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19/10/2003
-
02h31
FABIANO MAISONNAVE
da Folha de S.Paulo, em La Paz
Um dia após a sua posse, o novo presidente da Bolívia, Carlos Mesa, 50, afirmou ontem que, dada a situação crítica na qual assumiu o país, o único risco que seu governo corre é o do "naufrágio total".
"O único risco que podemos correr é o de naufrágio total. Isso está absolutamente claro. Se a Bolívia perder essa oportunidade, se o presidente da Bolívia, sua equipe de trabalho, o Parlamento e a sociedade não entenderem que estamos escolhendo nosso destino, poderemos entrar rapidamente numa grave crise", disse Mesa, em sua primeira entrevista coletiva à imprensa estrangeira.
Mesa assumiu o governo anteontem à noite, depois que o Congresso aceitou a renúncia do impopular ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, alvo de intensos protestos nos últimas semanas, que deixaram ao menos 74 mortos e praticamente paralisaram o país.
"O desafio fundamental é saber se o peso dos mortos que nós temos nas costas e se o peso da profunda crise são fortes o suficiente para que mudemos nossos critérios. Não posso apostar para ganhar tudo, mas é a única aposta que tenho", disse.
Mesa, que era vice, disse que o referendo popular que pretende realizar sobre a venda de gás ao exterior vai tratar da aprovação do projeto e, caso seja aceito, por onde deve ser a exportação. O plano inicial era que fosse via Chile, alvo inicial dos protestos, porque os chilenos tiraram da Bolívia a saída para o mar durante guerra em 1879.
Mesa começou seu primeiro dia de trabalho em encontros com políticos e assessores. O assunto principal é a formação do novo gabinete, que deve ser anunciado apenas hoje à tarde. Segundo a agência de notícias France Presse, Mesa deve incluir indígenas no novo gabinete.
Na entrevista coletiva, ele voltou a afirmar que formará um gabinete sem a participação de partidos políticos --ele não tem filiação partidária.
Constituinte
Dono de uma rede de TV, onde atuava como comentarista, e historiador, Mesa também prometeu criar condições para a convocação de uma nova Assembléia Constituinte. "A convocatória será feita num curto prazo", afirmou no discurso de posse.
Estavam presentes à cerimônia Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o enviado do governo argentino, Eduardo Sguiglia, que foram muito aplaudidos pelos congressistas.
O presidente brasileiro já convidou Mesa para visitar o Brasil. Lula conversou por telefone com o colega ontem à tarde, e ouviu agradecimentos pelo apoio do país durante a crise que levou Sánchez de Lozada a renunciar.
O relato foi feito pelo chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho. Segundo ele, Mesa afirmou a Lula que submeterá a polêmica proposta de exportação de gás para os EUA a um processo "de concertação nacional".
Os primeiros passos foram recebidos de forma diferente pelos líderes dos protestos, que começaram exigindo o fim dos planos de exportar gás natural, mas, depois da violenta repressão na semana passada, se concentraram em pedir a renúncia de Sánchez de Lozada.
O líder aymará Felipe Quispe,também deputado, disse que os camponeses "não levantarão os bloqueios que existem há mais de um mês no altiplano andino".
"Não vamos deixar de marchar,não vamos abandonar a greve de fome até que Mesa atenda aos mais de 70 pontos que exigimos", disse. Segundo ele, o novo presidente "terá os mesmos problemas que Sánchez de Lozada, porque não é um bom político e não poderá solucionar a crise boliviana".
Já a Central dos Trabalhadores da Bolívia (CTB), com importante presença em La Paz, anunciou um "recuo estratégico" e suspendeu a greve geral.
O principal opositor e também indígena, Evo Morales, presidente do MAS (Movimento ao Socialismo), fez as declarações mais moderadas. "Darei tempo a Mesa para se organizar e atender à demanda das organizações sociais."
Normalização
Na capital, La Paz, os carros e o transporte público voltaram a circular ontem pela primeira vez nos últimos dias. O fornecimento de gasolina e gás de cozinha deve ser normalizado até hoje.
Há bastante expectativa para a reabertura do aeroporto, fechado desde o último domingo. A Varig anunciou que retomaria ontem seus vôos para La Paz. Desde cedo, centenas de turistas estrangeiros formavam filas diante dos escritórios de companhias aéreas. A avenida que liga La Paz ao aeroporto, em El Alto (a 12 km da capital), foi reaberta após seis dias.
O momento mais emocionante de ontem foi a visita do presidente Mesa a El Alto, epicentro dos conflitos -26 pessoas morreram ali no domingo passado.
Em discurso de 20 minutos diante de milhares de pessoas, ele afirmou: "Meu compromisso não é o esquecimento, nem a vingança, mas a justiça".
Anteontem à noite, milhares de pessoas comemoraram a renúncia no centro de La Paz. Várias cargas de dinamite, trazidas pelos mineiros, foram explodidas entre os prédios históricos da cidade.
No fim de ontem, a maioria dos mineiros e camponeses já haviam deixado a cidade em ônibus ou em cima de caminhões.
