Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
23/02/2003 - 09h45

Israel se prepara para mais uma guerra

JULIANA PORTENOY
free-lance para a Folha de S.Paulo, em Jerusalém

Israel se prepara em ritmo acelerado para uma eventual ofensiva dos EUA contra o Iraque. Orientada pelo governo, a população já armazena alimentos, recolhe kits de sobrevivência e veda quartos de suas casas para se proteger de armas não-convencionais.

"Nossa responsabilidade é preparar as pessoas para os ataques", disse, em entrevista à Folha, o coronel Gili Shenhar, chefe do Departamento de Doutrina e Desenvolvimento do Comando de Retaguarda do Exército. "Israel está muito mais preparado hoje do que estava na Guerra do Golfo."

Mãe de dois filhos, de três anos e cinco anos, a professora da Universidade Hebraica de Jerusalém Dafna Weanshall já adotou precauções. Gastou mais de US$ 4.000 na transformação de um quarto de sua casa em abrigo antiaéreo. Apesar disso, pensa em fugir do perigo. "Se formos atacados por armas não-convencionais e tivermos a oportunidade, tentaremos sair do país", afirma.

As autoridades já treinaram alunos nas escolas, distribuíram máscaras de gás, inauguraram um serviço telefônico gratuito de informações e publicaram panfletos explicativos. A Guerra do Golfo serve de referência nos preparativos. O Exército desenvolveu as máscaras de 1991 para que erros não voltem a acontecer. Naquele ano, duas pessoas morreram após o lançamento de 39 mísseis contra Israel. Dezenas, porém, morreram de ataque cardíaco e asfixia pelas máscaras.

No novo modelo, o filtro de ar só pode ser acoplado à máscara quando seu lacre de segurança for retirado. Outra mudança foi a criação de um canudo que deve ser acoplado para permitir a ingestão de líquidos.

Desde 1991, Israel está dividido em dez áreas para facilitar a comunicação entre o Exército e a população. Segundo essa estratégia, as pessoas que devem se abrigar são avisadas, enquanto aquelas em regiões consideradas seguras podem ser liberadas do alerta.

A partir do início da guerra, todos são aconselhados a estar sempre com o seu kit de proteção. Ele inclui a proteção antigás apropriada, uma ampola com antropina (utilizada contra agentes que atuam sobre o sistema nervoso) e um manual de instruções.

Quando um míssil estiver se aproximando do país, os radares israelenses podem detectá-lo aproximadamente cinco minutos antes de chegar ao solo. Neste momento, os adultos devem pôr suas máscaras -só depois devem colocar nas crianças- e ir ao abrigo em até três minutos. Por meio do rádio e da TV, o governo promete informar o que deve ser feito. Segundo Shenhar, a previsão máxima de permanência no abrigo é de seis horas. "Mas tudo vai depender da situação", acrescenta.

Para quem não pode chegar aos abrigos antiaéreos públicos em até três minutos, é necessário montar ao menos um quarto vedado na sua residência. Desde a Guerra do Golfo, a legislação determina que as construções precisam ter um quarto como abrigo antiaéreo. Suas portas e janelas devem ser fechadas com folhas plásticas, e o vão inferior das portas tampado com pano molhado.

"Sempre vivemos numa realidade de guerra. Estamos acostumados com isso", afirma Esther Dvorkin, que viveu todos os conflitos por que Israel passou desde sua criação, em 1948.

Nascida há 67 anos em Jerusalém, quando era criança, ela foi baleada no peito e quase morreu. "Na Guerra do Golfo, em 1991, ficamos dez dias entrando e saindo do quarto que preparamos em casa. Depois a vida voltou ao normal." Ela lembra que, à época, foi assistir à Filarmônica de Israel. No concerto, a sirene soou, e todo o público colocou suas máscaras e continuou ouvindo a música.

"Por isso acredito que tudo dê certo. Acredito em Deus, no Exército israelense e na idéia de que Jerusalém não sofrerá ataques."
Nem todos em Israel, porém, enxergam o ambiente de guerra com a mesma naturalidade. Edit Lev está grávida, prestes a ter o primeiro filho. "Eu me recuso a colocar meu filho recém-nascido em um saco antigás", diz ela. "Não vou deixar que meu filho veja sua mãe pela primeira vez com uma máscara sobre o rosto. Eu não imagino não poder tocá-lo."

Leia mais
  • Criança israelense treina para guerra com boneca
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página