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13/09/2008 - 02h33

Obama: O preço de ser negro

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ANDREW HACKER
DA NEW YORK REVIEW OF BOOKS

Em maio, Hillary Clinton descreveu muitos de seus principais eleitores como "norte-americanos que trabalham arduamente, norte-americanos brancos". A votação nas primárias da Pensilvânia, Ohio e Virgínia Ocidental serviu para confirmar essa avaliação. A declaração dela parecia alegar --sem fazê-lo diretamente-- uma vantagem sobre Obama, e uma vantagem devida à raça. Mas precisamos saber mais. Podemos compreender que o fato de que alguém seja um agricultor, um operador de mercado financeiro ou um colecionador de armas influencie seu voto. E podemos entender os motivos para que os norte-americanos negros desejem ver uma pessoa de sua raça na Casa Branca. Mas o que exatamente faria com que um eleitor, por ser branco, se inclinasse por um candidato em detrimento de outro?

A senadora Clinton deu a entender que essa identidade era saliente para alguns eleitores, e que ela poderia atrai-los. Pesquisas demonstram que entre 15% e 20% dos eleitores brancos nos três Estados mencionados afirmam que "raça" é um dos fatores que definem seu voto, e ficamos sem saber qual é a importância desse fato e que proporção dos eleitores teria dito a mesma coisa se todos fossem igualmente francos diante dos entrevistadores. As pessoas se sentem incomodadas ao falar sobre o assunto raça, mas persiste o sentimento de que essa parte da herança de Obama possa virar a eleição contra ele em 4 de novembro.

1) Barack Obama só poderá se tornar presidente caso inspire um comparecimento de eleitores às urnas em número superior ao dos votos que ele não obterá. Isso bem pode significar que um número maior de norte-americanos negros terá de ir às urnas do que em qualquer eleição do passado, no mínimo porque o eleitorado é predominantemente branco e não se sabe para onde irá o voto branco. Os obstáculos ao voto negro sempre foram formidáveis, mas este ano haverá barreiras --algumas novas, outras já antigas-- que campanhas anteriores não enfrentaram.

Já há muito tempo, o ímpeto político vinha sendo na direção do voto universal. As qualificações patrimoniais foram abolidas; o imposto a ser pago pelos eleitores foi eliminado; a idade do voto foi reduzida a 18 anos. Mas agora existem forças significativas em ação para reduzir o eleitorado, ostensivamente para combater fraudes e remover do registro eleitoral votantes desqualificados por um ou outro motivo. Mas o efeito real dessas medidas é que dificultam o voto para muitos norte-americanos negros, em larga medida porque eles são mais vulneráveis a essa forma de contestação do que outras partes da população.

Licença para votar

Em uma decisão por seis a três redigida pelo juiz John Paul Stevens no caso Crawford vs. Conselho Eleitoral do Condado de Marion, a Corte Suprema dos Estados Unidos sustentou uma lei adotada em 2005 pelo Estado de Indiana, sob a qual os eleitores do Estado teriam de apresentar um documento estadual dotado de fotografia nas urnas.

Na prática, isso quer dizer carteira de motorista ou passaporte. Já que menos de um terço dos adultos norte-americanos dispõem de passaportes, o caso de Indiana girava basicamente em torno do número de cidadãos adultos desprovidos de carteiras de motorista. Durante as audiências, diversos juízes pressionaram o advogado do queixoso por respostas. Por motivos que eu não consigo compreender, ele persistia em mencionar o número 43 mil, para um Estado cuja população em idade eleitoral é de 4,6 milhões de pessoas.

Na verdade, a Administração Rodoviária Federal, em um relatório facilmente acessível, informa que 673.926 residentes adultos de Indiana estão desprovidos de carteiras de motorista, o que representa o nada trivial total de 14,7% dos potenciais eleitores no Estado. Caso essa porcentagem tivesse sido enfatizada, seria possível conjecturar que os juízes Stevens e Anthony Kennedy mudassem de posição.

Requerer uma carteira de motorista no momento da votação tem efeito desproporcional entre as raças, uma constatação que no passado já atraiu atenção judicial. Para solicitar a carteira estadual de identidade que Indiana oferece como alternativa, além disso, as pessoas que não dirigem precisam recorrer ao departamento de veículos motorizados mais próximo, o que poderia representar uma longa jornada, para algumas delas. Embora as carteiras de motorista não distingam as pessoas por raça, o juiz David Souter mencionou estudos relevantes sobre a raça dos portadores desse documento no Estado, em sua opinião dissidente, que contou com a adesão dos juízes Stephen Breyer e Ruth Bader Ginsburg.