Novo presidente da Bolívia vê risco de "naufrágio total"
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da Folha de S.Paulo, em La Paz
Um dia após a sua posse, o novo presidente da Bolívia, Carlos Mesa, 50, afirmou ontem que, dada a situação crítica na qual assumiu o país, o único risco que seu governo corre é o do "naufrágio total".
"O único risco que podemos correr é o de naufrágio total. Isso está absolutamente claro. Se a Bolívia perder essa oportunidade, se o presidente da Bolívia, sua equipe de trabalho, o Parlamento e a sociedade não entenderem que estamos escolhendo nosso destino, poderemos entrar rapidamente numa grave crise", disse Mesa, em sua primeira entrevista coletiva à imprensa estrangeira.
Mesa assumiu o governo anteontem à noite, depois que o Congresso aceitou a renúncia do impopular ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, alvo de intensos protestos nos últimas semanas, que deixaram ao menos 74 mortos e praticamente paralisaram o país.
"O desafio fundamental é saber se o peso dos mortos que nós temos nas costas e se o peso da profunda crise são fortes o suficiente para que mudemos nossos critérios. Não posso apostar para ganhar tudo, mas é a única aposta que tenho", disse.
Mesa, que era vice, disse que o referendo popular que pretende realizar sobre a venda de gás ao exterior vai tratar da aprovação do projeto e, caso seja aceito, por onde deve ser a exportação. O plano inicial era que fosse via Chile, alvo inicial dos protestos, porque os chilenos tiraram da Bolívia a saída para o mar durante guerra em 1879.
Mesa começou seu primeiro dia de trabalho em encontros com políticos e assessores. O assunto principal é a formação do novo gabinete, que deve ser anunciado apenas hoje à tarde. Segundo a agência de notícias France Presse, Mesa deve incluir indígenas no novo gabinete.
Na entrevista coletiva, ele voltou a afirmar que formará um gabinete sem a participação de partidos políticos --ele não tem filiação partidária.
Constituinte
Dono de uma rede de TV, onde atuava como comentarista, e historiador, Mesa também prometeu criar condições para a convocação de uma nova Assembléia Constituinte. "A convocatória será feita num curto prazo", afirmou no discurso de posse.
Estavam presentes à cerimônia Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o enviado do governo argentino, Eduardo Sguiglia, que foram muito aplaudidos pelos congressistas.
O presidente brasileiro já convidou Mesa para visitar o Brasil. Lula conversou por telefone com o colega ontem à tarde, e ouviu agradecimentos pelo apoio do país durante a crise que levou Sánchez de Lozada a renunciar.
O relato foi feito pelo chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho. Segundo ele, Mesa afirmou a Lula que submeterá a polêmica proposta de exportação de gás para os EUA a um processo "de concertação nacional".
Os primeiros passos foram recebidos de forma diferente pelos líderes dos protestos, que começaram exigindo o fim dos planos de exportar gás natural, mas, depois da violenta repressão na semana passada, se concentraram em pedir a renúncia de Sánchez de Lozada.
O líder aymará Felipe Quispe,também deputado, disse que os camponeses "não levantarão os bloqueios que existem há mais de um mês no altiplano andino".
"Não vamos deixar de marchar,não vamos abandonar a greve de fome até que Mesa atenda aos mais de 70 pontos que exigimos", disse. Segundo ele, o novo presidente "terá os mesmos problemas que Sánchez de Lozada, porque não é um bom político e não poderá solucionar a crise boliviana".
Já a Central dos Trabalhadores da Bolívia (CTB), com importante presença em La Paz, anunciou um "recuo estratégico" e suspendeu a greve geral.
O principal opositor e também indígena, Evo Morales, presidente do MAS (Movimento ao Socialismo), fez as declarações mais moderadas. "Darei tempo a Mesa para se organizar e atender à demanda das organizações sociais."
Normalização
Na capital, La Paz, os carros e o transporte público voltaram a circular ontem pela primeira vez nos últimos dias. O fornecimento de gasolina e gás de cozinha deve ser normalizado até hoje.
Há bastante expectativa para a reabertura do aeroporto, fechado desde o último domingo. A Varig anunciou que retomaria ontem seus vôos para La Paz. Desde cedo, centenas de turistas estrangeiros formavam filas diante dos escritórios de companhias aéreas. A avenida que liga La Paz ao aeroporto, em El Alto (a 12 km da capital), foi reaberta após seis dias.
O momento mais emocionante de ontem foi a visita do presidente Mesa a El Alto, epicentro dos conflitos -26 pessoas morreram ali no domingo passado.
Em discurso de 20 minutos diante de milhares de pessoas, ele afirmou: "Meu compromisso não é o esquecimento, nem a vingança, mas a justiça".
Anteontem à noite, milhares de pessoas comemoraram a renúncia no centro de La Paz. Várias cargas de dinamite, trazidas pelos mineiros, foram explodidas entre os prédios históricos da cidade.
No fim de ontem, a maioria dos mineiros e camponeses já haviam deixado a cidade em ônibus ou em cima de caminhões.
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