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11/05/2003 - 02h31

Disputa por petróleo do Iraque se complica

ÉRICA FRAGA
da Folha de S.Paulo

O cenário do Iraque no pós-guerra continua confuso e nada alentador para a população do país. De um lado, a produção de petróleo, essencial para a sobrevivência dos iraquianos, está estagnada, o que ameaça agravar a crise humanitária no país. De outro, se intensifica uma acirrada briga de bastidores na comunidade internacional sobre o futuro da commodity no país.

A queda de braços se dá entre os Estados Unidos, que querem controlar os rumos da indústria petrolífera iraquiana, e os outros membros do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), que defendem que as exportações do país sigam monitoradas pela instituição.

Até antes da guerra, a produção de petróleo do Iraque era limitada pelos embargos comerciais impostos ao regime de Saddam Hussein. A ONU controlava as vendas externas de acordo com o programa Petróleo por Comida, que permitia a exportação da commodity apenas para a compra de alimentos e remédios.

A renda dessas exportações _que somavam cerca de 1,5 milhão a 1,7 milhão de barris diários_ era de algo entre US$ 1,3 bilhão e US$ 1,5 bilhão por mês.

Desde o fim da guerra, no entanto, a falta de uma autoridade iraquiana estabelecida e as dúvidas em relação ao futuro envolvimento da ONU no país nessa fase de pós-guerra congelaram o programa Petróleo por Comida.

Divergências

Parte dos integrantes do Conselho de Segurança da ONU, principalmente França e Rússia, querem a renovação do programa que expiraria em junho até que haja um governo eleito democraticamente no país. Mas os EUA, que comandam a reconstrução do Iraque, defendem a suspensão imediata das sanções.

Enquanto esses embates se desenrolam, grandes empresas se recusam a comprar petróleo do Iraque. Hoje, há 8 milhões de barris da commodity iraquiana bloqueados na Turquia enquanto as vendas não se concretizam.
"O Iraque vive uma espécie de limbo legal. As grandes empresas, inclusive as americanas, não querem comprar petróleo do país porque têm medo de negociar com o governo norte-americano e, depois, uma nova administração iraquiana reclamar recursos já pagos aos EUA", diz Valerie Marcel, pesquisadora do The Royal Institute of Internacional Affairs (RIIA), prestigiado centro de pesquisa britânico.

Além de não poder exportar, o país viu sua produção de petróleo despencar depois da guerra, o que piorou sua situação econômica. Segundo Gerald Butt, editor da "Mees", revista especializada do setor, a produção da commodity caiu de uma média de 2,7 milhões de barris por dia para cerca 120 mil barris atualmente.

"A produção voltou de forma limitada nos campos do norte e do sul, mas tem sido suficiente para atender a apenas 40% da demanda doméstica. O maior problema no caso dessa demanda é a inabilidade de se colocar as refinarias funcionando por conta da falta de eletricidade", diz Butt.

Sem energia elétrica e sem a renda das exportações, o Iraque está à beira do agravamento de sua crise humanitária. Para Marcel, essa ameaça, somada aos interesses de negócios no Iraque, poderá forçar as grandes potências a chegar a um acordo a respeito da indústria petrolífera do país.

A especialista lembra que a França, por exemplo, moderou sua posição e já admite um cronograma para a suspensão gradual das sanções. Ela diz que, dadas as pressões até de grandes multinacionais do setor, o normal seria que a ONU acabasse retomando papel importante nas vendas do petróleo do país. Mas admite que os EUA vão resistir a isso.

"Se a ONU controlar os ganhos com a venda de petróleo do Iraque, deterá poder. Se você não controla o dinheiro, não tem o poder. E é isso que interessa ao governo norte-americano: ter poder no Iraque", afirma.

Nova resolução

Por enquanto, os EUA têm mantido sua posição a favor da suspensão imediata das sanções e do controle da renda das vendas do petróleo iraquiano nas mãos norte-americanas.
O governo Bush apresentou a proposta de uma nova resolução com esse conteúdo ao Conselho de Segurança anteontem. Contou com apoio da Espanha e do Reino Unido. A princípio, os demais membros não demonstraram forte oposição.

Apenas os representantes de França e Rússia disseram que vão querer mais esclarecimentos sobre as medidas propostas. Analistas antecipam que, se aprovada, a nova resolução representará o total controle da indústria petrolífera iraquiana pelos EUA.

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