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27/04/2003 - 10h15

Lavagna aconselha sucessor a ignorar reclamações

MARCELO BILLI
da Folha de S.Paulo, em Buenos Aires

Roberto Lavagna, ministro da Economia da Argentina, tem um pilha de pastas em sua mesa de trabalho. Todas iguais: uma série de folhas com gráficos e tabelas com dados positivos a respeito da economia do país.

"Mais que fazer discursos, temos de falar de dados", diz o ministro. Ele começa a lembrar o caos em que recebeu a economia argentina e como a entregará para o seu sucessor -se houver sucessor, já que um dos candidatos a presidente, o peronista Néstor Kirchner, anunciou que Lavagna ficará na pasta se ele for eleito.

"Em abril, a economia caía pouco mais de 16%. Agora está crescendo 4,5%. A inflação era de 11% e agora temos uma taxa de 0,5%. Temos 12 meses consecutivos de superávit primário. No ano passado, 100% dos depósitos bancários estavam sujeitos a alguma restrição. Hoje, não há restrições", explica, sem titubear.

O ministro concedeu entrevista à Folha na sexta-feira passada, dois dias antes da eleição. Ele participou da campanha de Kirchner, mas avisou que não falaria de política -mesmo porque estava proibido de fazê-lo pela legislação eleitoral argentina.

Lavagna continua com o que diz considerar avanços importantes da economia argentina: "Estávamos em uma situação econômica quase de hiperinflação e numa conjuntura política e social extrema. O governo deixa uma situação de ordenamento econômico e calma social".

Mas e a herança negativa para o próximo governo? A dívida pública subiu, o governo não renegociou a dívida externa e, enquanto não o fizer, não haverá linhas de crédito externo para a Argentina.

Lavagna volta a comparar a situação em que recebeu a economia e a situação em que a entrega para o próximo governo, e completa: "As situações são muito diferentes. É muito diferente ser ministro de uma administração de transição e de emergência do que ser um ministro com um horizonte de quatro anos pela frente".

A herança? "O próximo governo vai receber a transição mais ordenada dos últimos anos. Em 1989, havia a hiperinflação. Em 1999, a economia apresentava uma queda forte de produção e desemprego recorde, em 2001 houve o colapso da conversibilidade e do modelo econômico. O próximo governo não precisa pensar em conter uma situação crítica, mas partir de uma situação estável."

O ministro argentino admite que há problemas para resolver. "Mas, se alguém pensa que vai ser ministro da Economia sem ter problemas para resolver, é melhor nem assumir." O que ele não admite são as afirmações de que sua equipe econômica deixará uma herança negativa para o próximo governo. "Se há algo que não podem falar sobre esta equipe é que ela deixa uma herança [negativa]. É só imaginar a situação que recebemos no ano passado."

Os problemas, ele sabe quais são. E os cita: o país tem de renegociar a dívida externa, reestruturar os bancos e restaurar as linhas de crédito internas e externas, renegociar os contratos das empresas de serviços públicos.

Para cada problema, o ministro tem um prognóstico. E impõe uma condição para renegociar a dívida: o país não pode deixar de crescer para pagar a dívida. "Isso é impossível. Foi o que ocorreu de 1995 em diante: endividávamo-nos com o país em um processo cada vez mais profundo de recessão. Se não há crescimento, não há capacidade de pagamento."

Diz que o restabelecimento das linhas internacionais dependerá do acordo com o FMI e da própria renegociação da dívida. O crédito interno, avalia, depende da estabilização da conjuntura macroeconômica e da diminuição da incerteza. "Hoje, um dos motivos pelos quais os bancos não emprestam é a proximidade da eleição presidencial."

O próximo ministro da economia deverá também negociar com as concessionárias de serviços públicos. Conselhos? "Antes de mais nada, não se deixar impressionar pelas reclamações. No ano passado, um empresário italiano chegou um dia e disse que vinha entregar as chaves da empresa. Eu respondi que tudo bem, que podíamos chamar o escrivão. O escrivão nunca apareceu."

Autor de livros e estudos sobre o Mercosul, Lavagna diz crer que o momento atual é especialmente propício para que o bloco fortaleça sua integração. "Teremos dois governos que têm um horizonte de quatro a cinco anos e um cenário macroeconômico que facilita [a integração econômica]."

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