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24/07/2008 - 08h56

Sérvia procura quem ajudou Karadzic a assumir identidade falsa

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da Folha Online

As autoridades sérvias estavam investigando nesta quinta-feira quem ajudou o ex-líder sérvio-bósnio Radovan Karadzic a assumir a identidade falsa que permitiu a ele evitar sua captura por acusações de genocídio por mais de uma década.

Bruno Vekaric, porta-voz da Promotoria sérvia para crimes de guerra, disse que essas pessoas serão encontradas e processadas. Ele acrescentou que os investigadores estavam tentando também determinar a identidade verdadeira de Dragan Dabic --o nome usado por Karadzic durante os mais de 12 anos que ele fugiu da Justiça.

Karadzic foi preso em Belgrado na segunda-feira (21) e está aguardando extradição para o Tribunal Penal internacional para a ex-Iugoslávia, em Haia, na Holanda.

Reuters
Ex-líder sérvio-bósnio aparece em um vídeo participando de uma palestra
Ex-líder sérvio-bósnio aparece em um vídeo participando de uma palestra

De acordo com oficiais sérvios, Dabic morreu em 1993 em Sarajevo. A mídia sérvia informou que Dabic era um lutador sérvio que morreu na guerra. Mas em Sarajevo, relatos dizem que ele foi um civil morto pelas tropas de Karadzic quando elas tomaram a capital durante a guerra.

As discrepâncias sobre a verdadeira identidade de Dabic existem porque existiam vários homens com o mesmo nome em Sarajevo naquele tempo. Vekaric se negou a especular. "Há sete Dragan Dabics em Sarajevo, vivos ou mortos", disse à Associated Press em uma entrevista por telefone.

Segundo o porta-voz, Karadzic obteve os documentos falsos enquanto o regime do ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic (1987-2000) estava no poder.

Ele disse também que o RG falso com o nome de Dragan Daric foi emitido para Karadzic em Ruma, uma cidade ao norte de Belgrado, e que um notório comandante paramilitar local estava aparentemente envolvido com a papelada.

O comandante, Slobodan Medic, está sendo julgado por envolvimento com o assassinato de cerca de 8.000 muçulmanos bósnios em Srebrenica em 1995, pelas tropas de Karadzic.

Protestos

Ontem, cerca de 300 pessoas se reuniram no centro de Belgrado para protestar contra a detenção de Karadzic. A manifestação, a terceira do tipo que acontece desde segunda-feira, foi convocada por várias ONGs nacionalistas e terminou sem maiores incidentes.

Vigiados por grande aparato policial, os manifestantes gritaram palavras como "traição", "Sérvia", e os nomes de Karadzic, Ratko Mladic, Vojislav Seselj e outros supostos criminosos de guerra sérvios.

Alguns dos manifestantes levavam bandeiras do Partido Radical Sérvio (SRS) e do movimento ultranacionalista Obraz, assim como camisetas com a imagem de Karadzic. Os manifestantes empreenderam também uma passeata pelas ruas do centro da capital. Na terça-feira, Belgrado foi palco de manifestação semelhante.

Autodefesa

Segundo seu advogado, Karadzic deve assumir a própria defesa durante seu processo em Haia, da mesma forma que fez seu aliado Slobodan Milosevic --ex-presidente sérvio, enviado a Haia em 2000 e que morreu em 2006, antes da conclusão de seu processo.

"Karadzic terá uma equipe de juristas na Sérvia que o ajudará em sua defesa, mas defenderá a si mesmo no TPII", afirmou ontem o advogado Svetozar Vujacic à imprensa. "Ele está convencido que, com a ajuda de Deus, ganhará". Segundo o advogado, seu cliente estava em boas condições mentais e físicas. Ele não estava falando com os investigadores, mas "se defendendo com o silêncio".

Karadzic foi detido na segunda-feira à noite (21) em Belgrado pelos serviços secretos sérvios depois de ter permanecido foragido por quase 13 anos, desde que em 1995 foi acusado de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra. Durante esse período conseguiu escapar das autoridades utilizando uma identidade falsa.

Ontem, Karadzic também tentava retardar sua transferência para a Justiça Internacional em Haia. Amparado na lei sérvia, Vujacic disse que só apresentará recurso contra a transferência de Karadzic amanhã (25), no último dia do prazo previsto pela lei, para atrasar o máximo possível sua apresentação ao TPII. Depois de apresentado o recurso, os juízes do tribunal de Belgrado encarregado de julgar os crimes de guerra terão três dias para se pronunciar.

Acusado de crimes de guerra que incluem o pior massacre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Karadzic usava uma identidade falsa e trabalhava como médico em um consultório de medicina alternativa em Belgrado.

Imagens de Karadzic divulgadas após o anúncio de sua prisão mostravam o ex-líder sérvio-bósnio de cabelos e barba brancos e compridos. Uma delas mostrava ele usando óculos. Segundo as autoridades sérvias, ele trabalhava em um consultório de medicina alternativa na capital sérvia.

Quando foi detido em um ônibus nas proximidades Belgrado, dando fim a mais de uma década de busca, Karadzic carregava um documento de identidade com o nome de Dragan Dabic. O nome falso era o mesmo usado para colaborar com uma revista sobre saúde.

Karadzic cortou o cabelo e fez a barba. Vujacic, que visitou seu cliente na prisão em Belgrado, disse que Karadzic "está como novo, com o mesmo aspecto de 14 anos atrás, barbeado, com o cabelo curto". Segundo o advogado, Karadzic "não envelheceu nada, só está um pouco mais magro".

Segundo o porta-voz da Procuradoria sérvia de crimes de guerra, Bruno Vekaric, Karadzic pode ser extraditado ao TPII no final desta semana ou no começo da próxima. Apesar da previsão, Vekaric não precisou a data da extradição.

Perfil

Karadzic, um dos maiores fugitivos acusado de crimes de guerra, foi acusado de arquitetar os assassinatos em massa que o tribunal da ONU (Organização das Nações Unidas) para crimes de guerra descreve como "cenas do inferno, escritas nas páginas mais negras da história humana".

Reuters
Montagem mostra foto recente do ex-líder sérvio-bósnio Radovan Karadzic e imagem dele em 1995; ele foi preso na Sérvia
Montagem mostra foto recente do ex-líder sérvio-bósnio Radovan Karadzic (à esq.) e imagem dele em 1995; ele foi preso na Sérvia

Acusado de organizar o massacre de 8.000 muçulmanos em Srebrenica, em 1995, entre outras atrocidades da Guerra da Bósnia (1992-1995), Karadzic liderou a lista dos mais procurados por mais de dez anos, recorrendo a disfarces elaborados para fugir das autoridades.

Ele foi o líder político dos bósnios-sérvios durante a guerra entre 1992 e 1995 que sucedeu a secessão da Bósnia-Herzegovina da Iugoslávia --quando houve o massacre de Srebrenica e do cerco a Sarajevo.

Formado psiquiatra, Karadzic, 63, se declarou presidente de uma república sérvio-bósnia quando a Bósnia-Herzegovina se separou da Iugoslávia, e foi visto em público pela última vez em 1996.

Com Associated Press

 

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