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10/11/2002 - 10h20

Garotas americanas assumem o papel de "macho conquistador"

ALEX KUCZYNSKI
do "The New York Times"

John Bernard, 16, é um adolescente forte e bonito, cheio de hormônios. Meninos como ele eram o pesadelo de todo pai. Não mais.

"As meninas são muito mais agressivas do que os meninos", afirmou John, em seu intervalo para almoço na Escola do Futuro, em Nova York, com algumas meninas à sua volta. "Elas têm mais atitude. Elas têm mais poder. E elas dominam mais os homens. Quero dizer, é assustador."

Depois de meio século no qual gerações de meninas e mulheres eram aconselhadas a nem sequer telefonar para um homem, agora não só são as adolescentes que fazem as ligações mas também elas frequentemente dão início às atividades românticas e até sexuais.

"Os adolescentes que eu atendo dizem que as meninas pressionam por sexo e esperam que eles peçam sexo, trazendo o assunto à tona quando os meninos não pedem", declarou Tabi Upton, uma orientadora no Centro de Saúde Mental Johnson, em Chattanooga, Tennessee, que atende entre 20 e 30 adolescentes por mês.

Desde Sadie Hawkins [data em novembro, estabelecida nos anos 30, na qual mulheres tomavam a iniciativa de convidar homens para sair], as adolescentes têm flertado com os meninos, mas agora elas estão iniciando um contato mais íntimo -até mesmo sexual- de maneira mais agressiva, segundo relatos anedóticos de orientadores, psicólogos, editores de revistas e adolescentes.

Para Sarah Durrell, 17, que vive em Haverhill, Massachusetts, todas as suas amigas consideram normal convidar um menino para sair. "Mulheres não precisam mais usar saias. Conquistamos poder e podemos fazer tudo aquilo que quisermos", afirma.

A mãe de Sarah concorda, diz a adolescente. Seu pai não. "Ele não se importa com quem convida quem para sair; ele simplesmente não gosta de meninos de qualquer jeito", diz Sarah. "Ele sempre diz: 'Eu já fui um menino e sei o que eles querem, e eles querem apenas uma coisa'. Suponho que ele seja um pai antiquado."

Muitas meninas atribuíram sua atitude confiante em relação aos meninos aos ganhos do feminismo, que promove a paridade entre meninos e meninas em áreas como esportes e educação. Essa mensagem tem sido traduzida por meninas de 15 anos para o mundo do namoro e do sexo.

"Tem sido dito a meninas, em todas as áreas de sua vida, para correr atrás das coisas", afirmou Atoosa Rubenstein, editora-chefe de CosmoGirl, cujo público é formado por meninas de 11 a 17 anos. "As mães dizem a elas: "Batalhe por um lugar no time esportivo, brigue pelo emprego". Essa mensagem se tornou algo que se aplica a toda a vida delas. E elas a aplicam à busca por meninos."

Se a perseguição aos meninos é sexual ou um sinal de "paixonite", "depende da menina", acrescenta Rubenstein. Dados de uma pesquisa sobre atividade sexual entre adolescentes apontam uma tendência conservadora -ao menos em termos de ato sexual.

A porcentagem de alunos do ensino médio que permanecem virgens vem crescendo regularmente na última década, até alcançar 54% em 2001, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doença. Os motivos da tendência, dizem especialistas, incluem o medo da Aids, o aumento da educação sexual que ensina apenas a abstinência e o aumento nos índices de sexo oral, que muitos adolescentes consideram ser menos íntimo que o ato sexual.

Mesmo dentro desse contexto, várias das antigas regras do namoro -meninas nunca devem telefonar para meninos e tem de ser "difíceis"- não mais se aplicam.

Para Linda Carter, uma psicóloga de Manhattan (Nova York), é como se os hábitos da série "Sex and the City" [que retrata as aventuras amorosas de um grupo de amigas de 30 anos] tivessem chegado às adolescentes.

"A cultura popular satura a mentalidade delas", diz Carter. "Ver Britney Spears as deixa mais agressivas. Começou com jovens adultas solteiras na série 'Sex and the City' e tem-se falado tanto sobre a afirmação sexual feminina que isso influencia adolescentes."

"A primeira menina do ensino fundamental que sai com meninos tem status", disse Ann Kearney-Cooke, co-diretora do Projeto Ajudando Meninas a se Tornarem Mulheres Fortes, da Universidade Columbia (Nova York).

Adolescentes, segundo Kearney-Cooke, têm overdose de imagens provenientes dos meios de comunicação, mas sofrem de abstinência de amor, além de receberem pouca atenção dos pais.

Para Kearney-Cooke, as meninas estão se tornando mais agressivas do ponto de vista sexual e romântico por vários motivos, incluindo as consequências não-intencionais da criação igualitária de meninas e meninos.

"Essa geração de meninas está sendo criada por pais do "baby boom" [explosão demográfica pós-Segunda Guerra Mundial", e esses pais questionaram tudo. Questionaram a forma de criar os filhos, questões de gênero sexual, estereótipos românticos e papéis sexuais em geral." As meninas vêm se comportando cada vez mais como meninos, afirma Kearney-Cooke, e estudos mostram que elas estão fumando e bebendo tanto quanto os meninos.

Marty Beckerman, 19, que estuda na Universidade Americana em Washington, diz que a bravata sexual das meninas é uma reação à natureza fria que algumas pessoas adotaram em relação ao sexo. "Há um tipo de machismo entre as meninas. Elas adotaram a atitude de macho conquistador."
Beckerman é o autor do livro "Generation Slut", que será publicado em 2003. O autor faz um trocadilho com a palavra "slut", que em inglês significa vagabunda, e as iniciais para "sexual liberal urban teenagers" (adolescentes urbanas liberadas sexualmente). O livro é um apelo à volta a um comportamento mais casto.

Uma adolescente de 18 anos de Manhattan confirmou que o sentimento de poder sexual é derivado do movimento feminista -ao menos no que se refere à forma como ele é visto pelas jovens.

Upton, a orientadora de Chattanooga, relatou ter feito acompanhamento de uma menina de 15 anos que adotou o papel de mulher fatal, tal como retratado pela cultura pop. "Ela viu essas coisas em filmes, na MTV, fez sexo com vários jovens e engravidou."

"E ela estava tipo: "Meu Deus, por que eu fiz isso?". Ninguém havia ensinado a ela sobre o valor do corpo e o valor do sexo, da intimidade e do amor. Ela não tem um pai em casa, simplesmente estava com fome de amor e queria parecer corajosa e aventureira. Parece tão emocionante nos vídeos e tão maravilhoso no cinema, mas não é." A menina entregou o bebê a um serviço de adoção.

A igualdade tem seu preço, é claro. Lila Zimmerman, 16, de Lancaster, Pensilvânia, afirmou que o arranjo acaba sendo benéfico para os meninos, já que eles não precisam mais se colocar em posição de risco de serem rejeitados. "Eles não precisam mais ser os que passam vergonha", diz ela.
 

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