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22/09/2002 - 10h55

Ásia e África são alternativa ao instável Oriente Médio

PAULO DANIEL FARAH
da Folha de S.Paulo

A indústria petrolífera entrou em uma nova zona de turbulência após os atentados de 11 de setembro de 2001, cujas ondas de choque se propagam em um cenário em que o Oriente Médio está no olho do furacão. Com mais de 65% das reservas mundiais de petróleo e 44,5% das exportações, alguns países dessa região aparecem no topo da lista dos alvos da guerra antiterror declarada pelo presidente norte-americano, George W. Bush.

O Irã e o Iraque integram o que Bush denomina o eixo do mal.

A Arábia Saudita, maior produtor e exportador de petróleo, é um dos principais aliados dos EUA, mas sofre acusações de tolerância com grupos extremistas islâmicos: 15 dos 19 sequestradores do 11 de setembro eram sauditas.

"Há uma espécie de entendimento de que Riad representa os interesses norte-americanos na Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] em troca do apoio à ditadura monárquica no país. Mas há divergências, mesmo entre aliados", disse à "Folha de S.Paulo", por telefone, de Virgínia (EUA), Ruhi Ramazani, especialista em geopolítica do petróleo.

O agravamento do conflito israelo-palestino e o provável ataque ao Iraque são ingredientes para uma mistura explosiva cujas farpas vão atingir o mercado, segundo analistas. 'A coexistência de barris de petróleo e barris de pólvora é particularmente explosiva nesta parte do planeta', diz Nicolas Sarkis, diretor da revista 'Le Pétrole et le Gaz Arabes'.

Até agora, segundo ele, o impacto maior do 11 de setembro sobre o mercado petrolífero se limitou a variações no preço. Mas a queda-de-braço entre Washington e Bagdá já vem aumentando a instabilidade no Oriente Médio.

O panorama atual reaviva as preocupações com o fluxo do petróleo e enfatiza a recomposição da paisagem petrolífera, iniciada há vários anos e que se evidencia pela aproximação entre Washington e Moscou, com um envolvimento maior das empresas americanas em projetos de desenvolvimento do setor petrolífero e de gás na Rússia, e pelo interesse reforçado em regiões como a bacia do mar Cáspio e o oeste da África.

Na última quarta-feira, o secretário da Energia dos EUA, Spencer Abraham, reuniu-se com os presidentes de Azerbaijão, Geórgia e Turquia para comemorar "uma das mais importantes conquistas energéticas"-o início da construção do oleoduto Baku (Azerbaijão)-Ceyhan (Turquia).

A intenção é reduzir a dependência atual em relação a exportadores do golfo e oleodutos russos.

Com esse oleoduto, de 1.760 km, o petróleo do sul do Cáspio evitará a Rússia e o Irã. A construção do oleoduto deve acabar em 2004, e sua utilização se fará a partir do ano seguinte.

O interesse europeu pela região do Cáucaso cresceu com o projeto Traseca, que visa estabelecer ligações marítimas e ferroviárias com a Ásia Central. O Reino Unido prioriza o Azerbaijão, onde a British Petroleum é atuante. A França se aproximou de Ierevan devido à expressiva comunidade armênia no país. Apesar de sua importância econômica, a Europa não desempenha um papel de destaque nas decisões estratégicas da região. Foi Washington que excluiu o Irã do traçado de oleodutos 'possíveis', embora essa solução apareça como uma das menos caras e mais certas.

À exceção do Irã, países vizinhos do Afeganistão como Azerbaizão, Tadjiquistão e Cazaquistão vêm fechando acordos com grandes empresas norte-americanas, entre elas a Chevron-Texaco e a Unocal, que liderou até 1998 um projeto de US$ 2 bilhões para a construção de um gasoduto do Turcomenistão ao Paquistão, atravessando todo o Afeganistão. O projeto deve ser retomado.

Opção africana
A África está ganhando relevância por causa do petróleo. O continente já responde por cerca de 15% das importações petrolíferas dos EUA, e a expectativa é que seu fornecimento cresça (para 25%), com base na nova produção no oeste africano e na construção de oleodutos. 'A chave para a segurança no fornecimento é a diversidade de fornecimento', argumenta Robin West, presidente da Petroleum Financing Company. 'E o oeste da África será mais importante do que a Rússia para o mercado', acredita ele.

As investidas diplomáticas também se fazem acompanhar de discussões sobre uma ampliação nos acordos militares com países do oeste da África. Uma base militar norte-americana deve ser estabelecida em São Tomé e Príncipe, cujo idioma oficial é o português.

"Há grande entusiasmo em relação ao oeste da África", diz Daniel Yergin, presidente da Cambridge Energy Research Associates. "A questão política é complexa, mas a logística é mais simples."

Reduzir dependência
Resta saber se esses investimentos reduzirão de forma expressiva a dependência em relação ao petróleo do Oriente Médio e evitarão crises energéticas. É pouco provável, segundo analistas.

As reservas comprovadas de países do oeste da África são estimadas em 39 bilhões de barris, ou seja, por volta de 4% do total mundial. As da Ásia Central são motivo de controvérsias, não há um número aceito por especialistas. O que se destaca nesse quadro é a porcentagem do Oriente Médio: mais de 65%.

Um relatório sobre as "Perspectivas Energéticas Mundiais" que a Agência Internacional de Energia (IEA) publicou em novembro de 2001 reforça essa predominância. No caso do petróleo, a agência mantém as mesmas estimativas de oferta e demanda de 2000 para os próximos 20 anos, incluindo um crescimento médio da demanda mundial de 1,9% ao ano. '"É um desafio impressionante, e ninguém fala abertamente como ele será resolvido", diz Sarkis.

Cinco países da Opep - Arábia Saudita, Iraque, Kuait, Irã e EAU- devem responder por 32% da produção mundial em 2010 e 41% em 2020.

Segundo o ministro do Petróleo do Iraque, Amir Rashid, apenas 24 dos 73 poços locais estão em funcionamento. Quando o embargo se encerrar, a expectativa é que o país dobre a produção.

A dependência em relação ao petróleo do Oriente Médio deve crescer; no caso da América do Norte, de 44,6%, em 1997, para 58% em 2020. No caso da Europa, de 52,5% para 79%.

A revolução na Líbia, em 1969, a Revolução Islâmica (no Irã), em 1979, e a Guera do Golfo mostram que, não importa o regime no poder, esses países querem desenvolver a produção de petróleo. Sanções e instabilidade política afastam os investidores estrangeiros. 'A questão principal não diz respeito aos recursos, mas à estabilidade política no Oriente Médio, que continuará a ser o centro nevrálgico do petróleo nas próximas décadas', diz Sarkis.

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