Em uma pesquisa conduzida pelo Departamento da Justiça em 1994, foi encontrada entre os negros da Louisiana propensão quatro a cinco vezes maior a não dispor da foto necessária a um documento de identificação. (Para não mencionar falta de acesso a um carro; basta recordar quantos deles não puderam fugir quando o Katrina estava se aproximando.) Uma pesquisa publicada no Wisconsin em 2005 foi ainda mais precisa. Não menos de 53% dos negros adultos no Condado de Milwaukee estavam desprovidos de carteiras de motorista, ante 15% dos adultos brancos no restante do Estado. De acordo com o autor do estudo, disparidades semelhantes podem ser constatadas em todo o país.

A decisão sobre o caso de Indiana não só dificultará o registro de novos eleitores como obrigará muita gente que se registrou sem documentos que portassem foto, no passado, a apresentar um documento com foto na hora de votar. Se o condado de Marion (Indianapolis) tiver proporção de eleitores sem carteira de motorista semelhante à do condado de Milwaukee, minha contagem indica que 44 mil moradores negros do condado precisarão recorrer aos serviços de veículos motorizados para solicitar seu documento estadual de identidade, e garantir que todos os itens de suas requisições sejam preenchidos corretamente. Se estendermos essas proporções ao restante do país, isso significa que muita assistência prática será necessária.

Registros eleitorais

Em 2002, o Congresso aprovou uma lei com o simpático título de "Ajudando a América a Votar", supostamente com o objetivo de impedir que problemas como os que causaram dúvidas sobre o resultado da eleição presidencial de 2000 voltassem a acontecer. Para garantir que os eleitores não enfrentassem problemas em suas seções eleitorais, cada Estado tem a obrigação de manter uma "lista eletrônica de registro de eleitores", de alcance estadual, à qual cada distrito teria acesso eletrônico. Os Estados também foram instruídos a manter essas listas atualizadas, eliminando os eleitores que morrem ou se mudam. Um dos métodos é o envio de cartas a todos os eleitores registrados, e a eliminação dos nomes daqueles eleitores cujas cartas são devolvidas porque eles não puderam ser localizados.

Mas as famílias negras tendem a se mudar mais, especialmente nas cidades, e poucas delas se lembram de notificar as autoridades eleitorais quanto a isso. Quando o Ohio eliminou de seu registro eleitoral 35.427 eleitores não localizados, em 2004, uma revisão constatou que seus endereços ficavam "majoritariamente em áreas urbanas e ocupadas por minorias". Nesse caso, também, o procedimento para retornar ao registro eleitoral pode ser tão trabalhoso quanto o necessário a corrigir um erro em um histórico de crédito.

A Flórida não utiliza o sistema de confirmação postal de eleitores. Em lugar disso, emprega computadores que comparam os nomes dos eleitores aos seus números de Seguro Social, que são depois enviados a Washington (na verdade Baltimore) para determinar se eles procedem.

Quem quer que tenha desenvolvidos esse sistema deveria saber que a Administração do Seguro Social é incapaz de confirmar nomes submetidos em 28% dos casos em que é consultada; por exemplo, nos casos em que se trate do nome de solteira de uma mulher casada, ou do nome de uma mulher que tenha retornado ao seu sobrenome original depois de um divórcio. Para não mencionar a possibilidade de erros de digitação --basta um algarismo errado para impossibilitar a confirmação.

A Flórida também utiliza a lei de ajuda ao eleitor para verificar registros criminais, já que pessoas condenadas por crimes perdem o direito ao voto. Nesse caso, no entanto, estranhamente, o Estado requer que apenas 80% das letras do nome verificado coincidam com o registro. Assim, se existir um sujeito chamado John Peterson condenado por homicídio, o software cassa o direito de voto de todos os homens chamados John Peters.

Tendo em vista as estatísticas raciais quanto à população carcerária, a probabilidade de que os negros tenham nomes que se assemelhem de perto aos de portadores de fichas criminais é muito mais elevada. O sistema adotado pela Flórida para depurar seu registro eleitoral foi aprovado por dois a um em um tribunal federal de recursos, alguns meses atrás. A juíza que dissentiu, Rosemary Barkett, indicada para o posto no governo de Bill Clinton, foi a única a apontar para o impacto racial desproporcional do sistema. Ela afirmou que, embora os negros compreendam 13% do total de eleitores pesquisado, eles respondem por 26% dos eleitores excluídos da lista. Os brancos, que respondem por 66% do total de eleitores, representam apenas 17% dos nomes expurgados. Uma vez mais, se a pessoa tiver tempo e paciência, ela pode alegar que o computador estava errado e tentar localizar documentos que demonstrem que existe e jamais foi criminosa.

