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20/08/2003 - 19h27

Kirchner tenta garantir liderança na 1ª crise do governo argentino

da France Presse, em Buenos Aires

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, buscou consolidar sua liderança durante a primeira crise aberta no governo, ao exigir o afastamento de funcionários ligados ao vice-presidente Daniel Scioli, que desafiou seu poder ao discordar da orientação geral em assuntos sensíveis ligados à economia e aos direitos humanos.

Kirchner se manteve em silêncio hoje sobre o delicado conflito ainda não sufocado, mas o chefe de Gabinete, Alberto Fernández, disse à rádio Mitre que o presidente ''está exercendo sua autoridade para manter a ordem no país''.

Reuters
Néstor Kirchner, presidente da Argentina
''Definitivamente, quem conduz os destinos do país é o presidente. Nós não pedimos a renúncia do vice, que foi escolhido por nós. Não há risco institucional, o governo está absolutamente coeso'', disse o ministro coordenador.

Fernández esclareceu, no entanto, que ''o que motivou a questão foram única e exclusivamente as expressões usadas pelo vice-presidente, que batem de frente com as expressões de todo um governo''.

Scioli, antes afilhado político do ex-presidente peronista neoliberal Carlos Menem (1989-1999), chegou a divergir com Kirchner ao opor-se ao projeto parlamentar de anulação das leis de anistia a militares acusados de crimes no regime militar e pedir um aumento das tarifas dos serviços públicos, como deseja o FMI (Fundo Monetário Internacional).

A reação do chefe de Estado foi afastar funcionários da secretaria de Esportes e Turismo, inclusive seu titular, Germán López, considerados em sua maioria homens de Scioli, numa demonstração de força que gerou novas interrogações nos meios políticos e na sociedade.

A imprensa já comentava que Scioli estava assumindo um poder paralelo, ao manter contatos permanentes com empresários. Alguns especularam que por trás de Scioli poderia estar a mão de Menem ou do ex-presidente Eduardo Duhalde (2002-2003), padrinho político de Kirchner.

A esse respeito, Sergio Groupierre, ''duhaldista'' demitido do cargo de coordenador de Planejamento Desportivo, disse à imprensa não acreditar em confronto entre Kirchner e Duhalde, que deu um apoio essencial à campanha presidencial.

Duhalde foi o inimigo declarado de Menem na luta interna do Partido Justicialista (PJ) e conseguiu levar à presidência seu protegido. Menem foi o mais votado no primeiro turno, mas desistiu do segundo, desanimado por pesquisas que antecipavam uma derrota categórica.

Uma aliada crítica do governo, a deputada de centro-esquerda, Elisa Carrió, disse à rádio Hit que Kirchner deve ''guardar as devidas proporções, porque se ainda não é uma crise, poderá vir a ser, e não se sabe como será resolvida''.

''Lembro que Scioli representou o menemismo e o banqueiro Raúl Moneta, acusado na comissão [parlamentar] de Lavagem de Dinheiro'', disse Carrió.

Scioli mergulhou em cheio esta quarta-feira na campanha do Partido Justicialista (peronista) às eleições para o governo na Província de Buenos Aires, pelas mãos da primeira candidata a deputada, Hilda ''Chiche'' Duhalde, esposa do ex-presidente.

''Sou uma pessoa de consenso'', disse o vice, sem dissipar as dúvidas sobre o final da crise, num momento em que a Argentina mantém uma crucial negociação com o Fundo Monetário Internacional, antes de completados três meses de governo.
 

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