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15/10/2003 - 09h28

Teólogo diz que o papa "matou a vida na igreja"

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da France Presse, em Roma

O teólogo suíço Hans Kung, um dos mais críticos do pontificado de João Paulo 2º, acusou o papa de ter "matado a vida dentro da igreja", ao impor um sistema de governo "rígido e centralizado", com "somente proibições".

As críticas do conhecido teólogo foram expostas em uma entrevista ao jornal italiano "Corriere della Sera", por ocasião dos 25 anos da eleição ao trono de São Pedro de João Paulo 2º, no dia 16 de outubro de 1978.

"Sob este papa se impôs um sistema de governo rígido e centralizado, com uma multiplicação de obrigações e proibições, que mataram a vida dentro da Igreja", afirmou Kung, 75, que reside há vários anos na Alemanha.

O célebre "dissidente" da Igreja Católica, cujas posições progressistas defendeu durante o Concílio Vaticano 2º, realizado entre 1962 e 1965 para renovar as estruturas da Igreja, acusou João Paulo 2º de ter dado amplo espaço à Cúria, ou seja, aos órgãos centrais de governo, durante seu longo pontificado.

Credibilidade

"A credibilidade da igreja, que chegou a seu nível mais alto com o Papa João 23, hoje em dia caiu a seu nível mais baixo, devido à política da Cúria", assegurou Kung.

"Para a Igreja Católica, este pontificado foi um desastre. Um papa decaído, que não cede seu poder, embora possa fazê-lo, é para muitos o símbolo de uma Igreja oxidada e envelhecida, que se esconde atrás de uma fachada resplandecente", afirmou, ao fazer um balanço do quarto pontificado mais longo da história." O papa deixa como herança uma série de bispos ultraconservadores, incapazes e não amados, nomeados por ele ou por seu aparato", disse.

O teólogo elogiou, contudo, a "política externa" de João Paulo 2º, principalmente ao defender a paz no mundo.

"O papa se pronunciou pelo diálogo entre as culturas e as religiões, por níveis éticos comuns e principalmente pela paz no mundo. Seu apelo claro e firme contra a guerra no Iraque merece o aplauso maior", reconheceu.

Menos apreciadas são as posições de João Paulo 2º sobre o celibato dos sacerdotes e a ordenação de mulheres.

"Que a ordenação das mulheres esteja contra a vontade de Deus é uma opinião sem fundamentos, sobretudo levando-se em conta o valor que Jesus dava às mulheres e a posição da Igreja nesse campo em seus inícios", afirmou.

Culto da personalidade

Kung criticou também o culto da personalidade alimentado durante seu pontificado, qualificando-o de "escândalo" e propôs uma maior colegialidade da igreja, envolvendo as igrejas locais na tomada de decisões.

"O absolutismo medieval do atual pontífice é anacrônico", acrescentou.

Para o teólogo progressista, que criticou sempre o princípio da infalibilidade do papa, a igreja está perdendo seus fiéis, principalmente na Europa.

"Metade das paróquias européias não tem padre", lamentou o teólogo.

"Muitas mulheres se afastaram da igreja pelas posições do papa sobre a concepção e a proibição da ordenação das mulheres, erradamente baseada na vontade divina", disse.

Sobre o futuro Papa, Kung considera que "a nacionalidade será indiferente" e espera que o próximo pontífice seja "menos ligado ao Opus Dei".

"Sem uma mudança, a Igreja se dirigirá a toda velocidade para a rua cega da romanização", disse.

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