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30/11/2008 - 08h50

Indianos celebram libertadores como heróis nacionais

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RAUL JUSTE LORES
enviado da Folha de S.Paulo a Mumbai

Em contraste com a longa operação de 62 horas para render uma dezena de terroristas, Mumbai levou menos de 24 horas para ser coberta com outdoors que celebram "os heróis do conflito". Nas principais avenidas, os cartazes gigantes trazem as fotos dos três diretores dos comandos antiterroristas mortos em confronto. "Aos nossos heróis, muito obrigado."

No que já é chamado de "11 de Setembro indiano", também não faltam manifestações espontâneas de reverência às forças de segurança, como pequenas cartolinas na entrada de casas humildes na periferia de Mumbai que também homenageiam os heróis.

Saurabh Das/AP
Mulher chora durante cortejo fúnebre de Hemant Karkare; atentados terroristas estão sendo chamados de "11 de Setembro indiano"
Mulher chora durante cortejo fúnebre de Hemant Karkare; atentados terroristas estão sendo chamados de "11 de Setembro indiano"

Ontem, milhares de pessoas participaram do funeral do major Sandeep Unnikrishnan e do chefe da unidade antiterrorista de Mumbai, Hemant Karkare. Uma longa procissão seguia uma foto gigante de Karkare até o crematório de Dadar.

Os dois hotéis onde os terroristas se atrincheiraram estavam isolados ontem por cordões de segurança e soldados. Centenas de pessoas se aglomeravam ao redor do Taj Mahal, o hotel mais famoso do país, cenário de diversos musicais de Bollywood. Elas tiravam fotos, aplaudiam e abraçavam soldados dos comandos da Guarda de Segurança Nacional.

Segundo a agência de notícias France Presse, os soldados resgataram 610 pessoas dos dois hotéis e do centro judaico tomados pelos terroristas.

O clima parecido ao pós-atentado nos Estados Unidos também é sentido até em pequenos hotéis, onde foram instalados detectores de metais por todas as partes. Boa parte do comércio local, inclusive shoppings e mercadinhos, ainda estava fechada ontem. Em mais de vinte andares do hotel Oberoi, onde mais de 200 hóspedes ficaram sitiados, as vidraças se encontram em cacos, como se o prédio tivesse sido metralhado de cima a baixo.

Apenas ontem parte dos telespectadores da zona sul de Mumbai puderam ver imagens do cerco aos hotéis e do drama dos reféns. Em uma decisão controversa, a direção da polícia ordenou aos operadores da TV a cabo local tirar do ar os cinco canais de notícias que transmitiam ininterruptamente a operação terrorista.

"Os tiros dos terroristas e as explosões criaram sentimento de pânico e a transmissão se provou um impedimento para a ação policial", explicou em nota o departamento policial.

Blogs e a rede social Twitter, de blogs com textos curtos, furaram o blecaute informativo e começaram a passar o cotidiano mais assustador das vítimas, que era contado pelas próprias por celulares. Elas narraram que os terroristas escolhiam a esmo a cada meia hora qual seria o próximo refém a morrer.

Fracasso policial

Ao contrário do 11 de Setembro americano, já há críticas à atuação policial e do governo. "Estamos diante de um grande fracasso, tanto do serviço secreto, quanto de nossa segurança. Como três chefões da polícia antiterrorista vão para um mesmo lugar juntos e são mortos juntos? Que protocolo inexplicável é esse?", disse à Folha Naresh Fernandes, diretor da Paprika, uma das principais editoras do país.

Os chefes da força de segurança foram alvejados pouco após entrar em uma van da polícia. Os três retiraram os capacetes e os coletes antibala pouco antes do ataque.

Fernandes, cuja família é da ex-colônia portuguesa de Goa, trabalhava em um prédio vizinho às Torres Gêmeas e dali presenciou o 11 de Setembro. Ele vê diversas diferenças. "Na Índia, estamos nos acostumando ao terrorismo, todo ano há ataque. Mas este é o primeiro em que a elite sofre mais, talvez a segurança melhore".

Colaba, onde ocorreram os ataques, é um bairro de luxo para os padrões indianos. Ao contrário de Colaba, que ontem tinha várias ruas fechadas ao trânsito, nos bairros populares de Mumbai, a vida já quase voltou ao normal - com centenas de pessoas comendo e dormindo nas calçadas, crianças trabalhando na reciclagem de pneus velhos e camelôs vendendo cópias piratas de best-sellers americanos no trânsito.

 

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