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06/12/2002
-
03h06
A Câmara dos Deputados do Paraguai aprovou ontem a abertura de um processo de impeachment contra o presidente do país, Luis González Macchi, que está em Brasília para participar da Cúpula do Mercosul. Agora, o pedido será examinado pelo Senado.
Embora o Partido Colorado, ao qual pertence o presidente, possua maioria na Câmara, não houve nenhum voto contrário ao juízo político: 50 deputados votaram a favor, 11 se abstiveram e 19 não compareceram. Foi um claro sinal do isolamento político de González Macchi, envolvido em escândalos de corrupção e desgastado por uma das piores crises econômicas da história do país.
Segundo analistas, até mesmo colorados da ala governista votaram a favor com o objetivo de se distanciarem de um presidente impopular a seis meses das eleições presidenciais (abril de 2003).
O pedido de juízo político não constava da ordem do dia e sua aprovação foi uma surpresa. Deve ter, no entanto, tramitação bem mais difícil no Senado, onde o governo exerce maior controle. São necessários dois terços dos votos do Senado (30 do total de 44).
Entre outras denúncias, González Macchi é acusado de desviar US$ 16 milhões para uma conta em Nova York e de comprar um BMW roubado no Brasil.
Em Brasília, onde se encontrou com o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, González Macchi se disse tranquilo e insinuou que o ex-general Lino Oviedo, refugiado no Brasil, pode ter participação na manobra.
"No passado, houve tentativas de remoção do governo por movimentos golpistas, como em 2000. Esta é a primeira tentativa constitucional, da qual me defenderei com minha consciência tranquila", declarou.
"Há um processo de julgamento político em curso. A Câmara acusa e o Senado julga. Eu vou me defender ponto a ponto", afirmou.
González Macchi afirmou que fez um relato da situação a Lula e que procurou tranquilizá-lo. "O calendário eleitoral seguirá normalmente. Não há perigo de quebra da democracia no Paraguai", declarou.
Ao ser questionado sobre a possível participação de Oviedo, seu adversário, no processo de cassação, o presidente afirmou: "Pelo que me consta, há deputados da Unace [partido ligado a Oviedo] que apoiaram a abertura do processo", afirmou.
Crise política e econômica
Se for destituído, González Macchi deverá ser substituído pelo atual presidente do Senado, Juan Carlos Galaverna (também do Partido Colorado), já que o vice-presidente, Julio Cesar Franco (Partido Liberal), renunciou para disputar a Presidência. Mas há uma hipótese remota de o Congresso eleger um novo vice.
O Paraguai vive uma crise política profunda desde 1996, quando Oviedo, então general e comandante-em-chefe do Exército, tentou dar um golpe contra o presidente Juan Carlos Wasmosy.
O golpe fracassou, Oviedo foi mandado para a reserva, mas, em 1997, ele venceu as prévias do Partido Colorado (o mesmo de Wasmosy) para a Presidência.
Condenado a dez anos de prisão, ele teve de renunciar à candidatura em favor de seu vice na chapa, Raúl Cubas Grau (também colorado). Em 98, Cubas venceu e indultou Oviedo.
A crise se aprofundou em março de 1999, quando o então vice-presidente, José María Argaña, rival de Cubas e de Oviedo no Partido Colorado, foi assassinado.
Acusados de envolvimento no atentado e após as mortes de manifestantes em protestos públicos, Cubas renunciou e fugiu para o Brasil e Oviedo foi para a Argentina. Depois, veio para o Brasil.
González Macchi, então presidente do Senado, assumiu o poder, com apoio dos principais partidos. A Corte Suprema o autorizou a concluir o mandato de Cubas até 2003, mas, sem o respaldo de um mandato popular, González Macchi foi minado por oviedistas e liberais.
Sua popularidade foi fortemente atingida pela crise econômica, agravada pelo colapso da Argentina e pelas dificuldades do Brasil. Assim como o real, o guarani teve forte queda (mais de 20%) nos últimos meses, e o país está em recessão. Há meses, o governo tenta obter um socorro de US$ 200 milhões do FMI e, no último mês, tanto o ministro da Economia quanto o presidente do Banco Central renunciaram.
Com agências internacionais. Colaborou Fábio Zanini, enviado a Brasília.
