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27/02/2003 - 06h04

Brasil se queixa aos EUA do efeito da guerra

CLÓVIS ROSSI
Colunista da Folha de S.Paulo

O chanceler Celso Amorim transmitiu ontem, por telefone, a seu colega norte-americano Colin Powell a inquietação do governo brasileiro com os efeitos econômicos de uma cada vez mais provável guerra no Iraque.

A conversa ocorreu 24 horas depois de Amorim ter falado com Dominique de Villepin, chanceler da França, país transformado em quase inimigo dos Estados Unidos, em razão das divergências sobre o Iraque.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva também falou, por telefone, com seu colega francês, Jacques Chirac.

Amorim disse a Powell que a posição brasileira (idêntica à francesa, aliás) não é apenas de preocupação retórica e moral com a hipótese de guerra, mas também concreta e prática.

A economia brasileira tenta, com imensas dificuldades, recuperar-se dos choques do ano passado e será certamente muito afetada com a guerra.

Amorim vê dois efeitos negativos: o primeiro é um aumento da aversão ao risco por parte dos investidores, o que significa que, no mínimo, continuarão hesitando em colocar dinheiro em países como o Brasil.

Segundo efeito: aumento do preço do petróleo.

Powell não pediu nada nem fez comentários sobre as observações do chanceler brasileiro. O telefonema foi resposta a uma frustrada tentativa de Amorim de falar com o secretário de Estado americano dias atrás.

Pelo que a Folha de S.Paulo apurou, a conversa tanto de Amorim como do presidente Lula com as autoridades francesas girou em torno de como tomar iniciativas concretas para evitar a guerra, um passo além da retórica contra ela adotada pelos dois países.

"A posição contra a guerra é moralmente confortável, mas é preciso discutir concretamente como evitá-la", diz o chanceler.

Nem da parte francesa nem da brasileira há respostas objetivas para esse passo adiante.

Sabe-se como fazer na parte técnica: aumentar o número de inspetores no Iraque e dar a eles mais tempo para fazer o serviço.

Mas há o lado político: os Estados Unidos já têm 200 mil homens nas imediações do teatro de guerra e usam uma retórica belicista que aumenta de tom a cada dia. Fazer a tropa voltar sem disparar um só tiro não será trivial.

Sem contar o fato de que há um objetivo norte-americano que vai além das resoluções das Nações Unidas, sintetizado na expressão "mudança de regime" (ou seja, depor Saddam Hussein, o ditador iraquiano).

O mandato da ONU é apenas para desarmar o Iraque, não para mudar o seu governo.

O que torna um recuo norte-americano mais complicado é que a expressão "mudança de regime" não foi inventada, ao contrário do que geralmente se supõe, pelo governo George W. Bush, tido como ultrabelicista.

Madeleine Albright, secretária de Estado na segunda fase do governo Bill Clinton, já havia defendido a mesma tese, quando da aprovação do "Iraq Liberation Act", norma que, como o nome denuncia, indica a decisão de substituir Saddam.

Outro tema que apareceu não apenas nas conversas com os franceses, mas também com os alemães, é o que governos europeus consideram o risco de um mundo unipolar.

O Brasil, potência regional, é tido, em Chancelarias européias, como parceiro importante para a construção eventual de um mundo mais multipolar.

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