O caso dos presidiários

Em proporção às dimensões de nossa população, os Estados Unidos são líderes mundiais em número de pessoas encarceradas, com um total atual de 2,3 milhões de detentos. Entre os presidiários, os negros superam os hispânicos em proporção superior a dois para um e os brancos em proporção de mais de seis para um. Esse é mais um dos motivos para que a proporção de cidadãos negros que não poderão votar este ano seja ainda mais alta porque eles estão entre os 882.300 negros que estão servindo sentenças de prisão ou entre os mais de dois milhões que já cumpriram suas penas, mas ainda assim continuam desprovidos do direito de voto.

De acordo com "Restoring the Right to Vote" [restaurando o direito de votar], um relatório preparado pelo Centro Brennan de Justiça da Escola de Direito da Universidade de Nova York, 13% dos homens negros estão privados do direito de voto, em três Estados 20% deles não votam porque ou estão ou estiveram encarcerados.

Alguns Estados determinam que certos crimes condenam os culpados à perda permanente de seu direito de voto. No caso do Alabama, esses crimes incluem assediar uma criança sexualmente pelo computador, estar de posse de material obsceno e traição. Sim, existem crimes hediondos, mas servir uma sentença supostamente significa que a dívida do condenado para com a sociedade está paga. De fato, o desejo de votar pode ser visto como demonstração de que a pessoa está disposta a aceitar suas obrigações como cidadão.

A Virgínia adota postura especialmente severa quanto a crimes relacionados a drogas, o que representa o principal motivo para que tantos norte-americanos negros estejam aprisionados lá, ainda mais dada a facilidade com que esse tipo de detenção é realizada. Os criminosos libertados precisam esperar por sete anos antes de se registrarem como eleitores, e o pedido precisa ser acompanhado por sete documentos e diversas cartas de referência, e de uma carta ao governador detalhando "como a vida do requerente mudou" e especificando "por que ele acredita que seus direitos devam ser restaurados".

O Mississippi adota regime semelhante: com 155.127 prisioneiros libertados entre 1992 e 2004, o total de pedidos de restauração do direito de voto que as autoridades aprovaram foi de apenas 107. A perda dos direitos políticos dos ex-detentos do Kentucky reduziu em 24% o eleitorado negro potencial do Estado.

De acordo com relatório do Brennan Center, apenas Maine e Vermont permitem que detentos votem (como o fazem em Israel e no Canadá). Treze Estados, entre os quais Pensilvânia e Michigan, permitem que ex-detentos votem, enquanto 25 deles suspendem o direito deles ao voto enquanto estiverem em liberdade condicional. Os outros 10, entre os quais Alabama e Virgínia, dificultam a tal ponto o processo de restauração do direito de voto que a maioria das pessoas prefere nem tentar. E tampouco parece existir nesses Estados qualquer sentimento favorável à remoção das proibições ou redução das barreiras.

Assim, permitir que os ex-detentos voltem a se tornar cidadãos plenos requererá uma campanha longa, que não deve ter muito efeito sobre as próximas eleições.

2)Embora um comparecimento alto do eleitorado negro deva obviamente beneficiar Obama, determinar se ele conquistará a presidência dependerá das decisões dos eleitores brancos (a maioria dos hispânicos se definem como brancos ou não designam raça). No total, 94,2 milhões de brancos norte-americanos participaram da eleição de 2004, ante apenas 13,7 milhões de negros; e 58% dos brancos votaram em George W. Bush, ante apenas 41% que optaram por John Kerry. Assim, a campanha de Obama, mesmo que conte com a ajuda dos eventos externos, teria de convencer muitos brancos a mudar de opinião.

Já existem sinais de perigo. Em três Estados, a questão racial para todos os efeitos constará da cédula. Colorado e Nebraska estão oferecendo aos seus eleitores a oportunidade de proibir programas de ação afirmativa. As propostas em ambos os Estados portam a designação 'iniciativa de direitos civis', por instigação do ativista político negro Ward Connerly, que conseguiu que a ação afirmativa fosse proibida na Califórnia e inspirou campanhas semelhantes em outros Estados.

