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03/04/2003 - 02h12

No hospital de Hilla, meninos iraquianos mutilados

NAYLA RAZZOUK
da France Presse, em Hilla (Iraque)

O menino Nader, 5, não devia ter saído de casa para brincar na terça-feira (1º) à noite. Agora, ele está no hospital com um curativo no olho direito porque pisou numa bomba.

Ele apóia a cabeça na beira da cama e observa a paisagem pela janela com apenas um olho. A mãe veio fazer-lhe companhia e aguarda para saber se o filho terá de ser operado.
Nader e sua mãe conseguiram escapar a um ataque anglo-americano na terça-feira pela manhã contra regiões vizinhas a Hilla, a 80 km de Bagdá, onde morreram dezenas de civis, a maioria mulheres e crianças. Quase 400 pessoas foram feridas, segundo médicos e testemunhas.

Na cidade, um jornalista da agência France Presse viu estilhaços de explosivos que pareciam uma bomba de fragmentação.

Interrogado ontem pela imprensa, o general americano Vincent Brooks declarou na sede do Comando Central (Centcom) no Qatar: "Não tenho nada a dizer sobre este ataque em particular nem sobre as explosões com bombas de fragmentação".

Em comunicado, as forças norte-americanas reconheceram ter utilizado ontem seis bombas de fragmentação "no centro do Iraque contra uma coluna de blindados".

O Centcom indicou também que as forças norte-americanas lançaram contra o Iraque, "pela primeira vez em um conflito armado", um novo tipo de bomba de fragmentação capaz de vencer o vento e o rigor do inverno.

A mãe de Nader aponta com o dedo outras seis camas com crianças feridas e ensanguentadas.

"O que estas crianças fizeram aos americanos? O que fizeram contra Bush? Que Deus se vingue mandando a Bush uma bomba de fragmentação", disse ela.

Ao lado, Hussein Ali Abed, 2, tem o olhar paralisado. "Desde o bombardeio, ele está neste estado", diz seu pai. '"A mãe dele, minha esposa, morreu no bombardeio contra nós no meio da noite. Não sei o que fazer para tirar-lhe deste estado de choque", desabafou.

As bombas de fragmentação são denunciadas pelas ONGs do mundo inteiro por seus efeitos devastadores sobre a população civil.

Hussein Qazem Ghazay, médico do hospital de Hilla, afirmou que "todas as pessoas que estavam ali na sala haviam sido feridas por bombas de fragmentação ou pequenas cargas de explosivos que detonavam ao serem tocadas".

No fundo da sala do hospital, uma mulher com a cabeça e o braço enfaixados está desolada, quase imóvel, deitada em uma maca.

"Hamida Abed perdeu 15 membros de sua família quando sua casa foi bombardeada. Ela perdeu seus filhos, noras e netos", contou uma das enfermeiras.

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