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24/11/2002
-
05h07
O que a eventual vitória do esquerdista Lucio Gutiérrez no Equador teria em comum com o triunfo de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil? Estaria se caracterizando uma onda esquerdista na região? Para analistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, o que une os dois casos é o desejo de mudança da população após o fracasso das políticas neoliberais. Esse mesmo efeito teria levado o líder dos plantadores de coca da Bolívia, Evo Morales, ao segundo turno das eleições daquele país, em junho. Mas as semelhanças terminariam por aí.
"Parece haver uma tendência nessa direção, provocada pela frustração de mais de dez anos de neoliberalismo", diz o professor americano Christopher Mitchell, do Centro de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos da New York University. "Mas o caso de Lula é muito particular, porque ele é um político profissional, com uma história", afirma.
O cientista político equatoriano Simón Pachano, da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), de Quito, concorda. "Gutiérrez não é um representante da esquerda tradicional, apesar de ter votos da esquerda", diz. "Duvido até mesmo que ele possa fazer um governo de esquerda."
Pachano rejeita até mesmo a recorrente comparação entre Gutiérrez e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ambos militares com passado golpista. "Não há tanta similaridade entre os dois, além do fato de ambos gostarem de se vestir de escoteiro", ironiza ele, fazendo referência ao fato de os dois aparecerem com frequência com uniformes militares.
Apesar dos pontos em comum entre Chávez e Gutiérrez, Mitchell tem explicações diferentes para o surgimento de um e de outro. "Chávez apareceu como novidade, num momento em que os partidos políticos tradicionais da Venezuela caíam em descrédito por causa dos constantes casos de corrupção", diz. "No Equador, os partidos sempre foram fracos, e a carreira militar sempre foi um trampolim para a política."
Apesar das diferenças, o cientista político Emílio Tadei, do Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais), de Buenos Aires, considera que exista a possibilidade de que Lula, Gutiérrez e Chávez formem um bloco de governos de esquerda. "Mesmo com características diferentes, eles têm condições de articular uma frente para pontos de interesse comum, como a negociação da Alca [Área de Livre Comércio das Américas], por exemplo", afirma.
Gutiérrez, que elogia publicamente Chávez e Lula, mas faz questão de marcar suas diferenças em relação a ambos, rechaça a possibilidade de formar uma aliança com os dois países.
Recentemente, Chávez também ironizou acusações de setores ultraconservadores americanos segundo os quais Lula e Gutiérrez se somariam a ele e ao ditador de Cuba, Fidel Castro, para formar um "eixo do mal". "Não seria do mal, mas do bem, o eixo dos povos, o eixo do futuro", disse. "Eixo do mal" foi a expressão cunhada por George W. Bush no início do ano para designar os países que supostamente desenvolveriam clandestinamente armas de destruição em massa _Iraque, Irã e Coréia do Norte.
Desejo de mudança provoca "onda esquerdista" no Equador
da Folha de S.PauloO que a eventual vitória do esquerdista Lucio Gutiérrez no Equador teria em comum com o triunfo de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil? Estaria se caracterizando uma onda esquerdista na região? Para analistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, o que une os dois casos é o desejo de mudança da população após o fracasso das políticas neoliberais. Esse mesmo efeito teria levado o líder dos plantadores de coca da Bolívia, Evo Morales, ao segundo turno das eleições daquele país, em junho. Mas as semelhanças terminariam por aí.
"Parece haver uma tendência nessa direção, provocada pela frustração de mais de dez anos de neoliberalismo", diz o professor americano Christopher Mitchell, do Centro de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos da New York University. "Mas o caso de Lula é muito particular, porque ele é um político profissional, com uma história", afirma.
O cientista político equatoriano Simón Pachano, da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), de Quito, concorda. "Gutiérrez não é um representante da esquerda tradicional, apesar de ter votos da esquerda", diz. "Duvido até mesmo que ele possa fazer um governo de esquerda."
Pachano rejeita até mesmo a recorrente comparação entre Gutiérrez e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ambos militares com passado golpista. "Não há tanta similaridade entre os dois, além do fato de ambos gostarem de se vestir de escoteiro", ironiza ele, fazendo referência ao fato de os dois aparecerem com frequência com uniformes militares.
Apesar dos pontos em comum entre Chávez e Gutiérrez, Mitchell tem explicações diferentes para o surgimento de um e de outro. "Chávez apareceu como novidade, num momento em que os partidos políticos tradicionais da Venezuela caíam em descrédito por causa dos constantes casos de corrupção", diz. "No Equador, os partidos sempre foram fracos, e a carreira militar sempre foi um trampolim para a política."
Apesar das diferenças, o cientista político Emílio Tadei, do Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais), de Buenos Aires, considera que exista a possibilidade de que Lula, Gutiérrez e Chávez formem um bloco de governos de esquerda. "Mesmo com características diferentes, eles têm condições de articular uma frente para pontos de interesse comum, como a negociação da Alca [Área de Livre Comércio das Américas], por exemplo", afirma.
Gutiérrez, que elogia publicamente Chávez e Lula, mas faz questão de marcar suas diferenças em relação a ambos, rechaça a possibilidade de formar uma aliança com os dois países.
Recentemente, Chávez também ironizou acusações de setores ultraconservadores americanos segundo os quais Lula e Gutiérrez se somariam a ele e ao ditador de Cuba, Fidel Castro, para formar um "eixo do mal". "Não seria do mal, mas do bem, o eixo dos povos, o eixo do futuro", disse. "Eixo do mal" foi a expressão cunhada por George W. Bush no início do ano para designar os países que supostamente desenvolveriam clandestinamente armas de destruição em massa _Iraque, Irã e Coréia do Norte.
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