Os indícios são de que ambas as propostas serão aprovadas, e com votos de sobra. Foi o que aconteceu na Califórnia (1996), em Washington (1998) e no Michigan (2006), Estados que tendem a ser liberais do ponto de vista político. O motivo não é difícil de identificar. Incluir um referendo sobre a ação afirmativa na eleição encoraja as maiorias brancas a se identificar em termos raciais. Elas estarão votando para restaurar seus direitos.

O que poucas vezes se diz abertamente é que muitos brancos norte-americanos se sentem racialmente lesados. Eles são representados por pessoas como Barbara Grutter e Jennifer Gratz, cuja petição pelo fim das medidas de ação afirmativa chegou à Corte Suprema em 2003. Elas alegavam que vagas que de outra maneira lhes teriam cabido na Universidade do Michigan haviam sido concedidas a candidatos negros menos qualificados. Isso significava, em sua alegação, que haviam sido rejeitadas por serem brancas, o que estabelece uma preferência oficial por outras raças. Em decisões separadas, a Suprema Corte sustentou por margem estreita o método de ação afirmativa adotado pela Escola de Direito da universidade, mas forçou a universidade a revisar o sistema adotado para selecionar seus alunos de graduação.

O que raramente vemos mencionado é o fato de que Grutter e Gratz não eram excelentes candidatas. Para expressar sua situação de maneira crua, elas não ocupavam posições elevadas na "lista branca". E muitos brancos se vêem na mesma situação. São eles que não conseguem admissões ou promoções, e por isso sentem que o peso da ação afirmativa recai sobre suas costas. E tampouco se pode afirmar que estejam errados quanto a isso, como Obama observou em seu discurso de Filadélfia.

Além disso, esses sentimentos quanto à ação afirmativa parecem fortes em todo o país, mesmo em Estados nos quais essas questões não tenham sido votadas. O termo "amargurado", que Obama empregou, pode descrever muitas famílias brancas de classe operária ou média cujos filhos terminaram rejeitados por universidades em seus Estados.

Isso explica por que perto de 65% dos eleitores brancos na Califórnia, Washington e Michigan votaram pela proibição, e porque proporções semelhantes são antecipadas no Colorado e no Nebraska em novembro. Assim, uma tarefa da campanha de Obama é garantir que essa causa branca e é esse o nome que a questão merece não influencie a disputa presidencial. Embora os dois Estados contem com apenas 14 votos no colégio eleitoral, eles poderiam fazer diferença.

Duas senadoras democratas, Patti Murray, de Washington, e Debbie Stabenow, do Michigan, podem ter alguns conselhos úteis a respeito. Em 1998 e 2006, era evidente que muitos dos eleitores de cujos votos elas necessitariam para se eleger também apoiariam a proibição à ação afirmativa. No entanto, Murray conseguiu vencer com 58% dos votos e Stabenow obteve 56%.. A maneira pela qual elas conseguiram manter sua campanha separada da causa da rejeição à ação afirmativa, por exemplo enfatizando as questões econômicas, é um exemplo instrutivo.

No momento em que estou escrevendo este artigo, diversas pesquisas de opinião pública dão 47% das preferências a Obama e cerca de 45% a McCain, um declínio de diversos pontos percentuais para Obama, ante as pesquisas de maio e julho. Há muitos respondentes indecisos.

Ao mesmo tempo, as estimativas Estado a Estado do site pollster.com mostram Obama em vantagem em termos de votos no Colégio Eleitoral, mas consideram que 102 desses votos ainda estão completamente em aberto. Mas, tanto agora quanto mais tarde, existe uma chance de que as porcentagens reais sejam o oposto das que mencionei. Algumas pessoas dizem aos pesquisadores que votarão em Obama, mas podem estar mentindo.

Esse tipo de comportamento é conhecido como "o efeito Bradley", uma referência a Tom Bradley, prefeito negro de Los Angeles derrotado em sua candidatura ao governo do Estado, em 1982.

Embora todas as pesquisas o mostrassem na liderança diante de seu oponente branco, o resultado final não foi esse. As coisas não se provaram muito diferentes em outras eleições que envolviam candidatos negros. Em 1989, David Dinkins tinha vantagem de 18% nas pesquisas eleitorais quanto à disputa da prefeitura de Nova York, mas sua margem de vitória foi de apenas 2%.

