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18/05/2003
-
07h00
especial para a Folha Online
Karol Wojtila, o papa peregrino faz aniversário hoje. Nascido em Wadowice, filho de Karol e Emilia, celebrará outra festa em Roma. E paradoxalmente será o papa que mais "desromanizou" o papado e a Cúria. Ainda que esta mesma Cúria tenha ganhado prestígio incomensurável.
Ator de teatro, esportista e alpinista, está prestes a completar cem viagens internacionais durante estes seus 25 anos de ministério petrino. Três destas viagens foram ao Brasil (1980, 1991 e 1997).
Escolhido homem do ano em 1994 pela revista "Time", João Paulo 2º assumiu por inúmeras vezes posições polêmicas em diversas conferências patrocinadas pela ONU (Organização das Nações Unidas). Recentemente, criticou de forma incisiva o belicismo do presidente dos EUA, George W. Bush, pedindo uma saída pacífica ao conflito entre os governos norte-americano e iraquiano.
Aos 83 anos, defensor intransigente da vida, João Paulo 2º apresenta-se como um bastião moral do mundo ocidente em colapso. A ética e sobretudo a bioética estão no coração de suas preocupações, ainda mais no que diz respeito às áreas da moral sexual e conjugal. Seus temas prediletos são Jesus Cristo, a Igreja Católica e o homem.
Marcado pelo horror da Segunda Guerra Mundial (1939-45) e por atentados à sua própria vida, João Paulo 2º percorreu mais de 1 milhão de quilômetros, visitando dezenas de países, anunciando sempre o diálogo entre os povos e as religiões. Em sua visita ao Brasil foi apelidado pelos fiéis como João de Deus.
Sua prodigiosa fluência em inúmeros idiomas nos permite ouvi-lo em alocuções em dezenas de línguas e dialetos, até em português. Ele também sabe como usar os meios de comunicação em massa para apresentar-se aos fiéis, incluindo a internet.
João Paulo 2º é crítico dos sistemas totalitários e firme defensor dos direitos humanos e da reforma agrária mundial.
Nomeou mais da metade dos bispos do planeta e quase todos os cardeais eleitores do atual colégio cardinalício. Isto alterou o "rosto" do episcopado brasileiro.
Segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2000, os católicos somam 76% da população brasileira. Em 1980, os católicos eram 89% dos brasileiros. Este abandono crescente e ininterrupto somado ao crescimento urbano, aos sem-terra, bóias-frias, às novas igrejas pentecostais entre tantos novos grupos religiosos estão exigindo novas estratégias proselitistas.
O papa tem insistido na ação decidida de todos os leigos católicos para reverter esta situação.
Os 16 mil sacerdotes, 6.000 seminaristas, 400 diáconos, 36 mil religiosas e 1.585 noviças espalhadas pelo Brasil vivem novas dificuldades para animar as milhares de famílias hoje feridas pela violência urbana, pelo desemprego e pelo narcotráfico triunfante.
O número de casamentos civis e religiosos caiu. A juventude e os acadêmicos universitários afastam-se da religião cristã e aproximam-se do secularismo, do ateísmo pragmático ou do neo-paganismo emergentes.
Muita gente no Brasil e no mundo anda em busca de uma religião híbrida. Isto preocupa profundamente o papa.
A principal meta pessoal do Santo Padre é manter a grande disciplina e o consenso diretivo de toda a instituição eclesiástica. Por conta desta estratégia doutrinária e dogmática, puniu inúmeros teólogos brasileiros e de forma simbólica o franciscano Leonardo Boff [questionamentos da Arquidiocese do Rio foram transformados em processo doutrinário, e em 1º de maio de 1985 Boff foi punido pelo Vaticano com o "silêncio obsequioso"].
O papa quer uma igreja forte e coesa diante da cultura fragmentada e neo-liberal. Não permite o dissenso teológico e tem exigido cuidado redobrado quanto às liturgias inculturadas e sincréticas. Tem uma devoção imensa e filial por Maria, a Mãe de Deus e pela Eucaristia.
Assim, muitos afirmam ser o papa um progressista social e um conservador religioso. Ele é um homem paradoxal e contemplativo.
Místico, vive nas fronteiras das culturas e da mídia, sendo grande defensor dos direitos humanos e ao mesmo tempo um inflexível moralista quanto à biotecnologia e sexualidade.
João Paulo 2º faz nesta semana de eclipse lunar total mais uma festa do viver. Ad multos annos!
