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Para Amorim, Brasil é "realista" em conselho de direitos humanos
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MARCELO NINIO
enviado especial da Folha de S. Paulo a Astana
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, rebateu nesta quarta-feira as críticas à linha do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) --defendeu uma atitude realista em relação ao tema e acusou os países ricos de agir movidos pelo sentimento de culpa colonialista.
Na última segunda-feira (15), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou no CDH, em Genebra, sob ataques de ONGs de defesa dos direitos humanos ao histórico do Brasil no órgão.
Para as ONGs, ao evitar condenações a regimes acusados de cometer abusos, como Sudão, Congo e Coreia do Norte, o governo brasileiro é conivente com eles e mina a capacidade do CDH de defender as vítimas.
Amorim reafirmou a convicção do Itamaraty de que é melhor dialogar com países acusados que isolá-los.
Disse isso no palácio do presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, líder de um regime autoritário que há dois anos obteve o direito ilimitado de se reeleger.
"É uma questão de concepção. Tem gente que quer ir para o CDH para ficar em paz com a sua consciências e purgar os pecados do colonialismo."
Um dos exemplos de pragmatismo citados pelo ministro foi a recente resolução sobre o Sri Lanka, aprovada num CDH profundamente dividido.
Copatrocinado pelo Brasil, o texto não fez menção aos abusos de que o governo é suspeito e não inclui a necessidade de uma investigação independente, o que foi defendido pela alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay.
"Se o Brasil não tivesse se envolvido na resolução, ela teria simplesmente passado a mão na cabeça do Sri Lanka e ponto final. O envolvimento do Brasil é que permitiu que a resolução tenha criado obrigações para o governo, que ele acabou tendo que aceitar para ter esse apoio mais amplo", disse o ministro.
Em outubro do ano passado, Amorim foi ao Zimbábue no momento em que países europeus pressionavam o presidente Robert Mugabe a deixar o poder, por indícios de fraude eleitoral. Após semanas de tensão, Mugabe aceitou dividir o poder com o candidato de oposição Morgan Tsvangirai
Amorim, que manteve conversas com os dois, disse que o diálogo evitou o pior. "O que queriam muitos países europeus é que o Mugabe saísse, mas isso teria levado a uma guerra", disse o ministro.
"O [debate] fundamental em direitos humanos é entre melhorar a situação ou simplesmente exprimir uma condenação que fique bonita e se bote num diploma na parede", ironizou ele. "O Brasil quer efetivamente melhorar a situação."
Grupos civis consideram a visão brasileira moralmente duvidosa, por preferir manter alianças com países em desenvolvimento a privilegiar a defesa das vítimas.
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