No mesmo ano, David Wilder era visto como favorito com 9% de vantagem para conquistar o governo da Virgínia, mas sua margem de vitória foi de apenas 0,5% do voto popular. E os exemplos não se limitam ao passado. No Michigan, em 2006, a última pesquisa previa que a proposta quanto à proibição da ação afirmativa venceria com estreitos 51%, mas na verdade ela obteve 58% de aprovação. Trata-se de um efeito Bradley de sete pontos percentuais, o que não é pouco.

Os especialistas em pesquisas justificam dizendo que os respondentes muitas vezes mudam de idéia no último minuto, ou que conservadores se dispõem menos a responder a pesquisas. Um outro fator é que mais eleitores ausentes têm votado pelo correio, e não se sabe de que forma essas decisões antecipadas são refletidas nas pesquisas. Mas o efeito Bradley persiste depois que os eleitores efetivamente votam. Nas pesquisas de boca de urna, os resultados indicam que os eleitores brancos votaram em candidatos negros mas os totais dos distritos em que as pesquisas são conduzidas não confirmam essa votação. Ou seja, os eleitores mentem para pesquisadores que não conhecem e que nunca mais verão.

Barack Obama deseja pensar que "a culpa branca [quanto ao tratamento dos negros] em larga medida se exauriu nos Estados Unidos". Já eu não tenho a mesma certeza. Quase todas as pessoas que rejeitam candidatos negros alegam ter motivos não raciais para fazê-lo. E muitas delas indubitavelmente acreditam no que estão dizendo. Por isso, não estou convencido de que o efeito Bradley não se fará sentir este ano. A direção de campanha de Obama faria bem em imprimir cartazes em letras garrafais para exibição em todos os seus escritórios: SEMPRE SUBTRAIAM 7%!

Déficit histórico

Desde 1968, o Partido Democrata se provou incapaz de conquistar maioria entre os eleitores norte-americanos brancos. Al Gore registrou 12% de desvantagem entre os eleitores brancos em 2000, e quatro anos mais tarde John Kerry perdeu por margem de 17 pontos percentuais nesse grupo.

Tudo começou com a estratégia de Richard Nixon, inicialmente direcionada ao sul do país. Quando os negros conquistaram direitos eleitorais plenos, os democratas, então dominantes, começaram a se transformar em um partido bi-racial, o que desconcertou muitos eleitores brancos. Por isso, Nixon os convidou a aderir ao Partido Republicano, garantindo que, em seu partido, não haveria pressão pela integração.

A fórmula continuou a funcionar quando transferida ao norte do país, com o surgimento de uma ala de eleitores do republicano Ronald Reagan entre os democratas. Na convenção republicana de 2000, havia apenas 85 negros entre os 2.022 delegados do partido. Existe uma proporção desconhecida do eleitorado branco dos Estados Unidos que não deseja apoiar um partido em que os negros estejam plenamente integrados "da mesma forma que", como apontou Darryl Pinckney, "eles não continuariam a viver em uma rua que se tornasse integrada demais".

Tomei o cuidado de não empregar o termo "racismo" até agora. O termo em si se tornou um obstáculo à compreensão. Quando os brancos o ouvem, tendem a congelar e a apresentar uma lista de motivos pelos quais não se aplica a eles. Afinal, a maioria dos norte-americanos admira Oprah Winfrey, gosta de Tiger Woods e respeita Colin Powell.

Mas o racismo persiste, ainda que não expresso publicamente e especialmente na crença de que a pessoa provém de uma categoria superior. Neste caso, porém, não muito brancos consideram Obama como inferior a eles --esnobe e arrogante, talvez, mas ninguém critica seu intelecto. Há algum ressentimento quanto à percepção de que negros desfrutam de privilégios, como vimos no que tange à ação afirmativa, e até mesmo temor de alguma forma de revanche racial.

Mais de metade de um grupo de entrevistados majoritariamente branco em uma pesquisa da Rasmussen disseram sentir que Obama continua a compartilhar de pelo menos algumas das opiniões do reverendo Jeremiah Wright sobre os Estados Unidos.

Quanto aos sentimentos subjacentes, as pesquisas não ajudam muito. Por exemplo, em uma pesquisa da rede de TV ABC e do "Washington Post" em junho, 20% dos brancos que responderam disseram que a raça do candidato influenciaria fortemente o seu voto, e 30% admitiram sentir preconceito racial. Caso o efeito Bradley proceda, talvez um terço dos eleitores considerem as questões raciais como importantes. (Todos conhecemos brancos que votarão em Obama porque querem um presidente negro, o que também é um motivo racial.) Em julho, 70% dos brancos responderam a uma pergunta da rede de TV CBS e do "New York Times" afirmando que sentiam que o país "estava pronto a eleger um presidente negro". É evidente que isso é o que as pessoas se sentem obrigadas a responder, hoje. Mas algumas delas poderiam ter acrescentado "desde que não seja Barack Obama" à sua resposta. As pesquisas não têm como medir as apreensões brancas quanto a ter um negro na chefia do governo.

