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06/07/2003
-
02h50
da Folha de S.Paulo
O governo chinês já pediu desculpas ao mundo por esconder os primeiros casos de uma misteriosa doença surgida na Província de Guangdong, em novembro passado, evitando que outros países adotassem medidas preventivas. Mas uma série de casualidades -inclusive um pacote promocional de uma companhia aérea- também contribuiu para que a Sars se espalhasse pelo mundo.
"Noventa e nove por cento dos casos de Sars registrados fora da China continental e de Taiwan tiveram origem no Hotel Metropole, em Hong Kong, na noite do dia 21 de fevereiro", diz o microbiologista canadense Donald Low, coordenador do combate à Sars em Toronto, em entrevista à Folha de S.Paulo, por telefone.
Naquela noite, o médico chinês Liu Jianlun, que estava cuidando de pacientes com Sars na Província de Guangdong, se hospedou no Metropole. Infectou dez pessoas, vindas de Cingapura, Vietnã e Canadá, além de moradores de Hong Kong. Todos geraram os primeiros surtos epidêmicos em suas regiões de origem.
Quem levou a doença ao Canadá -único país fora da Ásia onde houve surto epidêmico- foi a dona de casa Kwan Sui-chu, 76, moradora de Toronto.
"O irônico é que ela não precisava dormir no hotel. Ela foi para lá visitar o seu filho e ia ficar na casa dele, mas comprou as passagens aéreas por meio de uma promoção pela qual ela e seu marido teriam três noites de graça em qualquer hotel de Hong Kong. E eles pensaram: "Nós temos hotel de graça, vamos ficar por aqui'", conta Low.
Dois dias mais tarde, ela voltou para o Canadá, onde desenvolveu a doença, e morreu no dia 5 de março. Antes, contaminou seu outro filho, que espalhou o vírus da Sars.
Nos quatro meses seguintes, a Sars provocaria a morte de 39 pessoas na região de Toronto. Mais de 370 contraíram a doença e cerca de 12 mil moradores da cidade ficaram sob quarentena. Ainda restam 20 pacientes com Sars em hospitais da cidade -11 em situação crítica. Sem contar os prejuízos econômicos e o abalo emocional da maior cidade canadense, com 4 milhões de habitantes.
O encontro fatídico no Hotel Metropole provocaria ainda 298 mortes em Hong Kong, 32 em Cingapura e cinco no Vietnã.
Foi apenas o acaso? "Absolutamente. Pura má sorte. Poderia ter acontecido em São Paulo. Se aquela mulher tivesse ficado em Hong Kong, não teríamos nenhum problema", diz Low.
Especial
Saiba tudo sobre a Sars
Pacote promocional de empresa aérea "exportou" Sars da Ásia
FABIANO MAISONNAVEda Folha de S.Paulo
O governo chinês já pediu desculpas ao mundo por esconder os primeiros casos de uma misteriosa doença surgida na Província de Guangdong, em novembro passado, evitando que outros países adotassem medidas preventivas. Mas uma série de casualidades -inclusive um pacote promocional de uma companhia aérea- também contribuiu para que a Sars se espalhasse pelo mundo.
"Noventa e nove por cento dos casos de Sars registrados fora da China continental e de Taiwan tiveram origem no Hotel Metropole, em Hong Kong, na noite do dia 21 de fevereiro", diz o microbiologista canadense Donald Low, coordenador do combate à Sars em Toronto, em entrevista à Folha de S.Paulo, por telefone.
Naquela noite, o médico chinês Liu Jianlun, que estava cuidando de pacientes com Sars na Província de Guangdong, se hospedou no Metropole. Infectou dez pessoas, vindas de Cingapura, Vietnã e Canadá, além de moradores de Hong Kong. Todos geraram os primeiros surtos epidêmicos em suas regiões de origem.
Quem levou a doença ao Canadá -único país fora da Ásia onde houve surto epidêmico- foi a dona de casa Kwan Sui-chu, 76, moradora de Toronto.
"O irônico é que ela não precisava dormir no hotel. Ela foi para lá visitar o seu filho e ia ficar na casa dele, mas comprou as passagens aéreas por meio de uma promoção pela qual ela e seu marido teriam três noites de graça em qualquer hotel de Hong Kong. E eles pensaram: "Nós temos hotel de graça, vamos ficar por aqui'", conta Low.
Dois dias mais tarde, ela voltou para o Canadá, onde desenvolveu a doença, e morreu no dia 5 de março. Antes, contaminou seu outro filho, que espalhou o vírus da Sars.
Nos quatro meses seguintes, a Sars provocaria a morte de 39 pessoas na região de Toronto. Mais de 370 contraíram a doença e cerca de 12 mil moradores da cidade ficaram sob quarentena. Ainda restam 20 pacientes com Sars em hospitais da cidade -11 em situação crítica. Sem contar os prejuízos econômicos e o abalo emocional da maior cidade canadense, com 4 milhões de habitantes.
O encontro fatídico no Hotel Metropole provocaria ainda 298 mortes em Hong Kong, 32 em Cingapura e cinco no Vietnã.
Foi apenas o acaso? "Absolutamente. Pura má sorte. Poderia ter acontecido em São Paulo. Se aquela mulher tivesse ficado em Hong Kong, não teríamos nenhum problema", diz Low.
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