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14/04/2003 - 09h51

Moradores de Tikrit não recebem americanos com entusiasmo

LAURENTE LOZANO
da France Presse, em Tikrit (Iraque)

Quando uma moradora de Tikrit se aproxima cautelosamente do posto de controle, levando uma criança nos braços, um soldado americano grita "para trás, para trás", e a mulher obedece, cedendo à desconfiança recíproca que reina na cidade natal de Saddam Hussein, no norte do Iraque, ocupada pelas forças americanas.

Na praça central, ao pé da estátua de Saddam rodeada por sete blindados americanos, o oficial que comanda o batalhão de reconhecimento explica que ele e os quase 900 homens que chegaram à cidade à noite estão ali "para ajudar as pessoas".

Todos os soldados dizem estar aqui "em missão de paz", quase inconscientes do alcance simbólico desta "vitória".



Mas fica evidente que não foi estabelecido um canal de comunicação entre os soldados e a população. E aqueles que conheceram os abraços e comemorações em Bagdá podem notar a diferença com o ambiente de Tikrit, a 180 km ao norte da capital iraquiana.

Para tornar as coisas ainda mais difíceis, "infelizmente não temos intérprete", disse o oficial. Todos os habitantes de Tikrit se mantêm ou são mantidos à distância dos americanos.

Dois iraquianos usando jalecos brancos, que caminham em direção ao posto de controle, são advertidos tal como aconteceu com a mulher. Mas, ainda que sem intérprete, os soldados acabam entendendo que são médicos e lhes dão salvo-conduto para ir ao hospital.

O trajeto até o centro assistencial se faz junto a uma coluna de blindados americanos que esperam entrar sem triunfo em Tikrit. À direita, os militares vigiam um local onde os fedayeen (paramilitares fiéis a Saddam Hussein) tinham seu quartel-general.

Do lado esquerdo, soldados cochilam ao sol, encostados nos veículos que vigiam a entrada monumental do palácio do presidente iraquiano destituído. No final da avenida rodeada de palmeiras, o edifício de um luxo extravagante parece intacto. Mas de perto, pode-se ver que foi destruído de dentro para fora. A decoração em madeira e mármores está estragada, os acessos especiais estão destruídos. Mas a vista do rio Tigre continua sendo maravilhosa.

Ao longe se pode escutar ainda algumas explosões dispersas, sem comparação com o ruído ensurdecedor da noite. Alguns helicópteros continuam sua ronda sobre a cidade.

No interior do palácio, que parece nunca ter sido ocupado, os entalhes de madeira e os desenhos dourados estão ali ainda, pois os saqueadores não atuaram com a mesma intensidade que em Bagdá, Kirkuk ou Basra.

Na cidade, nem os moradores nem os americanos derrubaram a estátua de Saddam, tampouco dispararam contra seus retratos. Intocável, Saddam continua em pé, desafiando os inimigos e sorrindo em todos os pontos da cidade.

Estátuas de cavalos continuam guardando as entradas do palácio. Saddam está em todas as partes e em nenhuma, e os habitantes dizem que não o vêem desde o começo da guerra.

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