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15/06/2003
-
08h40
enviado especial a Abuja
A nigeriana Amina Lawal, 31, condenada à morte por apedrejamento por ter tido um filho sem estar casada, pretende, caso ganhe a apelação, voltar a ter um marido, apesar de já ter vivido um casamento frustrado e de estar no corredor da morte justamente por acreditar em um outro homem, que prometeu desposá-la.
Separada, ela teve uma filha, Wasila, com este homem, que depois não cumpriu a palavra. A sharia, o código legal islâmico, define como adultério o caso de mulheres separadas que engravidam.
O bebê, de um ano e meio, acabou sendo depois a prova usada para condenar Amina, que também admitiu ao juiz ter tido relações sexuais com o pai de Wasila.
O caso ganhou enorme repercussão mundial, e Amina tornou-se um símbolo da luta pelos direitos das mulheres. Um tribunal religioso de Futua, no norte da Nigéria, deveria ter analisado a apelação de Amina no último dia 4, mas adiou a revisão até pelo menos o dia 27 de agosto.
A Folha conversou com Amina em um ponto de Abuja determinado por sua advogada, Hauwa Ibrahim, que pediu para não divulgar o local por segurança.
Mãe de dois outros filhos do primeiro casamento, ela é tímida e tem uma voz muito baixa. Só esboçou um sorriso quando chegou e cumprimentou, com a filha no colo, todos que estavam na sala.
Sem falar inglês (usa uma das dezenas de línguas tribais na Nigéria), teve suas respostas traduzidas por uma assistente da advogada. Suas intervenções eram curtas, mas em nenhum momento mostrou hesitação. Na hora das fotos, Amina deixou a timidez de lado, fez poses e ficou curiosa ao ver as imagens na câmera digital.
Folha - Você tem medo de morrer apedrejada?
Amina - Não. Ninguém pode ter medo de morrer, porque quem está vivo vai morrer um dia.
Folha - O quê você pensa sobre a sharia?
Amina - Não quero falar sobre isso, mas creio que tudo, inclusive ela, vem de Deus.
Folha - Você se sente culpada?
Amina - Não. O que eu fiz vem do poder de Deus.
Folha - Seu caso é famoso como uma das bandeiras pelos direitos das mulheres. Como vê esse apoio?
Amina - Só posse agradecer muito pelo que estão fazendo comigo.
Folha - Você acredita que vai haver justiça no seu caso?
Amina - Eu só acredito na justiça de Deus.
Folha - Como é ser uma mulher na Nigéria?
Amina - No meu caso, vale a pena apenas pelo meu bebê. Atualmente, vivo apenas por ele.
Folha - Como você contaria a história que vive hoje para sua filha?
Amina - Não vou precisar fazer isso. Todas as outras pessoas irão fazer isso primeiro.
Folha - Quando tudo isso acabar, o quê você quer fazer?
Amina - Eu só quero casar.
Folha - Você pensa em deixar a Nigéria?
Amina - Já falei para você. A única coisa que eu quero fazer quando tudo terminar é casar.
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PAULO COBOSenviado especial a Abuja
A nigeriana Amina Lawal, 31, condenada à morte por apedrejamento por ter tido um filho sem estar casada, pretende, caso ganhe a apelação, voltar a ter um marido, apesar de já ter vivido um casamento frustrado e de estar no corredor da morte justamente por acreditar em um outro homem, que prometeu desposá-la.
Separada, ela teve uma filha, Wasila, com este homem, que depois não cumpriu a palavra. A sharia, o código legal islâmico, define como adultério o caso de mulheres separadas que engravidam.
O bebê, de um ano e meio, acabou sendo depois a prova usada para condenar Amina, que também admitiu ao juiz ter tido relações sexuais com o pai de Wasila.
O caso ganhou enorme repercussão mundial, e Amina tornou-se um símbolo da luta pelos direitos das mulheres. Um tribunal religioso de Futua, no norte da Nigéria, deveria ter analisado a apelação de Amina no último dia 4, mas adiou a revisão até pelo menos o dia 27 de agosto.
A Folha conversou com Amina em um ponto de Abuja determinado por sua advogada, Hauwa Ibrahim, que pediu para não divulgar o local por segurança.
Mãe de dois outros filhos do primeiro casamento, ela é tímida e tem uma voz muito baixa. Só esboçou um sorriso quando chegou e cumprimentou, com a filha no colo, todos que estavam na sala.
Sem falar inglês (usa uma das dezenas de línguas tribais na Nigéria), teve suas respostas traduzidas por uma assistente da advogada. Suas intervenções eram curtas, mas em nenhum momento mostrou hesitação. Na hora das fotos, Amina deixou a timidez de lado, fez poses e ficou curiosa ao ver as imagens na câmera digital.
Folha - Você tem medo de morrer apedrejada?
Amina - Não. Ninguém pode ter medo de morrer, porque quem está vivo vai morrer um dia.
Folha - O quê você pensa sobre a sharia?
Amina - Não quero falar sobre isso, mas creio que tudo, inclusive ela, vem de Deus.
Folha - Você se sente culpada?
Amina - Não. O que eu fiz vem do poder de Deus.
Folha - Seu caso é famoso como uma das bandeiras pelos direitos das mulheres. Como vê esse apoio?
Amina - Só posse agradecer muito pelo que estão fazendo comigo.
Folha - Você acredita que vai haver justiça no seu caso?
Amina - Eu só acredito na justiça de Deus.
Folha - Como é ser uma mulher na Nigéria?
Amina - No meu caso, vale a pena apenas pelo meu bebê. Atualmente, vivo apenas por ele.
Folha - Como você contaria a história que vive hoje para sua filha?
Amina - Não vou precisar fazer isso. Todas as outras pessoas irão fazer isso primeiro.
Folha - Quando tudo isso acabar, o quê você quer fazer?
Amina - Eu só quero casar.
Folha - Você pensa em deixar a Nigéria?
Amina - Já falei para você. A única coisa que eu quero fazer quando tudo terminar é casar.
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