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05/11/2009 - 18h41

Ex-chanceler brasileiro diz que governo falhou em Honduras

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BRUNO MARFINATI
da Reuters, em São Paulo

O governo brasileiro tentou protagonizar uma solução para a crise em Honduras, mas falhou devido a um cálculo mal feito em relação ao presidente hondurenho deposto, Manuel Zelaya, afirmou o ex-chanceler brasileiro Luiz Felipe Lampreia, nesta quinta-feira.

Zelaya foi deposto por militares e expulso do país em 28 de junho sob acusação de tentar realizar um referendo para mudar a Constituição e buscar sua reeleição. Um governo interino, liderado por Roberto Micheletti, assumiu então o poder em Honduras, que passou a não ser reconhecido pela comunidade internacional. "Zelaya é uma pessoa que dificilmente é controlável e que causou logo um alvoroço imenso e criou uma situação muito radicalizada, muito tensa", afirmou o ex-chanceler à Reuters.

Enquanto Zelaya esteve exilado no exterior, após a deposição, procurando apoio para voltar à Presidência, o Brasil tentou conquistar posição de destaque na condução das negociações. Mas a volta clandestina do presidente deposto a Honduras e seu abrigo na embaixada brasileira, em Tegucigalpa, levantaram suspeitas na comunidade internacional de que o país havia contribuído para seu retorno.

Por conta disso, o governo brasileiro teve seu papel minimizado, passando de possível intermediador a um dos atores da pior crise na América Central em décadas. "Ao fornecer uma plataforma política para o Zelaya, tomamos um partido, entramos diretamente nessa querela política que está se passando lá", disse.

Na semana passada, uma missão de diplomatas dos Estados Unidos desembarcou em Honduras para intermediar aquela que seria a última chance de se chegar a um acordo. As tentativas anteriores da Organização dos Estados Americanos (OEA) fracassaram.

Uma nova eleição presidencial já havia sido marcada antes do golpe, para 29 de novembro, porém a comunidade internacional ameaça não reconhecer o resultado se Zelaya não for restituído no cargo antes do pleito. Representantes de Micheletti e do presidente deposto têm mantido uma série de diálogos para tentar acabar com a crise, mas o impasse está na restituição.

Sob pressão da missão americana, liderada pelo subsecretário de Estado americano para o Hemisfério Ocidental, Tom Shannon, as partes concordaram em assinar um acordo e deixar que o Congresso decida sobre o futuro de Zelaya, e não a Suprema Corte, como exigia o governo interino.

O avanço nas negociações em Honduras reafirma a influência e o poder de persuasão dos EUA na região, seja com o uso de estratégicas políticas, como no caso hondurenho, seja com o uso de forças, como na invasão da Guatemala, nos anos 1950.

O acordo mediado pelos EUA, no entanto, não garante o fim do impasse hondurenho que já dura quatro meses. Contudo, Lampreia acredita que o Brasil poderá sair bem da situação, apesar de não ter contribuído para resolver o problema. "Se houver uma solução nas linhas do que foi negociado pelo embaixador Tom Shannon, o Brasil sai relativamente bem [...] os americanos agora que entraram nesse circuito não vão deixar de levar a questão até o final, eles não iam interferir na questão e depois se retirar."

Fiscal

Lampreia, que foi ministro das Relações Exteriores no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2001), disse que o Brasil nunca teve prioridade diplomática na América Central, o que explica o envolvimento involuntário e forçado na questão hondurenha. "É uma zona onde nós não tínhamos realmente cacife, influência diplomática para ter um peso importante", disse o ex-ministro. Ele acrescentou que os EUA tinham de mostrar que continuavam a ter uma grande influência na região.

"[Os EUA] precisavam mostrar que não estavam indiferentes e que tinham uma política para o continente, uma atuação que não era de distanciamento completo."

Para Lampreia, em uma região cada vez mais complexa, o Brasil precisa adotar uma política externa "cautelosa", mas ainda tendo por base democracia, liberdade e direitos humanos. "Ela [política externa brasileira] continua tendo uma base de princípios, ela é uma política cautelosa porque está navegando entre situações cada vez mais radicalizadas, entre Venezuela e Colômbia, com praticamente uma boa parte dos vizinhos de Chávez e mesmo a situação na Bolívia e no Equador."

Para o diplomata, o Brasil tem interesse em se tornar uma espécie de "fiscal da democracia" no continente. "Por causa disso, creio que ela tem que ser necessariamente um tanto cautelosa."

Inserção

Lampreia reconheceu que os governos de FHC e de Luiz Inácio Lula da Silva trabalharam para uma inserção mais forte do Brasil no centro do poder decisório internacional, mas que durante o tempo em que foi chanceler a atuação diplomática teve uma "ação limitada".

"O governo FHC teve o seu tempo histórico num momento muito menos favorável do que o governo Lula, no momento de crises econômicas que se abateram, inclusive, sobre o país, que nos davam muito mais vulnerabilidade."

Para o ex-ministro, isso fez com que, de certo modo, o governo de FHC preparasse "o terreno, como foi também o caso da política externa, para depois o governo Lula poder atuar com muito mais confiança e muito mais força dentro de um cenário muito mais favorável."

Comentários dos leitores
Luciano Filgueiras (94) 02/02/2010 17h52
Luciano Filgueiras (94) 02/02/2010 17h52
Sobre o comentário do nosso estimado Diplomata, dizendo ele, que o nosso país inspira o desarmamento mundial; apenas brinco: "Nosso Amorim é um gozador!... sem opinião
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sebastião chaves (9) 02/02/2010 15h19
sebastião chaves (9) 02/02/2010 15h19
como tem pirado escrevendo e enviando os seus comentários. os textos chegam ser manifestações de humorismo involuntário.
Peço àqueles que discordam das bobagens escritas, sejam condescentes com os pirados da silva.
Pai, perdoi, eles não sabem o que escrevem. Descansem em paz, pirados.
sem opinião
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John Reed (41) 02/02/2010 03h21
John Reed (41) 02/02/2010 03h21
A realidade é inexorável.
Ideologias fajutas não passam de blá-blá-blá porque são míopes para enxergar qualquer coisa. Mas certamente não querem ver nada porque acham que já pensaram em tudo. Aí quando a realidade contraria a 'verdade' ideológica as coisas começam a ficar violentas.
Já viu uma criança contrariada? Pois é. Parece que o brinquedo favorito do Coronel Presidente Hugo Chávez se recusa a funcionar como ele deseja. E isso acaba refletindo em alguns nesse fórum, que contrariados produzem textos violentos tanto no estilo quanto no conteúdo.
Uma política carioca, médica, disse (isso ninguém me contou), no ocaso dos países comunista pós Muro, que o ideal e modelo de país a ser seguido eram os da Albânia. Caramba! Isso tem 20 anos.
É pra dar medo: o que a crença em ideologias ou dogmas pode fazer com uma pessoa culta e inteligente. Como já disse, a realidade é desagradavelmente real para alguns.
2 opiniões
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