Michael Tomasky disse que, para vencer, Obama "precisará construir coalizões multi-raciais". O que parece mais necessário, em minha opinião, é a condução de duas campanhas paralelas: uma discreta, para garantir o máximo comparecimento negro, e uma mais pública, para enfatizar ao máximo o apoio branco de que a chapa Obama-Biden já desfruta.

Seus comícios, discursos e propaganda se beneficiariam da presença de rostos brancos, acompanhados por declarações de apoio de veteranos brancos das forças armadas, líderes sindicais e chefes de polícia e bombeiros. Os partidários negros do candidato saberão o que está acontecendo, e não interpretarão o fato como rejeição.

ANDREW HACKER é cientista político, professor emérito do Queens College, em Nova York, e autor, entre outros, de "Two Nations: Black and White, Separate, Hostile, Unequal" (Duas nações: branca e negra, separadas, hostis, desiguais)

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Comentários dos leitores
hugo chavez (262) 11/01/2010 22h49
hugo chavez (262) 11/01/2010 22h49
As "autoridades" de imigração dos eua encobriram maus-tratos a estrangeiros e falta de atendimento médico nos casos de detidos mortos na prisão nos últimos anos, denunciou o jornal "The New York Times". A informação é parte do conteúdo de documentos internos e confidenciais obtidos pela publicação e a ONG União Americana de Liberdades Civis. Ambos se acolheram a uma lei de transparência que obriga à divulgação deste tipo de informação pelo governo. Os documentos mencionam os casos de 107 estrangeiros que morreram nos centros de detenção para imigrantes desde outubro de 2003. "Certos funcionários, alguns deles ainda em postos-chave, usaram seu cargo para ocultar provas de maus-tratos, desviar a atenção da imprensa e preparar declarações públicas com desculpas, após ter obtido dados que apontavam os abusos". É mais uma da "democracia" estadounidense que vive apontando o dedo para os outros. Quanto tempo e quantas patifarias ainda faltam para que alguns reconheçam que "liberdade e democracia" são MITOS nos eua. Ali acontece todo o tipo de manipulação, tortura, conchavo, tráfico, suborno, violência, abuso, enfim, toda a sorte de patifarias. Os eua estão mergulhados no mais profundo colapso em TODOS os sentidos. Não dá mais para encobrir que eles não se diferenciam em nada de TODOS os regimes que criticam, mas, como tem o poder das armas e são totalmente influenciados pela doutrina nazi sionista racista e fascista, são os maiores e verdadeiros grandes TERRORISTAS do mundo. São os condutores das maiores mazelas nos 4 cantos e o povo estadounidense precisa recuperar o poder e realmente conseguir resgatar sua Nação. Para começar, é preciso ter presidentes de verdade e não fantoches de 2 partidos que têm os mesmos "senhores", o sionismo internacional. Vivemos um momento decisivo onde devemos apoiar a Resistência mundial e lutar para derrubar o eixo que venceu o outro eixo na 2ª guerra e construir um mundo livre voltado para o socialismo do século XXI. Não ao capitalismo e ao comunismo, duas faces da mesma moeda controladas pelos sionismo. sem opinião
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Luciano Edler Suzart (40) 09/10/2009 10h20
Luciano Edler Suzart (40) 09/10/2009 10h20
A situação é periclitante, se antigamente se concedia o Nobel da Paz a quem de algum modo, plantava a paz no mundo, hoje (dada a escassez de boa fé geral) se concede o prémio a quem não faz a guerra... Como diria o sábio Maluf: "Antes de entrar queria fazer o bem, depois que entei, o máximo que conseguí foi evitar o mal"
Só assim pra se justificar esse Nobel a Obama, ou podemos ver como um estímulo preventivo a que não use da força bélica que lhe está disponível contra novos "Afeganistões" do mundo.
1 opinião
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honório Tonial (2) 16/05/2009 21h47
honório Tonial (2) 16/05/2009 21h47
Considero ecelente vosso noticiario. Obrigado, aos 83 anos de mnha vida, 8 opiniões
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