos 50 que dispunha desde 2002.

De fato, as eleições parecem refletir a aversão de uma população, minada pelo medo, pelos grupos armados ligados à rede terrorista Al Qaeda e pelo Taleban, que realizam há cerca de um ano uma campanha de atentados suicidas extremamente violenta em todo o país.

Estes resultados não devem, entretanto, mascarar o desinteresse dos paquistaneses nestas estas eleições marcadas por uma baixa taxa de participação, de cerca de 40%, parecida com as de processos eleitorais anteriores.

Os partidários do Partido do Povo do Paquistão (PPP) de Benazir Bhutto, e a Liga Muçulmana do Paquistão - ala Nawaz (PML-N) do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, derrubado em 1999 pelo golpe de Estado militar do general Musharraf, invadiram desde segunda-feira à noite as ruas das grandes cidades cantando vitória.

Os números da televisão do Estado situavam no fim do dia o PPP, partido liderado pelo viúvo de Bhutto, Asif Ali Zardari, à frente, com 86 assentos, seguido pelo PML-N (65), com grande vantagem sobre o PML-Q (37) e seu tradicional aliado, o MQM (19).

O viúvo de Benazir Bhutto, Asif Ali Zardari, em coletiva de imprensa, afirmou que o PPP tentará formar uma coalizão com as formações da oposição.

"Formaremos um governo de consenso nacional que incluirá todas as forças democráticas", afirmou.

Indagado se essa coalizão poderá incluir membros da derrotada Liga Muçulmana do Paquistão-Q, que apóia Musharraf, Zardari respondeu: "Não estamos interessados em nenhuma dessas pessoas que formaram parte do governo anterior".

O processo eleitoral é acompanhado com ansiedade nas capitais ocidentais, em particular por Washington, que exerceu durante meses pressões intensas e inabituais sobre Musharraf, seu aliado-chave na "guerra contra o terror", para evitar que esta república islâmica de 160 milhões de habitantes mergulhe no caos.

O desafio que há pela frente é preocupante: os Estados Unidos levaram em conta nos últimos meses a idéia de que o armamento nuclear paquistanês possa cair nas mãos de fundamentalistas e reiterou que a Al Qaeda e o Taleban teriam reconstituído suas forças nas zonas tribais do noroeste, na fronteira com o Afeganistão.

Osama bin Laden havia decretado pessoalmente no dia 20 de setembro a jihad contra Musharraf e seu governo, e o noroeste do país passou a ser cada vez mais ocupado pelos talebans.

Os terroristas suicidas ligados à Al Qaeda fizeram de 2007 o ano mais violento da história do Paquistão, com mais de 800 mortos em atentados. Desde o início de 2008, cerca de 150 pessoas foram mortas em uma campanha de terror que se intensificou com a aproximação das eleições, chegando ao ponto mais alto com o atentado suicida que custou a vida de Bhutto.

Nawaz Sharif fez um apelo à oposição para que se una para "retirar o Paquistão da ditadura", enquanto uma mudança maior se desenha: Musharraf, reeleito presidente no dia 6 de outubro, não tem muita escolha, está restrito entre uma coalizão improvável com o PPP ou a renúncia.

Mas Musharraf já deixou claro que não pretende optar pela segunda opção, disse nesta terça-feira um porta-voz, depois que os aliados do presidente reconheceram a derrota.

"Eles se excedem em suas exigências", declarou o porta-voz presidencial, general Rashid Qureshi, indagado sobre os pedidos de Sharif.

"Esta não é uma eleição presidencial. O presidente Musharraf já foi eleito por cinco anos", declarou o porta-voz.

As eleições legislativas podem significar uma revolução neste país que viveu mais da metade de seus 60 anos de história sob o comando de generais golpistas.

"A democracia se vinga!", intitulava nesta terça-feira o jornal paquistanês "The News".

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página