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15/08/2003 - 22h50

Ex-líderes guerrilheiros argentinos denunciam ''perseguição''

da France Presse, em Buenos Aires

Os antigos líderes da organização armada argentina Montoneros (peronista de esquerda) Roberto Perdía e Fernando Vaca Narvaja, que estão presos, denunciaram serem vítimas de uma ''perseguição política'', ao serem interrogados hoje pelo juiz Claudio Bonadío, no processo que investiga o sequestro e desaparecimento de 15 de seus ativistas em 1980.

O juiz ditou uma ordem de captura internacional também contra Mario Firmenich, líder histórico da guerrilha, dissolvida, e que vive na Espanha, onde ainda não foi preso, informou seu advogado, Gustavo Madadrini Drago.

Bonadío investiga o sequestro e desaparecimento de montoneros em 1980, quando voltaram ao país do exílio para participar da chamada ''contra-ofensiva estratégica'' contra o regime militar (1976-83).

''Quero começar reprovando a conduta do julgado, que realizou minha prisão com características próprias de um procedimento da época da ditadura'', disse Perdía, diante do juiz. Na manhã de ontem, quando passeava com seu cão, ele foi interceptado por dois carros particulares e algemado, contaram parentes.

Esta causa, em que os ex-líderes montoneros são suspeitos de facilitar à ditadura o sequestro e desaparecimento de seus ativistas, levou à prisão de vários militares. Perdía está detido na Unidade de Investigações Antiterroristas da Polícia Federal.

O advogado de Perdía, Eduardo Soares, criticou o fato de o juiz acusar os ex-líderes montoneros ''de serem autores materiais de desaparecimentos, mesmo crime atribuído aos militares (...) de qualquer modo, poderia-se acusá-los de negligência, mas nunca de dolo''.

Em seu depoimento, que durou quase quatro horas, Perdía lembrou o episódio de 1980, quando ''a liderança nacional [da Montoneros] efetivamente aprovou a volta ao país de diferentes grupos de companheiros'', para enfrentar a ditadura.

''Esses companheiros foram centenas, e muitos perderam a vida. Outros, estão vivos. Podemos provar categoricamente que a vida ou morte na luta nasce do compromisso voluntariamente assumido, e não de uma mente diabólica'', acrescentou.

Já Narvaja depôs por mais de duas horas, e afirmou que estava na Nicarágua no momento da contra-ofensiva. Sua mulher, Mary, disse aos jornalistas que ''a teoria dos dois demônios está por aqui'', e classificou de ''aberração jurídica'' a acusação do juiz.

A chamada ''teoria dos dois demônios pretende igualar a responsabilidade dos líderes das organizações armadas de esquerda --acusados de cometer atos terroristas-- a dos militares responsáveis pelo desaparecimento sistemático de opositores dentro do terrorismo de Estado, como foi definido na sentença proferida ao fim do julgamento dos ex-comandantes em 1985.

A partir dos interrogatórios, o juiz tem 10 dias para definir a situação processual dos acusados, que continuarão presos, mas comunicáveis.

A prisão dos antigos líderes guerrilheiros aconteceu um dia depois de a Câmara dos Deputados argentina ter aprovado a revogação das leis Ponto Final (1986) e Obediência Devida (1987). Os ex-guerrilheiros haviam sido indultados pelo ex-presidente Carlos Menem em 1989 e 1990, de acusações de atos terroristas e sequestros, cometidos na década de 70.
 

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