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03/08/2003
-
09h05
da Folha de S.Paulo
A situação do Paraguai é paradoxal em relação aos demais países do Cone Sul a respeito de investigações e reparações aos abusos da ditadura. Mesmo sem uma lei de anistia para garantir a impunidade dos dirigentes acusados de abusos, como houve na Argentina, no Uruguai, no Chile e no Brasil, são mínimas as iniciativas para esclarecer e punir os abusos cometidos durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).
Não existem dados oficiais, mas estima-se em algumas dezenas o número de desaparecidos no período. Além disso, o governo de Stroessner é acusado por centenas de casos de tortura e pela participação ativa na Operação Condor (sistema de repressão com colaboração mútua entre os regimes militares de Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, nos anos 70).
Stroessner, 90, que vive exilado no Brasil desde que foi derrubado, é um dos únicos condenados por abusos no Paraguai.
"O processo de transição no Paraguai foi um conflito interno dentro da mesma estrutura de poder --Stroessner foi derrubado por seu consogro, o general Andrés Rodríguez, pertencente ao mesmo partido [Colorado, ainda no poder]--, o que explica em parte a ausência de iniciativas para investigar os abusos", diz o senador José Nicolás Morinigo, do País Solidário (centro-esquerda).
Morinigo é ele próprio uma vítima da ditadura Stroessner. Ficou um ano detido, entre 1977 e 1978, quando, como líder estudantil, editava uma revista crítica ao regime, e sofreu torturas psicológicas e físicas --"choques, golpes nas plantas dos pés e das mãos e afogamentos", conta.
Outro fator que inibe a pressão popular por justiça nesse caso é o fato de a repressão no Paraguai não ter tido a mesma magnitude que teve nos países vizinhos. Em parte isso ocorreu porque Stroessner mantinha um controle total do país e sofria poucas contestações políticas.
"Não havia no Paraguai uma estratégia de repressão em massa contra a oposição. Stroessner usava a repressão em ocasiões especiais, de modo seletivo, para eliminar os inimigos políticos principais e gerar temor na população em geral", diz Morinigo.
Caso paraguaio é o paradoxo no Cone Sul
ROGERIO WASSERMANNda Folha de S.Paulo
A situação do Paraguai é paradoxal em relação aos demais países do Cone Sul a respeito de investigações e reparações aos abusos da ditadura. Mesmo sem uma lei de anistia para garantir a impunidade dos dirigentes acusados de abusos, como houve na Argentina, no Uruguai, no Chile e no Brasil, são mínimas as iniciativas para esclarecer e punir os abusos cometidos durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).
Não existem dados oficiais, mas estima-se em algumas dezenas o número de desaparecidos no período. Além disso, o governo de Stroessner é acusado por centenas de casos de tortura e pela participação ativa na Operação Condor (sistema de repressão com colaboração mútua entre os regimes militares de Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, nos anos 70).
Stroessner, 90, que vive exilado no Brasil desde que foi derrubado, é um dos únicos condenados por abusos no Paraguai.
"O processo de transição no Paraguai foi um conflito interno dentro da mesma estrutura de poder --Stroessner foi derrubado por seu consogro, o general Andrés Rodríguez, pertencente ao mesmo partido [Colorado, ainda no poder]--, o que explica em parte a ausência de iniciativas para investigar os abusos", diz o senador José Nicolás Morinigo, do País Solidário (centro-esquerda).
Morinigo é ele próprio uma vítima da ditadura Stroessner. Ficou um ano detido, entre 1977 e 1978, quando, como líder estudantil, editava uma revista crítica ao regime, e sofreu torturas psicológicas e físicas --"choques, golpes nas plantas dos pés e das mãos e afogamentos", conta.
Outro fator que inibe a pressão popular por justiça nesse caso é o fato de a repressão no Paraguai não ter tido a mesma magnitude que teve nos países vizinhos. Em parte isso ocorreu porque Stroessner mantinha um controle total do país e sofria poucas contestações políticas.
"Não havia no Paraguai uma estratégia de repressão em massa contra a oposição. Stroessner usava a repressão em ocasiões especiais, de modo seletivo, para eliminar os inimigos políticos principais e gerar temor na população em geral", diz Morinigo.
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