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06/08/2000 - 09h17

Grupo dos EUA quer direito de não ter filhos

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SÉRGIO DÁVILA,
da Folha de S.Paulo, em Nova York

Roger é um norte-americano típico. Tem 30 e poucos anos, mora numa cidadezinha do norte do país. Casou-se com Marie. Os dois não querem ter filhos. Quando passaram por uma crise há alguns anos, amigos sugeriram que ela ficasse grávida. Marie não quis.

Com o tempo, os dois foram se sentindo cada vez mais pressionados a ter filhos e mais deslocados numa sociedade de pais e mães.

Hoje o pensamento de Roger pode se resumir em sua frase: "Enquanto meus amigos levam suas crianças para comer no McDonald's, eu viajo com minha moto BMW ao México. Eles compram roupas e material escolar, eu aprendo a pilotar um avião; os filhos deles vão ao acampamento de verão, eu vou ao Havaí com minha mulher."

Roger e Marie são membros ativos do novo movimento "childfree", que deseja uma sociedade mais tolerante com quem não quer ter filhos e a liberdade de escolha de não ter de conviver com crianças.

A tendência começou nos Estados Unidos e no Canadá há algum tempo, mas vem se intensificando há um ano.

Há, atualmente, 13 milhões de casais sem filhos nos EUA -contra 32 milhões de casais com filhos menores de 18 anos. É uma minoria silenciosa, dividida entre os que não podem ter filhos e os que não querem. São esses últimos que começam agora a se organizar, ganhando sites, livros e discussões na imprensa.

Os organizadores do movimento "childfree" (livre de criança, em inglês) estimam em 1 milhão de pessoas seus seguidores. Há cerca de 40 sites com organizações "childfree" na Internet.

O principal é o No Kidding!, baseado no Canadá, conduzido por Jerry Steinberg, considerado o teórico do movimento.

O mais intelectualizado, o CBC (Childless by Choice, sem filhos por opção), fundado pelo casal Carin Smith e Jay Bender, vende a interessados pacotes com livros, fitas e CDs justificando a idéia.

Os nomes dos produtos do CBC são eloquentes: "Fatos e Falácias sobre Pessoas sem Filhos", em que defendem que não ter filhos não significa não ter coração; "Onde Eles Estão", com dicas de onde encontrar outros "childfree", e "E O Que Acontecerá Quando Eu Ficar Velho?", "acabando com o mito", segundo eles, de que o destino de casais sem filho na velhice é a solidão.

E o que quer um "childfree"? Basicamente, viver sua vida sem ser obrigado a ser pai ou mãe ou conviver com as crianças dos outros. As reivindicações vão de preocupações prosaicas, como mais restaurantes que não aceitem reservas de famílias com crianças, ao direito de poder fazer vasectomia com qualquer idade, sem ter tido filhos ainda e sem ter de dar explicação aos médicos.

Por enquanto, a ação deles se limita a abaixo-assinados para o Congresso, pedindo mais direitos para os "childfree", cartas para a imprensa reclamando contra pais yuppies e seus filhos desgovernados e encontros de grupos em finais de semana para adultos.

Há ainda um best seller, a bíblia do típico "childfree", que é "The Baby Boon: How Family-Friendly America Cheats the Childless" (O benefício das crianças: como a América "amiga da família" boicota os sem filhos, Free Press, 2000), da jornalista Elinor Burkett.

Em "Baby Boon", ela defende que os "childfree" como ela são boicotados pelo governo americano, que privilegia casais com filhos na hora da declaração de imposto de renda e quando distribui benefícios. São boicotados ainda pelas empresas, que dão vantagens a pais de família, como carga horária menor e pacotes de plano de saúde mais generosos.

"O governo dá US$ 2.800 de desconto no Imposto de Renda para famílias com mais de um filho. Dá ainda US$ 4.800 por ano de ajuda médica para quem tem mais de dois filhos. Quem paga essa conta? Pessoas como eu, sem filhos", escreve ela.

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