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11/09/2002
-
08h00
"Se você quiser me chamar de alguma coisa, me chame de sobrevivente", diz o bombeiro Bobby Le Rocco.
O quartel do Corpo de Bombeiros de Great Jones Street, em Nova York, perdeu dez companheiros no dia 11 de setembro, e para o tenente Le Rocco e o resto da equipe lotada no quartel, a imagem de herói conferida pela opinião pública, imprensa e as autoridades municipais é incômoda.
O quartel de Great Jones Street, na baixa Manhattan, é um exemplo clássico das velhas estações da cidade, com dois caminhões e uma equipe unida de bombeiros.
As duas unidades, com 15 membros responderam ao primeiro chamado de emergência, e só cinco homens voltaram ao quartel.
Uma das estações mais afetadas pelos ataques terroristas, a de Great Jones Street recebeu mais atenção do público e dos meios de imprensa do que gostaria de ter recebido, na maioria bem intencionada e sincera, mas em parte intrusiva e não procurada.
Nos dias e semanas que se seguiram aos atentados, os vizinhos se reuniam diariamente na estação, fazendo preces improvisadas e levando flores e velas para recordar os bombeiros mortos.
"De alguma forma, acho que nos tornamos a expressão visível do luto pessoal e dos traumas das pessoas", diz o tenente Lou Azevedo.
"Muitas pessoas vieram oferecer suas condolências, mas outros queriam ser confortados de alguma forma. Então, ao mesmo tempo que tínhamos que nos consolar uns aos outros e nos preocupar com as famílias dos colegas que morreram, tínhamos também que desempenhar o papel de conselheiros com as pessoas, e isso nem sempre foi fácil'.
O Departamento de bombeiros de Nova York (NYFD) perdeu 343 homens no dia 11 de setembro, e a foto de três bombeiros levantando uma bandeira norte-americana no meio das ruínas do World Trade Center já tem o status de ícone.
Toda referência aos bombeiros na imprensa ou em discursos oficiais é inevitavelmente adjetivada com termos como "coragem" "heroísmo" ou "sacrifício supremo".
O apreço e respeito sem limites que eles têm agora é visto com certo grau de pessimismo irônico pelos bombeiros, que sempre se sentiram subvalorizados e mal remunerados.
"Acho que é algo que vai passar", diz o motorista Thomas Baroz.
"Logo vamos voltar a comentários do tipo: "Ah, esses bombeiros são loucos. Para ser sincero, quase prefiro isso. É melhor que nos deixem em paz. Não preciso ser considerado um herói. Tenho três filhos e uma esposa que estão muito orgulhosos do que eu faço. E isso é mais que suficiente para mim", diz.
.
O desejo do pessoal de estações como a de Great Jones Street de escapar da atenção pública frustrou-se com o furor dos meios, ante o iminente aniversário do drama de 11 de setembro.
As profundas e contraditórias emoções causadas pelo aniversário se prolongarão até outubro, quando o NYFD realiza sua comemoração anual. A de 2001 foi cancelada por causa dos ataques.
Para o tenente Le Rocco, a comemoração será uma oportunidade para lembrar dos que morreram, e seu milagre pessoal de ter escapado da morte. Le Rocco estava no segundo andar da torre norte do World Trade Center quando ela caiu. Ele sobreviveu e não ficou ferido: foi protegido por uma viga de aço quando o prédio caiu.
"Pensei que, se isso fosse a morte, não era tão má assim", diz Le Rocco. "Mas em seguida me dei conta de que estava vivo. Havia 30 pessoas em volta de mim quando o prédio caiu. Todos morreram."
Le Rocco conseguiu sair dos escombros, e voltou direto ao trabalho, mas assim como os outros do quartel, não gosta do rótulo de "herói". "Os que morreram são os heróis. Eles ganharam esse título".
"Enquanto todo mundo fugia, eles corriam em direção ao World Trade Center", disse.
