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22/07/2003
-
04h50
Free-lance para a Folha de S.Paulo em Londres
A disputa da BBC com o governo em torno do dossiê sobre armas de destruição em massa e a morte do cientista David Kelly, que seria a fonte principal da reportagem que iniciou a briga, afetaram também a própria imagem da rede de rádio e TV estatal.
Na pesquisa do instituto YouGov, 35% disseram que sua opinião em relação à BBC piorou, e 55% disseram que não mudou.
Analistas ouvidos pela Folha de S.Paulo consideram que o dano, até agora, foi maior para o governo, como mostra a pesquisa. "Isso tudo foi mais prejudicial ao governo do que para a BBC", disse Steven Barnett, especialista em mídia da Universidade de Westminster.
Mas Barnett considera que muitas questões devem ser respondidas pela BBC, como, por exemplo, "até que ponto Kelly era a única fonte, até que ponto eles confiaram nas informações que ele deu e até que ponto ele pode ter dito mais a eles do que admitiu no comitê" do Parlamento. No depoimento, o cientista disse que não se considerava a fonte principal da reportagem da BBC, que dizia que o governo tinha "tornado mais sexy" as informações dos serviços de inteligência sobre as armas de destruição em massa do Iraque.
Para Peter Preston, colunista e ex-editor do jornal "The Guardian" (entre 1975 e 1995), a estratégia do governo de atacar a BBC por causa da reportagem está prejudicando Tony Blair, que estaria melhor se "esquecesse" o assunto.
Ele argumenta que existe "muito afeto" da população em geral pela BBC e que, historicamente, quando qualquer governo no Reino Unido começa a querer intimidar a rede pública de rádio e TV, acaba perdendo popularidade.
"A BBC é chamada, de forma afetuosa, de 'tia', é uma amiga", disse Preston. A própria BBC tem dado ampla cobertura ao caso, mostrando críticas e avaliações em seus programas. Preston considera que a rede "tem sido muito boa" no relato dos fatos. "O site da BBC me pediu um artigo, mas não me perguntaram antes o que eu pensava a respeito", contou.
Para outros especialistas, é melhor a postura de desafio que um noticiário pró-governo ou morno. "O público está bem servido por uma mídia agressiva", disse à agência Reuters John Owen, professor da City University, em Londres. "É melhor do que o que está acontecendo nos Estados Unidos, por exemplo, onde políticos não acham que tenham de prestar contas, e a Casa Branca faz muralhas em torno dos jornalistas."
A BBC já começou a preparar uma grande operação para limitar danos, segundo o jornal "Financial Times". Uma equipe de graduados executivos e advogados da empresa está reunindo documentos, transcrições e fitas relacionadas ao dossiê e às razões pelas quais a rede confiou em Kelly como sua principal fonte para as notícias. Segundo a própria BBC, o cientista foi a fonte de três repórteres que divulgaram informações semelhantes sobre o suposto exagero sobre a ameaça iraquiana em vários programas.
O jornal conta que executivos, liderados pelo diretor-geral da rede, Greg Dyke, estão determinados a impedir que esse episódio resulte em uma campanha para reformar a empresa, o que poderia abalar mais a sua reputação.
Especial
Saiba tudo sobre a guerra no Iraque
Simpatia pela BBC também sofre desgaste com caso Kelly
MARIA LUIZA ABBOTTFree-lance para a Folha de S.Paulo em Londres
A disputa da BBC com o governo em torno do dossiê sobre armas de destruição em massa e a morte do cientista David Kelly, que seria a fonte principal da reportagem que iniciou a briga, afetaram também a própria imagem da rede de rádio e TV estatal.
Na pesquisa do instituto YouGov, 35% disseram que sua opinião em relação à BBC piorou, e 55% disseram que não mudou.
Analistas ouvidos pela Folha de S.Paulo consideram que o dano, até agora, foi maior para o governo, como mostra a pesquisa. "Isso tudo foi mais prejudicial ao governo do que para a BBC", disse Steven Barnett, especialista em mídia da Universidade de Westminster.
Mas Barnett considera que muitas questões devem ser respondidas pela BBC, como, por exemplo, "até que ponto Kelly era a única fonte, até que ponto eles confiaram nas informações que ele deu e até que ponto ele pode ter dito mais a eles do que admitiu no comitê" do Parlamento. No depoimento, o cientista disse que não se considerava a fonte principal da reportagem da BBC, que dizia que o governo tinha "tornado mais sexy" as informações dos serviços de inteligência sobre as armas de destruição em massa do Iraque.
Para Peter Preston, colunista e ex-editor do jornal "The Guardian" (entre 1975 e 1995), a estratégia do governo de atacar a BBC por causa da reportagem está prejudicando Tony Blair, que estaria melhor se "esquecesse" o assunto.
Ele argumenta que existe "muito afeto" da população em geral pela BBC e que, historicamente, quando qualquer governo no Reino Unido começa a querer intimidar a rede pública de rádio e TV, acaba perdendo popularidade.
"A BBC é chamada, de forma afetuosa, de 'tia', é uma amiga", disse Preston. A própria BBC tem dado ampla cobertura ao caso, mostrando críticas e avaliações em seus programas. Preston considera que a rede "tem sido muito boa" no relato dos fatos. "O site da BBC me pediu um artigo, mas não me perguntaram antes o que eu pensava a respeito", contou.
Para outros especialistas, é melhor a postura de desafio que um noticiário pró-governo ou morno. "O público está bem servido por uma mídia agressiva", disse à agência Reuters John Owen, professor da City University, em Londres. "É melhor do que o que está acontecendo nos Estados Unidos, por exemplo, onde políticos não acham que tenham de prestar contas, e a Casa Branca faz muralhas em torno dos jornalistas."
A BBC já começou a preparar uma grande operação para limitar danos, segundo o jornal "Financial Times". Uma equipe de graduados executivos e advogados da empresa está reunindo documentos, transcrições e fitas relacionadas ao dossiê e às razões pelas quais a rede confiou em Kelly como sua principal fonte para as notícias. Segundo a própria BBC, o cientista foi a fonte de três repórteres que divulgaram informações semelhantes sobre o suposto exagero sobre a ameaça iraquiana em vários programas.
O jornal conta que executivos, liderados pelo diretor-geral da rede, Greg Dyke, estão determinados a impedir que esse episódio resulte em uma campanha para reformar a empresa, o que poderia abalar mais a sua reputação.
Especial
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