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07/09/2003 - 09h12

Traumatizada pelo 11 de Setembro, NY procura ajuda psicológica

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ROBERTO DIAS
da Folha de S.Paulo

O medo da população não cede. A procura de ajuda psicológica cresce. As pessoas sofrem com problemas respiratórios e ainda descobrem que foram enganadas pelo governo. A economia passou de mal a pior. No buraco que restou, poucos sinais visíveis de mudança.

Dois anos após ter sido o alvo principal do maior ataque da história americana, Nova York padece com uma cicatriz não-curada, aberta quando dois aviões sequestrados foram usados para destruir as torres do World Trade Center.

O tamanho do trauma é dado por uma pesquisa divulgada na última semana: 69% dos nova-iorquinos acreditam que possam sofrer novo ataque terrorista em, no máximo, um ano. Já a persistência do trauma é mostrada por uma comparação: o número está em empate técnico com o verificado no ano passado, em pesquisa semelhante (75%). "O medo ainda está lá. Ele foi incorporado nas nossas vidas", explica Julie Weprin, do instituto Blum & Weprin, que fez o levantamento.

Ar impróprio

Um quinto da população se lembra dos ataques todos os dias. Mas uma parcela desconhecida ainda hoje sofre fisicamente por causa daquele 11 de setembro de 2001: a poeira que tomou a parte sul de Manhattan nos dias seguintes afetou o sistema respiratório de muitas pessoas que moravam ou trabalhavam na região.

A única coisa que se sabe é que o problema não é pequeno. Por causa disso, a prefeitura nova-iorquina lançou anteontem um programa pedindo a todos os que estavam lá naqueles dias que se registrem em um cadastro especial. Terão sua saúde monitorada pelos próximos 20 anos.

O pior, porém, é que a ação da prefeitura ocorre dias depois de os nova-iorquinos descobrirem que a Casa Branca manipulou um relatório sobre a qualidade do ar, de forma a incentivar que as pessoas voltassem a trabalhar na região nos dias seguintes.

"Quando a EPA [a agência ambiental americana] anunciou em 18 de setembro [de 2001] que era seguro respirar aquele ar, não havia dados suficientes para afirmar isso", diz um recém-divulgado relatório interno da agência. Meses depois do ataque, a EPA expôs ratos à poeira do Ground Zero. Comprovou que respirá-la não era nada saudável. Calcula-se que 200 mil pessoas o tenham feito.

Há indicações também de que o grupo diretamente afetado pelo ataque --como as famílias de vítimas-- passa por sérios problemas. O mais conhecido serviço público de aconselhamento psicológico da cidade viu o número de pedidos de ajuda pular de 3.000 para 5.800 mensais após o ataque. Só que, com o 11 de Setembro cada vez mais distante, o número não só não retrocedeu como continua a aumentar. A média deste ano está em 6.400.

"Isso não é surpresa para pessoas que estudam desastres. Para muitos das que foram diretamente afetadas, o primeiro ano é para lidar com necessidades básicas. Algumas têm de achar novos empregos, outras têm de reorientar sua vida, talvez tenham de lidar com advogados. Em algum ponto depois, reconhecem que, emocionalmente, ainda têm problema", diz John Draper, diretor da Lifenet, que opera o serviço.

Sobre a economia, sabia-se havia tempos que ela estava mal --na verdade, os atentados pioraram uma situação já ruim. A novidade é que o efeito foi ainda pior que o imaginado.

No primeiro aniversário do atentado, no ano passado, a Controladoria de Nova York calculara que os atentados teria sido responsáveis pelo desaparecimento de US$ 16 bilhões da economia local em 2002. Neste mês, apresentou a conta real: US$ 18 bilhões. A estimativa de perda para este ano pulou de US$ 19 bilhões para US$ 25 bilhões (mais de 5% do que seria o PIB nova-iorquino).

"Acredito que os efeitos do 11 de Setembro sejam piores que o estimado porque o sentimento de medo não foi embora", aponta John Tepper Marlin, economista-chefe da Controladoria, acrescentando que outros fatores, a seguir, agravaram a situação --cita as fraudes de Wall Street e a Guerra do Iraque.

Em sua opinião, a situação só será alterada depois que a cidade decidir o que fazer com a área do WTC. "Penso que os aspectos físicos e espirituais estarão resolvidos nos próximos meses, e 2004 trará recuperação para a cidade."

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