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15/12/2002 - 11h15

Lojistas argentinos temem onda de saques

MARCELO BILLI
da Folha de S.Paulo

Parece uma operação de guerra: a Polícia Federal prepara mil agentes antimotim; comerciantes se armam; igrejas e ativistas de direitos humanos pedem paz; manifestantes, comida. O governo argentino diz que tudo será calmo, mas faz reuniões diárias para avaliar os dispositivos de segurança nos dias 19 e 20, quando milhares de pessoas sairão às ruas para lembrar os protestos que, há um ano, derrubaram o então presidente Fernando de la Rúa.

No dia 19 de dezembro do ano passado, começaram os saques em cidades da Grande Buenos Aires. Centenas de pessoas foram às ruas e levaram à bancarrota muitos pequenos comerciantes que tiveram seus negócios totalmente destruídos. Os que sobreviveram prometem reagir se o mesmo ocorrer neste ano. Armaram-se, fortificaram e eletrificaram as lojas. Também contrataram seguranças particulares.

Os "chinos"
Os imigrantes orientais _chineses, coreanos e japoneses_, conhecidos como "chinos" na Argentina, foram os mais atacados em 2001. Os que não faliram agora esperam, armados, pelos possíveis novos saques.

A Folha de S.Paulo visitou as regiões de Ciudadela e Ramos Mejía, Grande Buenos Aires, onde os saques foram mais violentos. Nos locais, poucos falam sobre as medidas para enfrentar os saques. Na maioria das lojas, há seguranças armados. Quase todas foram "blindadas" com grades e chapas de aço para proteger vitrines.

As únicas lojas sem proteção são as que fecharam as portas. Na principal avenida do local, metade dos negócios fechou. Parte por causa dos saques, parte pela crise econômica.

Apenas um comerciante aceitou falar com a Folha. Dono de dois supermercados na região, José Vieitez teve uma das lojas totalmente destruída no ano passado. O seguro pagou o prejuízo e hoje ele é dos poucos comerciantes que não "blindaram" as lojas. "Tentei explicar para os colegas que nada segura 600 pessoas. Não creio que venha a haver saque. Se houver, serão muitas mortes. Todos estão armados. Os 'chinos', que sofreram mais em 2001, estão fortemente armados", diz.

Piqueteiros
No dia 19, chegam a Buenos Aires marchas que partirão de várias Províncias do país no dia 16. São organizadas pelos "piqueteiros", grupos de desempregados que se organizaram para exigir programas sociais e emprego.

Nas últimas semanas, piqueteiros disseram que partidários do ex-presidente Carlos Menem (1989-99) estariam pagando para que fossem organizados saques. Menem, pré-candidato à Presidência, não comenta as denúncias. Anteontem, um dos maiores grupos piqueteiros, o Movimento Independente de Aposentados e Desempregados, marchou por Buenos Aires para pedir comida e dizer 'não aos saques'.

O governo já anunciou que prepara um esquema especial de segurança para a data. Participarão mil homens da Polícia Federal, pelo menos 200 da polícia de Buenos Aires e helicópteros.

As organizações não-governamentais e grupos de defesa dos direitos humanos reagiram. Pediram que não participem do esquema homens envolvidos na repressão de 2001 e que todo o efetivo policial trabalhe identificado. Também na sexta, associações e um grupo de religiosos fizeram um apelo pela paz e pediram que a população enfeite as casas com bandeiras da Argentina.
 

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