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01/03/2003
-
05h12
Colunista da Folha de S.Paulo
O governo brasileiro dirá não a uma esperada pressão do presidente colombiano Álvaro Uribe para que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) sejam declaradas grupo terrorista.
Uribe vem ao Brasil no dia 7, a convite de seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, embora o convite tenha sido provocado pelo colombiano.
A chegada do presidente foi precedida de carta na qual Uribe pedia que o governo brasileiro apoiasse iniciativa diplomática para caracterizar as Farc como grupo terrorista em instâncias internacionais.
É diferente do pedido, muito divulgado mas não apresentado, para que o próprio governo do Brasil considerasse as Farc terroristas. De todo modo, a diplomacia brasileira está preparada para que Uribe apresente o pedido, ainda que informalmente, durante sua estada em Brasília na próxima semana.
O "não" se deverá a um teorema assim descrito pelo governo Lula:
1 - a nova política externa mais agressiva (ou "pró-ativa", como preferem os diplomatas, sempre cautelosos na linguagem) implica a possibilidade de que o Brasil exerça papel mediador em conflitos na região;
2 - se é essa a expectativa do governo, declarar as Farc terroristas significaria tomar partido do governo, o que eliminaria qualquer hipótese de alguma eventual mediação no futuro.
O caso da Venezuela é exemplar a esse respeito: o presidente Hugo Chávez pediu ao Brasil que criasse um "grupo de amigos" que tentaria ajudar nas negociações para sair da crise profunda em que o vizinho está mergulhado.
Mas, ao partir o convite de Chávez, a oposição reagiu com veemência e por pouco não inviabilizou o grupo.
Na Colômbia, a veemência das Farc seria muito maior, porque a violência no país é muito superior à da Venezuela e muito mais antiga.
O "não" a Uribe será acompanhado, como contrapartida, das mais enfáticas declarações de absoluta disposição para colaborar como for possível na crise.
É quase como se oferecer para mediador. Mas o presidente colombiano não tem a menor intenção, por ora, de abrir negociações que demandem um mediador. Ao contrário, quer aproveitar a chamada "guerra ao terrorismo", prioridade do governo norte-americano, para escalar a sua própria guerra interna contra as guerrilhas.
Brasil não vai considerar Farc como grupo terrorista
CLÓVIS ROSSIColunista da Folha de S.Paulo
O governo brasileiro dirá não a uma esperada pressão do presidente colombiano Álvaro Uribe para que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) sejam declaradas grupo terrorista.
Uribe vem ao Brasil no dia 7, a convite de seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, embora o convite tenha sido provocado pelo colombiano.
A chegada do presidente foi precedida de carta na qual Uribe pedia que o governo brasileiro apoiasse iniciativa diplomática para caracterizar as Farc como grupo terrorista em instâncias internacionais.
É diferente do pedido, muito divulgado mas não apresentado, para que o próprio governo do Brasil considerasse as Farc terroristas. De todo modo, a diplomacia brasileira está preparada para que Uribe apresente o pedido, ainda que informalmente, durante sua estada em Brasília na próxima semana.
O "não" se deverá a um teorema assim descrito pelo governo Lula:
1 - a nova política externa mais agressiva (ou "pró-ativa", como preferem os diplomatas, sempre cautelosos na linguagem) implica a possibilidade de que o Brasil exerça papel mediador em conflitos na região;
2 - se é essa a expectativa do governo, declarar as Farc terroristas significaria tomar partido do governo, o que eliminaria qualquer hipótese de alguma eventual mediação no futuro.
O caso da Venezuela é exemplar a esse respeito: o presidente Hugo Chávez pediu ao Brasil que criasse um "grupo de amigos" que tentaria ajudar nas negociações para sair da crise profunda em que o vizinho está mergulhado.
Mas, ao partir o convite de Chávez, a oposição reagiu com veemência e por pouco não inviabilizou o grupo.
Na Colômbia, a veemência das Farc seria muito maior, porque a violência no país é muito superior à da Venezuela e muito mais antiga.
O "não" a Uribe será acompanhado, como contrapartida, das mais enfáticas declarações de absoluta disposição para colaborar como for possível na crise.
É quase como se oferecer para mediador. Mas o presidente colombiano não tem a menor intenção, por ora, de abrir negociações que demandem um mediador. Ao contrário, quer aproveitar a chamada "guerra ao terrorismo", prioridade do governo norte-americano, para escalar a sua própria guerra interna contra as guerrilhas.
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