Impeachment ameaça presidente paraguaio
da Folha de S.PauloA Câmara dos Deputados do Paraguai aprovou ontem a abertura de um processo de impeachment contra o presidente do país, Luis González Macchi, que está em Brasília para participar da Cúpula do Mercosul. Agora, o pedido será examinado pelo Senado.
Embora o Partido Colorado, ao qual pertence o presidente, possua maioria na Câmara, não houve nenhum voto contrário ao juízo político: 50 deputados votaram a favor, 11 se abstiveram e 19 não compareceram. Foi um claro sinal do isolamento político de González Macchi, envolvido em escândalos de corrupção e desgastado por uma das piores crises econômicas da história do país.
Segundo analistas, até mesmo colorados da ala governista votaram a favor com o objetivo de se distanciarem de um presidente impopular a seis meses das eleições presidenciais (abril de 2003).
O pedido de juízo político não constava da ordem do dia e sua aprovação foi uma surpresa. Deve ter, no entanto, tramitação bem mais difícil no Senado, onde o governo exerce maior controle. São necessários dois terços dos votos do Senado (30 do total de 44).
Entre outras denúncias, González Macchi é acusado de desviar US$ 16 milhões para uma conta em Nova York e de comprar um BMW roubado no Brasil.
Em Brasília, onde se encontrou com o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, González Macchi se disse tranquilo e insinuou que o ex-general Lino Oviedo, refugiado no Brasil, pode ter participação na manobra.
"No passado, houve tentativas de remoção do governo por movimentos golpistas, como em 2000. Esta é a primeira tentativa constitucional, da qual me defenderei com minha consciência tranquila", declarou.
"Há um processo de julgamento político em curso. A Câmara acusa e o Senado julga. Eu vou me defender ponto a ponto", afirmou.
González Macchi afirmou que fez um relato da situação a Lula e que procurou tranquilizá-lo. "O calendário eleitoral seguirá normalmente. Não há perigo de quebra da democracia no Paraguai", declarou.
Ao ser questionado sobre a possível participação de Oviedo, seu adversário, no processo de cassação, o presidente afirmou: "Pelo que me consta, há deputados da Unace [partido ligado a Oviedo] que apoiaram a abertura do processo", afirmou.
Crise política e econômica
Se for destituído, González Macchi deverá ser substituído pelo atual presidente do Senado, Juan Carlos Galaverna (também do Partido Colorado), já que o vice-presidente, Julio Cesar Franco (Partido Liberal), renunciou para disputar a Presidência. Mas há uma hipótese remota de o Congresso eleger um novo vice.
O Paraguai vive uma crise política profunda desde 1996, quando Oviedo, então general e comandante-em-chefe do Exército, tentou dar um golpe contra o presidente Juan Carlos Wasmosy.
O golpe fracassou, Oviedo foi mandado para a reserva, mas, em 1997, ele venceu as prévias do Partido Colorado (o mesmo de Wasmosy) para a Presidência.
Condenado a dez anos de prisão, ele teve de renunciar à candidatura em favor de seu vice na chapa, Raúl Cubas Grau (também colorado). Em 98, Cubas venceu e indultou Oviedo.
A crise se aprofundou em março de 1999, quando o então vice-presidente, José María Argaña, rival de Cubas e de Oviedo no Partido Colorado, foi assassinado.
Acusados de envolvimento no atentado e após as mortes de manifestantes em protestos públicos, Cubas renunciou e fugiu para o Brasil e Oviedo foi para a Argentina. Depois, veio para o Brasil.
González Macchi, então presidente do Senado, assumiu o poder, com apoio dos principais partidos. A Corte Suprema o autorizou a concluir o mandato de Cubas até 2003, mas, sem o respaldo de um mandato popular, González Macchi foi minado por oviedistas e liberais.
Sua popularidade foi fortemente atingida pela crise econômica, agravada pelo colapso da Argentina e pelas dificuldades do Brasil. Assim como o real, o guarani teve forte queda (mais de 20%) nos últimos meses, e o país está em recessão. Há meses, o governo tenta obter um socorro de US$ 200 milhões do FMI e, no último mês, tanto o ministro da Economia quanto o presidente do Banco Central renunciaram.
Com agências internacionais. Colaborou Fábio Zanini, enviado a Brasília.
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