Fernando Altemeyer Júnior, professor de teologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
Especial
Leia outras notícias sobre o papa João Paulo 2º
Artigo: Papa comemora aniversário polonês em Roma
FERNANDO ALTEMEYER JÚNIORespecial para a Folha Online
Karol Wojtila, o papa peregrino faz aniversário hoje. Nascido em Wadowice, filho de Karol e Emilia, celebrará outra festa em Roma. E paradoxalmente será o papa que mais "desromanizou" o papado e a Cúria. Ainda que esta mesma Cúria tenha ganhado prestígio incomensurável.
Ator de teatro, esportista e alpinista, está prestes a completar cem viagens internacionais durante estes seus 25 anos de ministério petrino. Três destas viagens foram ao Brasil (1980, 1991 e 1997).
Escolhido homem do ano em 1994 pela revista "Time", João Paulo 2º assumiu por inúmeras vezes posições polêmicas em diversas conferências patrocinadas pela ONU (Organização das Nações Unidas). Recentemente, criticou de forma incisiva o belicismo do presidente dos EUA, George W. Bush, pedindo uma saída pacífica ao conflito entre os governos norte-americano e iraquiano.
Aos 83 anos, defensor intransigente da vida, João Paulo 2º apresenta-se como um bastião moral do mundo ocidente em colapso. A ética e sobretudo a bioética estão no coração de suas preocupações, ainda mais no que diz respeito às áreas da moral sexual e conjugal. Seus temas prediletos são Jesus Cristo, a Igreja Católica e o homem.
Marcado pelo horror da Segunda Guerra Mundial (1939-45) e por atentados à sua própria vida, João Paulo 2º percorreu mais de 1 milhão de quilômetros, visitando dezenas de países, anunciando sempre o diálogo entre os povos e as religiões. Em sua visita ao Brasil foi apelidado pelos fiéis como João de Deus.
Sua prodigiosa fluência em inúmeros idiomas nos permite ouvi-lo em alocuções em dezenas de línguas e dialetos, até em português. Ele também sabe como usar os meios de comunicação em massa para apresentar-se aos fiéis, incluindo a internet.
João Paulo 2º é crítico dos sistemas totalitários e firme defensor dos direitos humanos e da reforma agrária mundial.
Nomeou mais da metade dos bispos do planeta e quase todos os cardeais eleitores do atual colégio cardinalício. Isto alterou o "rosto" do episcopado brasileiro.
Segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2000, os católicos somam 76% da população brasileira. Em 1980, os católicos eram 89% dos brasileiros. Este abandono crescente e ininterrupto somado ao crescimento urbano, aos sem-terra, bóias-frias, às novas igrejas pentecostais entre tantos novos grupos religiosos estão exigindo novas estratégias proselitistas.
O papa tem insistido na ação decidida de todos os leigos católicos para reverter esta situação.
Os 16 mil sacerdotes, 6.000 seminaristas, 400 diáconos, 36 mil religiosas e 1.585 noviças espalhadas pelo Brasil vivem novas dificuldades para animar as milhares de famílias hoje feridas pela violência urbana, pelo desemprego e pelo narcotráfico triunfante.
O número de casamentos civis e religiosos caiu. A juventude e os acadêmicos universitários afastam-se da religião cristã e aproximam-se do secularismo, do ateísmo pragmático ou do neo-paganismo emergentes.
Muita gente no Brasil e no mundo anda em busca de uma religião híbrida. Isto preocupa profundamente o papa.
A principal meta pessoal do Santo Padre é manter a grande disciplina e o consenso diretivo de toda a instituição eclesiástica. Por conta desta estratégia doutrinária e dogmática, puniu inúmeros teólogos brasileiros e de forma simbólica o franciscano Leonardo Boff [questionamentos da Arquidiocese do Rio foram transformados em processo doutrinário, e em 1º de maio de 1985 Boff foi punido pelo Vaticano com o "silêncio obsequioso"].
O papa quer uma igreja forte e coesa diante da cultura fragmentada e neo-liberal. Não permite o dissenso teológico e tem exigido cuidado redobrado quanto às liturgias inculturadas e sincréticas. Tem uma devoção imensa e filial por Maria, a Mãe de Deus e pela Eucaristia.
Assim, muitos afirmam ser o papa um progressista social e um conservador religioso. Ele é um homem paradoxal e contemplativo.
Místico, vive nas fronteiras das culturas e da mídia, sendo grande defensor dos direitos humanos e ao mesmo tempo um inflexível moralista quanto à biotecnologia e sexualidade.
João Paulo 2º faz nesta semana de eclipse lunar total mais uma festa do viver. Ad multos annos!
Fernando Altemeyer Júnior, professor de teologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
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