28/07/2003 - 07h27

Ex-ministra responsabiliza governo Blair por caso Kelly

da France Presse, em Londres

O aparente suicídio do cientista David Kelly, especialista em armamento biológico do Ministério britânico da Defesa, foi resultado de "abuso do poder" por parte do governo e os responsáveis devem prestar contas, declarou a ex-ministra Clare Short ao jornal "The Independent".

O primeiro-ministro Tony Blair é um "neoconservador" e tem "obsessão pela manipulação", disse Short, que foi ministra de Desenvolvimento Internacional do governo trabalhista entre 1997 e 2003.

Reuters - 24.02.2003

Tony Blair, primeiro-ministro do Reino Unido

Totalmente contrária à Guerra do Iraque, Short apresentou sua renúncia em abril passado afirmando que Reino Unido e Estados Unidos não deixaram espaço para a ONU (Organização das Nações Unidas) na reconstrução iraquiana.

Blair "está totalmente convertido à visão neoconservadora do mundo", como ocorre com vários membros e assesores do governo americano, e o aparente suicídio de Kelly ilustra o funcionamento do círculo do primeiro-ministro, disse Short ao jornal.

"A verdade deve aparecer e as pessoas responsáveis devem prestar contas. Alastair Campbell [diretor de estratégia e comunicação de Downing Street] e Tony Blair trabalham muito, muito ligados. Me parece que estão todos envolvidos."

"Devemos esclarecer a questão da morte do cientista Kelly e o abuso de poder que levou a isto. Também devemos encarar os motivos que nos levaram à Guerra do Iraque e quantas meias verdades foram ditas pelo caminho", acrescentou.

Short acusa Blair de mentir sobre a posição francesa antes da guerra: "Tony me disse que os franceses vetariam tudo. Me enganou sobre a posição francesa. Enganou a todos".

O premiê deve se retirar "com elegância" para permitir que o Partido Trabalhista se renove antes das próximas eleições, concluiu Short.

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