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27/07/2003 - 04h30

Bush encara desafios para 2004

FERNANDO CANZIAN
da Folha de S.Paulo, em Washington

A pouco mais de 15 meses das eleições de novembro de 2004, o presidente dos EUA, George W. Bush, começa a enfrentar agora os primeiros grandes desafios de sua administração.

Enquanto pesquisas de opinião continuam mostrando uma queda em sua popularidade, a economia americana se recupera em um ritmo muito mais lento do que o esperado e aumentam os questionamentos sobre a atuação militar americana no Iraque.

O lado menos visível dos problemas de Bush mostra ainda um governo federal financeiramente em desordem e uma série de Estados praticamente falidos _o que dificultará ainda mais a vital recuperação da economia para os planos de reeleição do presidente.

A mais recente boa notícia para Bush, a morte na semana passada de Uday e Qusay Hussein no Iraque, também poderá ter fôlego curto se persistirem as mortes quase que diárias de soldados americanos no país.

Vislumbrando uma brecha para o ataque, os principais pré-candidatos democratas à eleição do ano que vem também já afinam o discurso e questionam cada vez com mais ênfase os motivos que levaram os EUA à guerra e o fato de não terem sido encontradas até agora armas de destruição em massa no Iraque.

''Pela primeira vez neste governo temos uma Casa Branca desarranjada e inábil para lidar com problemas que vêm atraindo cada vez mais a atenção da mídia'', afirma Jay Farrar, vice-presidente do Centro Internacional de Estudos Estratégicos de Washington.

Na sua opinião, o Iraque e os motivos que levaram os EUA à guerra não serão um ''show de final próximo'', e o caso deve ser ''amplamente explorado'' pelos pré-candidatos democratas.

Sara Binder, especialista em Congresso e partidos políticos do Brookings Institute, afirma que até agora Bush tem conseguido evitar crises de dimensões maiores graças à ''blindagem'' republicana no Congresso dos EUA, onde controla Câmara e Senado.

Na sua opinião, Bush ainda consegue manter restritas as atuais crises a Washington, mas ela afirma que os problemas latentes devem ganhar novas dimensões quando a campanha eleitoral esquentar.
O principal obstáculo aos planos de reeleição de Bush, no entanto, continua concentrado na área econômica _que afeta, de uma forma geral, todo o país.

A recuperação americana tem sido morna, e, segundo a previsão de especialistas (ver reportagem no caderno Dinheiro), uma eventual retomada não terá impacto no emprego no médio prazo.

Bush convive hoje com 9,6 milhões de desempregados no país. Cerca de 2,6 milhões deles perderam o emprego durante o seu governo e faziam parte do setor mais bem remunerado da economia americana, o industrial.

Quando o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) ocupava a Casa Branca, a economia do país viveu um ciclo de crescimento intenso e chegou a registrar uma das menores taxas de desemprego da sua história.
Na semana passada, em discurso sobre os rumos da economia americana, Bush afirmou que ''assumiu um país em recessão'' e responsabilizou seu antecessor pelo atual nível de desemprego.

''De fato, a economia estava frágil no início do atual governo, mas não há nenhuma política consistente hoje que esteja voltada à reversão dessa situação. A única resposta visível é o plano de corte de impostos, que beneficia particularmente os mais ricos'', diz Stanley Gacek, diretor da AFL-CIO, entidade sindical que representa 13 milhões de trabalhadores nos Estados Unidos.

Boa parte da recuperação econômica atual também vem se apoiando na criação de um novo problema para o futuro: o aumento do déficit fiscal, que só em 2003 deve atingir US$ 455 bilhões e que deve ser somado aos ''buracos'' dos anos anteriores.

Somente em 2003, os EUA devem pagar US$ 156 bilhões em juros por conta de sua dívida interna. O valor corresponde a três vezes o que a área federal gasta anualmente em educação.

Quando assumiu, Bush contava com um superávit nas contas do governo projetado em US$ 5,6 trilhões para os próximos dez anos. O presidente se comprometeu a usar o dinheiro para ampliar o seguro social americano e para promover cortes de impostos.

Apenas a segunda parte da promessa vem sendo cumprida, e com valores bem abaixo do que foi anunciado inicialmente.

Hot dog de US$ 2.000

O grande trunfo que Bush ainda guarda é a montagem de um rolo compressor para tocar os seus planos eleitorais.

Dos US$ 170 milhões que o comitê eleitoral de Bush pretende arrecadar até meados de 2004, quase 20% já estão em caixa.

Há algumas semanas, Bush vem provendo uma maratona de eventos nas principais capitais do país onde simpatizantes do Partido Republicano, na maioria empresários, comparecem dispostos a contribuir com um mínimo de US$ 2.000 para participarem de jantares onde são servidos apenas hot dog e refrigerante _degustados de pé pelos presentes.
Do lado democrata, em que nove pré-candidatos disputam a preferência do partido, as apostas começam a afunilar em torno de dois postulantes: Howard Dean, ex-governador de Vermont, e John Kerry, que é senador por Massachusetts.

Dean e Kerry estão na dianteira na arrecadação de fundos e já engrenaram um discurso mais ácido sobre a atuação americana no Iraque, principalmente em relação à morte de soldados americanos no país, assunto que sensibiliza cada vez mais a opinião pública.

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