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11/03/2002 - 16h11

Políticos linha-dura estão entre os mais votados na Colômbia

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da Folha Online

Os resultados das eleições legislativas na Colômbia indicam um aumento do apoio popular a candidatos favoráveis a uma ação mais drástica contra os rebeldes de esquerda.

Deputados e senadores que apóiam o candidato independente à presidência Alvaro Uribe Velez, considerado um político de linha-dura, estão entre os mais votados nas eleições de domingo.

Uribe, que lidera as pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de maio, disse que os colombianos votaram pela mudança.

As autoridades eleitorais da Colômbia informaram que o índice de abstenção nas eleições foi de 55%, similar ao das eleições legislativas de 1998.

Segundo analistas, as eleições não são um termômetro para a votação para presidente, em maio, por causa da apatia dos eleitores, candidatos, e das crises nos partidos Liberal e Conservador.

O Partido Liberal manteve a maioria no Congresso da Colômbia nas eleições legislativas que aconteceram com calma no domingo, marcadas pela alta taxa de abstenção em meio a fortes medidas de segurança para evitar atos de sabotagem pela guerrilha de esquerda.

Depois de apurados 25% dos 2,2 milhões de votos, o Partido Liberal (oposição) conseguia a maioria dos postos do Senado e da Câmara, superando o Partido Conservador, as coalizões e os independentes.

Oito horas de votação

As eleições destinadas a nomear 268 congressistas para um período de quatro anos na Colômbia foram encerradas às 16h locais deste domingo (18h de Brasília) depois de oito horas de votação.

As legislativas registraram incidentes violentos isolados, como o sequestro de dois juízes eleitorais e o cancelamento da votação em dois municípios.

Segundo relatórios militares, rebeldes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do ELN (Exército de Libertação Nacional) cercaram localidades dos departamentos de Antioquia, Cauca (sudoeste), Caldas (oeste) e Arauca (nordeste), Caquetá, Nariña e Meta (sul).

A secretária de governo de Meta, Nubia Vélez, disse à imprensa que, depois da avaliação policial e militar, decidiu anular as eleições em Tibayá e Puerto Trujillo.

Dois juízes eleitorais foram sequestrados em Cocorná, departamento de Antioquia (noroeste), informou à imprensa o governador Guillermo Gaviria, que atribuiu o fato a guerrilheiros do ELN.

Em Arauca, 13 guerrilheiros do ELN (segundo grupo rebelde, com 4.000 efetivos) foram detidos numa operação militar, na qual também foram apreendidas pistolas, escopetas, granadas e outros artefatos explosivos.

Cinco guerrilheiros das Farc foram abatidos sábado pelo Exército quando tentavam dinamitar uma ponte no município de San Rafael, departamento de Antioquia (norte).

As eleições renovaram as 102 cadeiras do Senado e as 166 da Câmara dos Deputados. A votação foi um teste de segurança prévio à eleição presidencial, cujo primeiro turno está marcado para o dia 26 de maio. Muitos candidatos reclamam da falta de garantias para a realização das eleições.

Lisura ameaçada

Na quarta-feira, o procurador-geral da Colômbia, Edgardo Maya Villazón, denunciou casos de subornos pagos a membros das mesas de votação.

No dia seguinte, as Farc foram acusadas de sequestrar o responsável pelas eleições e de incendiar o material de votação no município de Puerto Concordia, a cerca de 400 km de Bogotá.

Na sexta-feira (8), o responsável pelas eleições no Departamento (Estado) de Cundinamarca, que abrange Bogotá, foi suspenso por fazer campanha para um candidato cujo nome não foi divulgado.

Também têm sido frequentes as denúncias de ameaças a candidatos e constrangimentos a eleitores por parte dos grupos paramilitares de extrema direita.

No final de fevereiro, Salvatore Mancuso, um dos líderes das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), principal grupo paramilitar do país, disse num comunicado que pretende eleger até 30% do novo Congresso.

No mesmo comunicado, Mancuso afirmou que as AUC não apóiam nenhum candidato à Presidência, mas disse que a eleição do direitista Alvaro Uribe Vélez, favorito absoluto nas pesquisas, "beneficiará a maioria dos colombianos, entre eles a base social das AUC".

O principal adversário de Uribe, o liberal Horacio Serpa, o acusa de fomentar o paramilitarismo no país. Em entrevista à Folha, há dez dias, Serpa disse que a ação dos paramilitares trazia dúvidas à lisura do processo eleitoral e que poderia questionar o resultado da eleição de hoje se considerar que a situação permaneceu inalterada.

Para o analista político e consultor militar Alfredo Rangel, apesar de todas as pressões, sequestros e assassinatos durante a campanha, os resultados do pleito poderão ser considerados legítimos.

"Nos últimos anos, na Colômbia, tradicionalmente há pressões de grupos armados para interferir no processo eleitoral, mas não há costume desses grupos de sabotar as eleições em si", diz Rangel.

Para o analista, o objetivo desses grupos é "complementar o controle territorial de certas zonas do país, com a eleição de candidatos que têm algum tipo de ligação com eles". "Mas são pressões muito localizadas, em certas regiões do país."

A ação militar para a retomada da área de 42 mil km² (do tamanho da Suíça), cedida às Farc em 1998 como condição para o início do processo de paz, não deve interferir no pleito, para Rangel.

"Aquela região tem apenas cinco municípios e é uma zona despovoada, com apenas dois habitantes por km². As ações militares não terão nenhuma incidência sobre a realização das eleições", afirma Rangel.

Segundo a Registradora Nacional de Estado Civil, 5 dos 32 Departamentos (Estados) do país devem receber uma atenção especial hoje, por causa da presença de grupos guerrilheiros ou paramilitares: Putumayo, Caquetá, Magdalena, Arauca e Vaupés.

Desde o rompimento do processo de paz, há 18 dias, as Farc vêm mantendo uma forte ofensiva contra a infra-estrutura do país, dinamitando pontes, oleodutos, torres de transmissão de energia e centrais telefônicas. Dezenas de municípios do país continuam isolados, sem acesso por terra, sem luz, água ou telefone.

A violência pós-rompimento já provocou pelo menos 144 mortes, entre membros das Forças Armadas (48), guerrilheiros (87) e paramilitares (9).

Com BBC e Reuters
 

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