Leia mais no especial 11 de setembro
Bombeiros de Nova York não se consideram heróis
da France Presse, em Nova York"Se você quiser me chamar de alguma coisa, me chame de sobrevivente", diz o bombeiro Bobby Le Rocco.
O quartel do Corpo de Bombeiros de Great Jones Street, em Nova York, perdeu dez companheiros no dia 11 de setembro, e para o tenente Le Rocco e o resto da equipe lotada no quartel, a imagem de herói conferida pela opinião pública, imprensa e as autoridades municipais é incômoda.
O quartel de Great Jones Street, na baixa Manhattan, é um exemplo clássico das velhas estações da cidade, com dois caminhões e uma equipe unida de bombeiros.
As duas unidades, com 15 membros responderam ao primeiro chamado de emergência, e só cinco homens voltaram ao quartel.
Uma das estações mais afetadas pelos ataques terroristas, a de Great Jones Street recebeu mais atenção do público e dos meios de imprensa do que gostaria de ter recebido, na maioria bem intencionada e sincera, mas em parte intrusiva e não procurada.
Nos dias e semanas que se seguiram aos atentados, os vizinhos se reuniam diariamente na estação, fazendo preces improvisadas e levando flores e velas para recordar os bombeiros mortos.
"De alguma forma, acho que nos tornamos a expressão visível do luto pessoal e dos traumas das pessoas", diz o tenente Lou Azevedo.
"Muitas pessoas vieram oferecer suas condolências, mas outros queriam ser confortados de alguma forma. Então, ao mesmo tempo que tínhamos que nos consolar uns aos outros e nos preocupar com as famílias dos colegas que morreram, tínhamos também que desempenhar o papel de conselheiros com as pessoas, e isso nem sempre foi fácil'.
O Departamento de bombeiros de Nova York (NYFD) perdeu 343 homens no dia 11 de setembro, e a foto de três bombeiros levantando uma bandeira norte-americana no meio das ruínas do World Trade Center já tem o status de ícone.
Toda referência aos bombeiros na imprensa ou em discursos oficiais é inevitavelmente adjetivada com termos como "coragem" "heroísmo" ou "sacrifício supremo".
O apreço e respeito sem limites que eles têm agora é visto com certo grau de pessimismo irônico pelos bombeiros, que sempre se sentiram subvalorizados e mal remunerados.
"Acho que é algo que vai passar", diz o motorista Thomas Baroz.
"Logo vamos voltar a comentários do tipo: "Ah, esses bombeiros são loucos. Para ser sincero, quase prefiro isso. É melhor que nos deixem em paz. Não preciso ser considerado um herói. Tenho três filhos e uma esposa que estão muito orgulhosos do que eu faço. E isso é mais que suficiente para mim", diz.
.
O desejo do pessoal de estações como a de Great Jones Street de escapar da atenção pública frustrou-se com o furor dos meios, ante o iminente aniversário do drama de 11 de setembro.
As profundas e contraditórias emoções causadas pelo aniversário se prolongarão até outubro, quando o NYFD realiza sua comemoração anual. A de 2001 foi cancelada por causa dos ataques.
Para o tenente Le Rocco, a comemoração será uma oportunidade para lembrar dos que morreram, e seu milagre pessoal de ter escapado da morte. Le Rocco estava no segundo andar da torre norte do World Trade Center quando ela caiu. Ele sobreviveu e não ficou ferido: foi protegido por uma viga de aço quando o prédio caiu.
"Pensei que, se isso fosse a morte, não era tão má assim", diz Le Rocco. "Mas em seguida me dei conta de que estava vivo. Havia 30 pessoas em volta de mim quando o prédio caiu. Todos morreram."
Le Rocco conseguiu sair dos escombros, e voltou direto ao trabalho, mas assim como os outros do quartel, não gosta do rótulo de "herói". "Os que morreram são os heróis. Eles ganharam esse título".
"Enquanto todo mundo fugia, eles corriam em direção ao World Trade Center", disse.
Leia mais no especial 11 de setembro
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