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18/06/2009 - 16h39

Polícia desistiu de enfrentar manifestantes, diz jovem iraniano

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LEILA CORREIA
colaboração para a Folha Online

O iraniano S.H.T, que acaba de completar 21 anos, esteve entre as milhares de pessoas que participaram nesta quinta-feira de uma marcha de luto em Teerã em homenagem às vítimas dos confrontos entre manifestantes oposicionistas e agentes de segurança em protestos contra o resultado da eleição realizada no último dia 12.

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Em entrevista à Folha Online --por e-mail, já que ele disse não ser seguro falar ao telefone--, o estudante de engenharia elétrica disse que não tem medo de participar das manifestações, porque o comportamento da polícia mudou.

"Nos primeiros dias após a eleição, havia policiais em todos os lugares, e se você estivesse com um grupo e não os ouvisse pedindo para que fosse embora, eles poderiam te bater, até mesmo te prender. Mas depois da última segunda-feira [15], quando aproximadamente 1 milhão de pessoas se reuniu na praça Azadi, a polícia mudou de comportamento." Agora, segundo ele, quando há muitas pessoas reunidas, a polícia não entra em choque com os manifestantes.

S.H.T. se reúne todos os dias, no final da tarde, com outros iranianos. Segundo ele, se você não se aproximar de prédios do governo e de outros locais onde há policiais e integrantes da milícia Basij, não há perigo de ser ferido.

Efe
Partidários da oposição participam de marcha em Teerã em homenagem às vítimas de confrontos com a polícia
Partidários da oposição participam de marcha em Teerã em homenagem às vítimas de confrontos com a polícia

Apesar de os protestos terem começado no último sábado (13), com o anúncio oficial do resultado da eleição, que deu vitória ao presidente Mahmoud Ahmadinejad por quase 63% dos votos, contra 34% do candidato moderado e ex-primeiro-ministro Mir Hossein Mousavi, o jovem contou que os iranianos começaram a sair às ruas duas semanas antes do pleito.

"O canal de televisão estatal começou a veicular debates entre os candidatos todas as noites, e esses encontros mostravam os outros três concorrentes [de oposição a Ahmadinejad] falando sobre fatos a respeito do governo que são proibidos de serem publicados nos jornais. Depois dos debates, as pessoas iam para as ruas à noite para dizer o que pensavam. Muitas delas apoiavam Mousavi", afirmou.

O jovem estudante nascido no Reino Unido disse que existe uma insatisfação com o governo há quatro anos --desde que Ahmadinejad chegou ao poder. Ele afirmou que o povo se sente pressionado por "problemas na economia, pela visão que o mundo tem do país e pela falta de liberdade".

"A maioria da população não está feliz com ele [Ahmadinejad] e realmente sente que é preciso mudar."

Por conta desse clima, o estudante disse que até mesmo quem votou no presidente ficou espantado com o resultado da eleição. "Quase todo mundo tem certeza que houve algum 'truque' na contagem dos votos". Apesar disso, S.H.T. disse que os iranianos se sentem "felizes porque ficaram unidos" nos protestos contra as supostas fraudes.

Conheça os indícios da suposta fraude na eleição

Boca a boca

S.H.T. explicou que a mais forte arma de propaganda é o boca a boca. "Se alguém tem uma informação que acredita ser verdade, essa pessoa irá repassá-la para todo mundo que encontrar, e vai ligar para os amigos para contar. Por exemplo, não temos uma imprensa para informar sobre o local de encontro [dos manifestantes] no dia seguinte. Mas por todos os lugares as pessoas irão contar para outras, mesmo que elas não se conheçam", disse.

Ele afirmou ainda que o sistema de envio de mensagens por celular foi desabilitado pelo governo, que também corta o sinal dos telefones móveis no período da noite, quando os jovens costumam se reunir e preparar os protestos do dia seguinte.

Nesta sexta-feira, não haverá protesto dos oposicionistas. Mas, para sábado, eles planejam reunir perto de dois milhões de pessoas em uma passeata entre as praças Enghelab e Azadi, segundo S.H.T., para mais uma vez pedir a anulação da eleição e a realização de um novo pleito.

 

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