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10/03/2002 - 11h21

NY discute o que fazer com o vazio do WTC

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Nova York

Às 8h46 de amanhã (10h46 de Brasília), exatamente seis meses depois de o primeiro Boeing de passageiros ter atingido a primeira torre do World Trade Center, em Nova York, Michael Bloomberg, o atual prefeito da cidade, vai comandar uma cerimônia em homenagem às 2.830 vítimas do maior ataque terrorista sofrido pelos Estados Unidos em seu território.

No local onde ficavam as torres, batizado de "Ponto Zero" ("Ground Zero") após os atentados, os trabalhos estão mais perto do fim. Do 1,2 milhão de toneladas de entulho, cerca de 90% já foram retiradas e não há muita perspectiva de que muitos mais corpos sejam encontrados, apesar de o cálculo oficial ainda ser de 158 desaparecidos.

Futuro
Se grande parte do passado está aparentemente resolvida, o problema agora é o que fazer do futuro. Ou seja, em que vai se tornar o local que abrigava as duas torres.

Amanhã, na mesma ocasião, Bloomberg inaugurará não um, mas dois memoriais provisórios e improvisados em homenagem às vítimas, e há pelo menos mais uma centena de projetos do mundo todo querendo disputar a honra de ser "o escolhido".

A primeira das homenagens de amanhã é a mudança do globo de bronze danificado que ficava na praça principal do complexo de prédios para o Eisenhower Mall do Battery Park, ao sul da ilha, perto de onde já estão os memoriais dedicados à Segunda Guerra e à Guerra da Coréia.

"A Esfera", como foi batizada por seu criador, o escultor alemão Fritz Koenig, foi inaugurada em 1971, pesa 2,5 toneladas, tem 4,5 metros de altura e virou símbolo das equipes de resgate, limpeza e recuperação que trabalham desde então nos escombros.

O outro evento é o Tributo da Luz, um projeto que vinha sendo defendido por parte dos familiares das vítimas já há algum tempo.
São dois feixes de luz que serão acesos na tarde de amanhã no Ponto Zero e terão aproximadamente a altura das torres.

As 88 luzes que formam os dois canhões ficarão ligadas do pôr-do-sol até as 23h, diariamente, até 13 de abril próximo. A homenagem consumirá cerca de US$ 10 mil em energia elétrica, quantia que será doada pela empresa Con Edison.

Ambas as iniciativas, no entanto, são provisórias, conforme fez questão de reforçar o prefeito. "Não decidimos nada ainda", disse Michael Bloomberg em encontro há alguns dias com a imprensa estrangeira, do qual participou a Folha. "Todos terão o direito de dar sua opinião e então pensaremos no que fazer."

Mais de cem projetos
Uma maneira encontrada pela prefeitura de ouvir a opinião das pessoas sobre as soluções para o espaço foi um concurso aberto no começo do ano -e ainda sem prazo para acabar- de projetos que definem o que deve ser feito ali.

Mais de cem propostas foram enviadas até agora, a maior parte de Nova York, seguida do resto dos Estados Unidos e da Europa.

Há de tudo. Desde uma réplica perfeita das duas torres criadas nos anos 60 pelo escritório do arquiteto japonês Minoru Yamasaki (1912-1986) até uma de óbvio mau gosto, que ergue dois prédios tão altos quanto os originais, mas com dois furos enormes no meio da construção.

A empolgação e a criatividade foram tão grandes que uma galeria de arte nova-iorquina, a Max Protetch, resolveu fazer uma exposição com alguns projetos. A mostra teve recorde de público, atualmente roda o país e deve terminar em Washington no mês que vem.

Desses projetos, um dos mais consistentes e aplaudidos pela mídia foi o do jovem arquiteto Fred Bernstein. A Folha apurou que está entre os preferidos da equipe do prefeito. Primeiro, porque tira o foco da homenagem do local do ataque, que é o que defende Bloomberg desde o começo.

Depois, porque se trata de uma homenagem engenhosa. São dois píeres, no formato das torres e de comprimento equivalente à altura das construções, que saem do sul da ilha de Manhattan, um em direção à Estátua da Liberdade, outro rumo à vizinha Ellis Island.

"Pode levar anos até que seja decidido o que fazer com o Ponto Zero, e isso não é necessariamente ruim", disse à Folha Bernstein. "Mas nós precisamos de um memorial agora, e tenho recebido milhares de e-mails de pessoas que concordam com isso."

O autor do projeto dos dois quebra-mares está sintonizando com o desejo da prefeitura, de utilizar os 65 mil m2 onde ficava o complexo de prédios para fazer dinheiro. "A cidade precisa se recuperar economicamente, e o caminho infelizmente é repovoar o local", disse o arquiteto.

Na mesma ocasião em que havia falado dos planos da prefeitura para a região, Bloomberg afirmou com todas as letras: "Não posso dizer o que será feito do Ponto Zero, mas posso dizer o que não será feito. Não será feito um complexo de prédios do mesmo tamanho e porte do que o que existia lá, até porque o mundo pós-11 de setembro não comporta mais prédios assim".

Ele tem o dinheiro e pelo menos na teoria o poder de dar a palavra final. Resta saber se o resto da população vai concordar.

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