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08/11/2009 - 09h40

Com repúdio à ditadura, comunistas de hoje conquistam alemães ocidentais

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MÁRCIA SOMAN MORAES
da Folha Online

O processo que levou à queda do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989 também afetou os fundamentos do Partido Socialista Unitário (PSU) que governava a então República Democrática da Alemanha (RDA). Em poucos meses, a legenda perdeu cerca de 95% dos 2,3 milhões de filiados, reformulou-se com as novas ideias de abertura e reestruturação e, 20 anos depois, com políticas populistas, um claro repúdio ao autoritarismo e um novo nome, tornou-se uma das maiores forças políticas do país.

A primeira tentativa de salvar parte do que foi o PSU ocorreu em um congresso partidário especial em dezembro de 1989, apenas um mês após a queda do Muro de Berlim e a evidente ruína do sistema político partidário socialista que pregavam.

Winfried Rothermel/AP
Alemães com roupas tradicionais da Floresta Negra votam nas eleições de 2009
Alemães com roupas tradicionais da Floresta Negra votam nas eleições de 2009

Sem os principais nomes do Comitê Central, que efetivamente governava a RDA, o partido adotou um programa de reforma democrática. Poucos meses depois, em fevereiro de 1990, decidiu adotar o nome Partido do Socialismo Democrático (PSD) para afastar-se da desacreditada ideologia comunista.

"A partir daí, o partido assumiu o papel da esquerda tradicional e afastou de vez a imagem daquele regime autoritário que governou a RDA. E o resultado nas urnas foi a ascensão constante", afirma Tim Spier, especialista em partidos políticos da Universidade de Dusseldorf, na Alemanha.

Quando a Alemanha reunificada realizou sua primeira votação nacional, em 1990, o PSD obteve apenas 2,4% dos votos e, por um acordo político, 17 cadeiras no Parlamento alemão (Bundestag). Quatro anos depois, os números saltaram para 4,4% dos votos e 30 parlamentares. Em 1998, o partido já contava com 5,1% dos votos.

"Seus eleitores eram as milhões de pessoas da Alemanha oriental que estavam ligadas de alguma forma ao velho partido socialista. Muitos deles foram os perdedores da queda do regime, sindicalistas e outras pessoas que tinham um bom nível de vida no leste e que não queriam apoiar os partidos ocidentais", afirma Spier.

Os votos do PSD concentravam-se no leste também porque o partido defendia um programa próprio para esta metade do país, de combate ao desemprego e incentivo à economia prejudicada pelos anos passados sob o comando socialista e sem a massiva ajuda americana para a reconstrução pós-guerra.

Apesar da evidente ascensão, contudo, o partido continuava a enfrentar os efeitos do legado negativo do regime da Alemanha oriental. Com poucos filiados e votos na parte ocidental, o PSD decidiu apostar em uma aliança com o recém-formado Alternativa Eleitoral para Trabalho e Justiça Social (WASG, na sigla em alemão).

A Esquerda

Com a liderança de Oskar Lafontaine, ex-líder dos social-democratas e figura popular na política alemã, o partido adotou o nome de A Esquerda-PSD (a sigla era opcional na campanha no ocidente onde muitos eleitores ainda vinham o partido com suspeita).

Heribert Proepper13out.99/AP
Oskar Lafontaine lança "O Coração Bate à Esquerda"; ele liderou o A Esquerda
Oskar Lafontaine lança "O Coração Bate à Esquerda"; ele liderou o A Esquerda

Segundo Ingo Juchler, cientista político da Universidade de Augsburg e autor do livro "Democracia e o Discernimento Político", A Esquerda assumiu o vácuo criado pela a ida dos social-democratas para o centro em busca da maioria dos eleitores alemães e de uma coalizão governista.

"Com a nova configuração e suas políticas populares, como a retirada das tropas do Afeganistão e a defesa do salário mínimo, o partido começou a se afastar da imagem de partido do leste e ampliou seu eleitorado para os alemães do ocidente", afirma Juchler.

Com as pesquisas indicando até 12% dos votos, os partidos tradicionais criticaram o programa populista e demagogo e acusaram os esquerdistas de aproximarem-se dos neonazistas. A campanha, contudo, não surtiu efeito e A Esquerda transformou-se no quarto maior partido alemão no Parlamento, com 8,7% dos votos e 53 cadeiras.

O bom resultado impulsionou o diálogo pela fusão e a coalizão, agora nomeada apenas A Esquerda, foi oficializada em congresso de 16 de junho de 2007. Dois anos depois, na eleição de 27 de setembro deste ano, A Esquerda ganhou 11,9% dos votos e tornou-se a segunda maior força política de oposição --posição alcançada também pelo mau resultado dos social-democratas que perderam a coalizão governista com a União Democrata-Cristã (CDU) da chanceler reeleita Angela Merkel.

Oposição ativa

Apesar da herança histórica, A Esquerda ainda não adotou seu próprio programa político e é marcada pela presença de diferentes facções --dos comunistas aos social-democratas do centro-esquerda. A falta de uma agenda clara, contudo, não deve ser empecilho para o contínuo crescimento nas urnas.

"A maioria dos alemães não procura um programa detalhado político e sim uma campanha com claras políticas públicas", afirma Uwe Wagshal, cientista político da Universidade de Heidelberg.

A coalizão promete um mandato ativo e engajado e diz representar o único partido verdadeiramente de oposição, já que os social-democratas acabaram de vir de uma coalizão governista e o Partido Verde adotar posições próximas às do governo.

Para os especialistas, resta do antigo PSU apenas um pequeno círculo de comunistas radicais --conhecidos como plataforma comunista-- cujas ideias têm pouca influência na agenda da A Esquerda.

"São um grupo menor, que algumas vezes trazem polêmicas ao defender o legado do partido socialista. Mas o tom é de rejeição a qualquer extremismo e a defesa indiscutível da democracia e liberdade", explica Spier.

"Eles não querem um regime comunista nos moldes da RDA, mas ainda defendem o socialismo como uma opção democrática de governo", resume Wagshal.

 

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